José Rodrigues, para o Valor
22/05/2006
“Desde criança ouço falar que se cada chinês tomar uma xícara de café por dia, o consumo vai aumentar em proporção gigantesca e favorecer a exportação brasileira. Mas se não levarmos o café para o chinês tomar, ele não virá ao nosso país para essa finalidade”.
Esta simples colocação explica a abertura de uma segunda loja da Cooxupé, cooperativa de Guaxupé (sul de Minas Gerais), na China nos próximos dois meses. Localizadas na cidade de Xi’An, que foi capital do Império da China por 200 anos e hoje tem 5 milhões de habitantes, as lojas têm finalidades prospectivas.
“Quando vier a demanda de café verde, nós sairemos na frente”, diz Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé. Depois da segunda loja, a meta é explorar franquias com a marca Cafechocolat. A China, que também produz e exporta café em pequenas quantidades, importou, em 2005, apenas o equivalente a 250 mil sacas de café verde. O país tem 25% da população mundial, mas consome menos de 0,5% da produção de café do planeta.
Na liderança do ranking das cooperativas de café do país, com 10.600 cooperados e faturamento anual da ordem de US$ 150 milhões nas exportações do grão, a Cooxupé instalou a primeira loja em Xi’An em outubro de 2005, em um shopping center cercada por quatro cinemas.
Na divisão de riscos, associou-se à belga
CPE Exibition, especializada na promoção e montagem de feiras, e ao grupo chinês
FED Import & Export. Sob o pressuposto de que “o café não paga a conta sozinho”, na definição de Joaquim Libânio Ferreira Leite, diretor de exportação da cooperativa mineira, a loja oferece cafés em diversas modalidades, juntamente com chocolate, também em diferentes misturas.
O chocolate é de origem belga, considerado um dos melhores do mundo. O café brasileiro, originário do sul e do cerrado mineiro, vai em grão verde, no padrão Prima Qualitá, o melhor da Cooxupé.
A segunda loja decorre de lições tiradas da primeira. Conta Joaquim Libânio que, embora haja quatro cinemas em torno, o chinês não os freqüenta com intensidade, a não ser nos fins de semana. Em dias de bom movimento, a loja fatura o equivalente a US$ 300, incluídas as vendas de chocolates – e com a xícara de café a um custo médio de US$ 2,00. A abertura de uma nova unidade será em via pública de grande movimento de pedestres, expõe o diretor.
Os investimentos, até aqui, são da ordem de 150 mil euros, divididos entre os três participantes do negócio, que agora passam a apostar nas repercussões da Copa do Mundo. “No fim deste mês, iniciaremos uma campanha publicitária. Entre outros veículos, uma revista que é colocada no assento de trás dos táxis conterá a propaganda do café brasileiro, com figuras de campo e jogadores com as cores do Brasil, logo oficial e endereço da Cooxupé na China”, revela Libânio. Para esse fim, a cooperativa obteve aporte de US$ 200 mil originários do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé).
A estratégia da cooperativa, de acordo com seu diretor, não é a de obter rentabilidade a curto prazo. A pretensão é que resultados superavitários venham em dois anos. “Agora, o mais importante é saber que o chinês está gostando do nosso café e da mistura com chocolate. Além disso, estamos fazendo propaganda do café brasileiro, fincando a bandeira do Brasil na nova fronteira para o produto”, assinala Libânio.