A boa notícia é que dificilmente as chuvas estimularão floradas extemporâneas nesta época do ano, uma vez que as gemas reprodutivas estão dormentes e ainda não adquiriram competência para o desenvolvimento e posterior abertura floral.
Com as novas frentes frias que se aproximam, a previsão é que deve chover nas próximas semanas nas áreas produtoras de café. Como estamos em plena colheita, a má notícia é que a chuva pode prejudicar apanha no campo e a secagem do café, o que deve comprometer a qualidade da bebida, caso não sejam tomadas medidas preventivas pelos cafeicultores.
A boa notícia é que dificilmente as chuvas estimularão floradas extemporâneas nesta época do ano, uma vez que as gemas reprodutivas estão dormentes e ainda não adquiriram competência para o desenvolvimento e posterior abertura floral. Outra boa notícia é que aqueles que optarem for realizar um sistema não usual de adubação que consiste na fertilização nitrogenada de inverno, é chegada a hora. A sugestão é que se avance com a adubação, à medida que os talhões forem colhidos, mas sempre com o solo úmido. O ideal é usar uma fonte mais solúvel, notadamente na forma de nitrato, e de preferência associada ao cálcio, inclusive valendo-se da fertiirrigação. A recomendação é que se aplique, em solo úmido, sob a projeção da copa dos cafeeiros, local onde se encontram maiores volumes de raízes absorventes em profundidade, 40 a 80 g de N /planta em uma ou duas aplicações.
É importante lembrar que o nitrogênio a ser aplicado nesta ocasião não estimulará o crescimento dos ramos laterais e das folhas desenvolvidas nesses ramos, uma vez que o crescimento da parte aérea estará praticamente paralisado sob influência das baixas temperaturas, que são limitantes. As baixas temperaturas, principalmente as noturnas, reduzem quase a zero o crescimento da parte aérea, por inibirem a redutase do nitrato foliar, uma enzima chave no metabolismo do nitrogênio. Note que neste caso, ainda que o solo venha a receber quantidades adequadas de nitrato, o metabolismo do nitrogênio nas folhas não será ativado devido a inoperância da redutase do nitrato nesse órgão em baixas temperaturas.
Por outro lado, o solo com sua ação tamponante, manterá a temperatura no ambiente das raízes quase sempre acima de 17° C em boa parte do dia, suficiente para manter uma elevada atividade da redutase do nitrato radicular. Esta funcionalidade fisiológica das raízes no inverno produzirá compostos nitrogenados como aminoácidos, proteínas e reguladores de crescimento entre outros, que estimularão um crescimento extra do sistema radicular no período frio. Com a chegada da primavera e valendo-se da intensa atividade fisiológica do sistema radicular no inverno, os compostos nitrogenados serão translocados para a copa do cafeeiro que, terá um maior desenvolvimento inicial da parte aérea, experimentando um surto extra de crescimento que refletirá em aumento de produtividade no ano seguinte.
Pesquisa pioneira que tive a felicidade de participar juntamente com o Prof. Rena, mostrou que as taxas de crescimento das plantas que recebem nitrogênio suplementar no inverno, por fertiirrigação, são quase o dobro daquelas taxas em cafeeiros apenas irrigados após a elevação da temperatura em setembro (Amaral, 1991). Vinte anos depois, um conclusivo trabalho realizado por Lima Dias et. al. (2011) atestou que adubações realizadas completamente no inverno ou em maior proporção neste período proporcionaram maiores produtividades dos cafeeiros (58 sc.ha-1) do que aqueles com adubações realizadas no verão (42 sc.ha-1), numa média de três safras avaliadas. Como efeitos positivos adicionais dessa prática cito: maior pegamento de florada; maior retenção de chumbinhos; maior tolerância a pragas, doenças, seca e calor e melhor aproveitamento de outros nutrientes. Conclusão: vale experimentar.
Citação:
– AMARAL, J. A. T. Crescimento vegetativo estacional do cafeeiro e suas inter-relações com fontes de nitrogênio, fotoperíodo, fotossíntese e assimilação de nitrogênio. 1991. 139 f. Tese (Doutorado) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1991
– Kaio Gonçalves de Lima Dias; Paulo Tácito Gontijo Guimarães; Thiago Henrique Pereira Reis e César Henrique Caputo de Oliveira. Adubação realizada no inverno e produtividade de cafeeiros no cerrado mineiro. Autores: VII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil 22 a 25 de Agosto de 2011, Araxá ‐ MG.