Estoques de café de produtores no Vietnã caem em 50%
Cada vez que as políticas brasileiras tomam um novo rumo, os produtores de café decidem se vendem a saca de café. A queda nos estoques de café do Vietnã novamente está destacando a relação próxima entre a volátil moeda brasileira e as exportações do rival no setor de café no outro lado do mundo.
Os estoques de café mantidos pelas fazendas vietnamitas caíram em 50% com relação à média sazonal devido ao forte aumento nas exportações na primeira metade do ano, de acordo com exportadores e estatísticas do governo. Esse aumento foi impulsionado pelo fato de os produtores terem buscado aproveitar o aumento impulsionado pela valorização do Real brasileiro devido às expectativas referentes ao impeachment da presidente, Dilma Rousseff.
Os produtores no Vietnã agora mantêm somente cerca de 10% de sua colheita total de 2015/2016 devido às vendas recentes dos grãos à medida que o mercado aumentou, de acordo com Le Hung Anh, diretor executivo da principal exportadora, Minh Anh Coffee Co., na província de Dak Lak, maior área produtora de café do Vietnã. Em um ano típico, os produtores manteriam 20% de sua colheita nessa época do ano, disse Anh.
A atual safra de café do Vietnã, que termina em setembro, deverá ser de 1,758 milhão de toneladas, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Aos preços atuais, 10% da atual safra seriam equivalentes a aproximadamente US$ 323 milhões.
Esses estoques baixos são resultado de um aumento de 40% nas exportações na primeira metade de 2016 comparado com o mesmo período do ano anterior, de acordo com estatísticas oficiais do país. “Os preços estavam muito baixos no começo da safra, impulsionando os produtores a segurar seus grãos, mas eles venderam muito nos últimos dois meses devido aos maiores preços”, disse Anh.
A queda é ainda maior comparado com a última safra, quando os produtores mantiveram grandes estoques de grãos nos armazéns, esperando preços maiores. Na mesma época do ano passado, os produtores estavam segurando cerca de 25% de seus grãos, disse ele.
Apesar da recente venda, o mercado de café robusta, comercializado em Londres, agora aumentou para os maiores valores em um ano. Os contratos contínuos para robusta aumentaram quase 12% no mês passado e 22% desde que começou o ano.
Os comerciantes e analistas disseram que o mercado de robusta comercializado em Londres, menor, tem sido impulsionado para cima pelo mercado de café arábica comercializado em Nova Iorque. Nesse mercado, os preços aumentaram em 20% desde o começo do ano, apesar das expectativas de que o Brasil produzirá uma colheita recorde de arábica.
Esse ganho é em grande parte devido à valorização de 22% no Real brasileiro versus o dólar nesse ano devido às expectativas de que a presidente, Dilma Rousseff, sofrerá impeachment, coincidindo com um maior apetite por commodities de investidores especulativos, de acordo com analistas.
No mercado físico, esses aumentos são um sinal da relação próxima entre a moeda brasileira volátil e as decisões tomadas pelos produtores e comerciantes no Vietnã.
O Brasil é o maior produtor mundial de café e o segundo maior produtor de robusta. Como resultado, o fortalecimento da moeda contra o dólar pode encorajar ou não as exportações do país, pressionando os preços mundiais do café para cima ou para baixo.
No ano passado, a desvalorização do Real em mais de 30% contra o dólar teve efeito oposto, estimulando os produtores vietnamitas a segurar os grãos, pressionando os premiums para centenas de dólares acima do preço de Londres e impulsionando alguns produtores a mudar da produção de café para pimenta preta em busca de melhores retornos.
A moeda não foi o único fator do aumento. O clima seco, particularmente em importantes regiões produtoras no Brasil e os influxos especulativos do dinheiro de volta às commodities também ajudaram no aumento dos preços, de acordo com analistas e comerciantes. Porém, devido à forte colheita de arábica no Brasil, o café no geral deverá ter um excedente, embora o impacto do clima seco na colheita do Vietnã deva ser silenciado. “Ainda há café suficiente para lidar com o déficit [de robusta]”, disse o diretor da Société Genérale, Rodrigo Costa.