Em condições normais, os trabalhos teriam início em meados de maio em algumas regiões produtoras do país, mas, de uma maneira geral, já há colheita desde o início da segunda quinzena de abril em quase todas as áreas de cultivo de Minas Gerais e São Paulo.
06 mai 2016 – De forma atípica, a colheita de café arábica nas principais regiões de produção do Brasil está adiantada cerca de 30 dias nesta safra 2016/17. Em condições normais, os trabalhos teriam início em meados de maio em algumas regiões produtoras do país, mas, de uma maneira geral, já há colheita desde o início da segunda quinzena de abril em quase todas as áreas de cultivo de Minas Gerais e São Paulo.
O clima favoreceu a antecipação da colheita do arábica. Primeiramente, foi a florada dos cafezais em setembro, também adiantada – normalmente, ocorreria a partir do fim de setembro e início de outubro. Depois houve um bom regime de chuvas entre dezembro e março deste ano. E, para completar, elenca o agrometeorologista da Somar, Marco Antônio dos Santos, o mês de abril foi muito quente e seco.
Esses fatores, segundo ele, aceleraram a maturação do café. “Os grãos estavam se desenvolvendo normalmente e a colheita começaria em meados de maio. Mas acelerou principalmente por causa do clima seco de abril, quando houve temperaturas quatro a seis graus acima da média”, afirma.
Nas estimativas de Santos, uma antecipação como a da atual colheita não ocorre desde o ciclo 2002/03. À época, o motivo também foi, principalmente, o clima quente e seco de abril. Segundo ele, todas as regiões de produção de café de Minas e São Paulo “têm alguma antecipação”. Mas, nos cafezais, nem todo o grão está pronto para ser colhido.
Washington Rodrigues, presidente da Ipanema Coffees, afirma que 60% da área de café do grupo já está em processo de colheita. A razão para a antecipação, afirma, foi o clima quente e seco no mês de abril, quando as temperaturas ficaram acima de 30 graus. A Ipanema tem duas propriedades em Alfenas e uma em Conceição do Rio Verde, todas no sul de Minas.
De acordo com ele, nas “áreas mais novas, a maturação do café foi mais rápida. E nos cafezais mais velhos, a maturação se acelerou na parte mais alta das plantas”.
Em algumas regiões de atuação da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior exportadora de café do Brasil, a colheita também adiantou 30 dias. “Normalmente, a colheita começaria no início de junho, mas algumas regiões que colhem mais cedo já começaram a entregar café, como São José do Rio Pardo (SP) e Alpinópolis (MG)”, afirma Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé.
Até o início desta semana, a cooperativa mineira havia recebido um volume de 3,7 mil sacas, segundo ele. É muito pouco perto das 6 milhões de sacas que a Cooxupé prevê receber, mas já reflete o movimento de antecipação.
Costa observa que a mecanização também colabora para acelerar a colheita do café. Assim, se o tempo continuar bom, os trabalhos de retirada dos grãos do campo devem terminar em agosto, avalia.
De acordo com o dirigente, a antecipação não tem afetado a qualidade do café colhido. Washington Rodrigues, da Ipanema, também afirma que a maturação tem ocorrido de “maneira uniforme”. Portanto, se os grãos forem colhidos “no tempo certo”, não há reflexos na qualidade. No caso da Ipanema, diz, quando a temperatura começou a subir, em abril, a empresa já se preparou para a colheita.
Santos, da Somar, afirma, porém, que a maturação antecipada acelera os processo metabólicos da planta, o que poderia afetar a qualidade.
Na Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado – Expocaccer, no Cerrado Mineiro, a colheita está antecipada em 20 dias, em média, segundo Joel de Souza Borges, do departamento comercial da cooperativa. Ele afirma que a Expocaccer já recebeu “volumes pouco representativos” de café produzido na região do Cerrado Mineiro, mas a expectativa é que a colheita avance nessa região a partir da segunda quinzena deste mês. O normal seria a partir do mês de junho.
A cooperativa já recebeu cafés de áreas irrigadas do norte de Minas, onde a florada acontece em setembro, acrescenta ele. Esse, contudo, é um movimento normal. Com 600 cooperados e atuação em 60 municípios, a Expocaccer prevê receber 1,2 milhão de sacas de café nesta safra 2016/17.
De acordo com Borges, se houver chuvas no período de colheita, a qualidade dos cafés poderá ser afetado. De fato, há previsão de chuvas para este mês, mas os volumes não são muito significativos.
Marco Antônio dos Santos afirma que deve haver três episódios rápidos de chuvas este mês, com possibilidade de precipitação “acima da média” nas regiões de cultivo de São Paulo e do sul de Minas. Ele pondera, contudo, que as médias nessas regiões são baixas, entre 30 e 50 milímetros por mês.
Fonte : Valor