Na última semana do terceiro trimestre de 2016 os mercados de risco tiveram volatilidade alta respondendo ao primeiro debate presidencial nos Estados Unidos, às declarações dos membros da OPEP sobre corte de produção e às especulações sobre a necessidade
Na última semana do terceiro trimestre de 2016 os mercados de risco tiveram volatilidade alta respondendo ao primeiro debate presidencial nos Estados Unidos, às declarações dos membros da OPEP sobre corte de produção e às especulações sobre a necessidade de medidas de socorro ao maior branco alemão, o Deutsche Bank (DB).
Com Hillary Clinton se saindo melhor do que Donald Trump no debate televisivo o mercado acionário reagiu positivamente, dando as indicações do receio ao candidato Republicano. Em reunião extra-oficial a OPEP disse que cortará em até 1 milhão de barris por dia a produção entre seus membros, eventualmente dando espaço para os não-membros respirarem. Já os rumores do Deutsche oscilaram entre notícias na quinta-feira dizendo que clientes estavam sacando reservas em excesso que tinham com o banco e na sexta-feira com informações da instituição ter chegado a um acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos para reduzir uma multa de 14 bilhões de dólares para 5.4 bilhões.
Os principais índices acionários do mundo acabaram ficando de lado nos últimos cinco dias enquanto os três mais seguidos índices de commodities subiram puxados pelos desempenhos das matérias-primas energéticas.
O café em Londres teve o maior fechamento em dezenove meses e Nova Iorque tentou romper novamente os US$ 160.00 centavos, mas não conseguiu. As performances distintas parecem naturais de se absorver dado o quadro diferente das duas variedades: a primeira começando um ano-safra deficitário e a segunda no curso de um superávit. Curiosamente percebemos um volume de compra de proteção de baixa, via o mercado de opções, maior nesta semana, justamente quando parece que virou consenso entre os participantes-naturais que qualquer baixa do terminal é uma grande oportunidade de compra – um perigo!
É difícil defender movimentos de altas mais agudos a partir dos atuais patamares sem acontecer uma desvalorização do dólar, incluindo aqui o Real e o Peso Colombiano mais forte, ou eventuais problemas climáticos que comprometam a produção brasileira. Digo isto porque os preços estão em um patamar suficientemente “altos” para estimular o trato e investimentos na produção entre os países que produzem café com produtividades crescentes. Um belo exemplo é Honduras, que depois de passar por problemas com “la roya” renovou seu parque e anunciou esta semana o prognóstico de recorde para o atua ciclo de produção e exportação, 7.2 milhões de sacas e 6.5 milhões de sacas, respectivamente. A Colômbia provavelmente não atingiu o ápice de produção e, portanto não seria surpresa ter uma produção maior este ano. Uganda na semana também declarou que vai substituir seus cafezais mirando quintuplicar a produção em alguns anos. Claro que entre intenção e realização há um longo caminho a ser percorrido, mas ninguém estaria fazendo planejamento para aumentar produção com o objetivo de perder dinheiro.
No Brasil, que é o grande fiel da balança da oferta mundial, as atenções para o volume de chuvas que vão cair nos cafezais e a continuação das precipitações devem ser os próximos capítulos para definir se Nova Iorque rompe o intervalo de negociação entre US$ 140.00 e US$ 160.00 centavos, ou não.
Pelo que demonstrou o último relatório do CFTC os comerciais desistiram de esperar por quedas maiores da bolsa, dado que se viu um incremento de sua posição bruto-comprada em 5,954 contratos entre os dias 21 e 27 de setembro – quando o contrato “C” oscilou entre US$ 160.90 e US$ 149.00 centavos por libra. A ponta vendida também aumentou, estando agora em 141,275 lotes, ou 10 mil a menos do maior nível que vimos desde 2014 – para informação: o recorde histórico é de 176 mil contratos em 19 de fevereiro de 2008.
A movimentação do físico foi menor do que a semana anterior no Brasil e melhor para quem tem café ou acesso ao mercado a termo em algumas origens. Os diferenciais em geral se mantiveram virtualmente inalterados.
Falando em diferenciais é importante salientar que os mesmos, de forma geral, não estão indicando uma preocupação com escassez, seja dos vendedores encarecendo-os ou dos compradores estando interessados em aumentar suas ofertas. É inevitável que olhemos para o basis como indicação de temperatura do mercado, e este não indica que está tão “quente” como os futuros – ou como os altistas dizem.
As exportações do Vietnã no mês de setembro ficaram em 2 milhões de sacas, acumulando embarques de 29 milhões no atual ano-safra, fruto de uma estratégia de reter estoques e esperar de preços altos que só funcionou graças a desgraça dos produtores do conilon brasileiro. A safra de 16/17 tem analistas esperando um volume de 25 a 29 milhões de sacas, uma diferença que determinará também se os preços romperão 2,400 dólares por tonelada ou ficarão limitados em subir mais dos atuais níveis.
Os estoques europeus, segundo a European Coffee Association, caíram 217.8 mil sacas em julho, totalizando 12.15 milhões de sacas, acima das 11.91 milhões de sacas de um ano atrás. No Japão os inventários em agosto ficaram em 3.51 milhões de sacas, 61.9 mil sacas a menos do que julho, mas maiores do que as 3.37 milhões de sacas de agosto de 2015.
A semana deve ser agitada, não apenas pelo começo do último trimestre do ano, que emudece os “barulhos” de defesas de posições dos altistas, como em função das chuvas que chegam nos cafezais brasileiros. Há também os novos capítulos no cenário macroeconômico sobre o DB e o FED ditando o rumo do dólar americano.
Enquanto isto a indústria do café vai se reunir em Genebra para o Coffee Dinner que sempre é um sucesso de atendimento e de idéias. Aos que estão indo espero encontra-los por lá.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting