Café do Paraná busca xícaras exigentes

Por: O Diário de Maringá












Mais que produção, cafeicultor paranaense investe na melhoria da bebida com novas técnicas de cultivo, mas faltam recursos para renovar os cafeeiros











Rafael Silva


Rold Cheira e cafeeiros de onde saíram os grãos vencedores no concurso Café Qualidade Paraná: “não esperava ganhar. Fiz a colheita sem pretensões”
Eduardo Xavier

Depois de ver minguar às áreas destinadas ao plantio de café nos anos 70 em função das geadas que dizimaram as lavouras do Estado, o Paraná retomou a cultura na década de 1980 com o uso de novas técnicas de cultivo, mais resistentes ao frio.
Além de expandir o cultivo, produtores têm investido na melhoria da qualidade do produto de olho num segmento em expansão: dos cafés gourmet, como a bebida mais nobre começa a ser conhecida nos Estados Unidos e Europa. Mas falta financiamento para o setor.
Os produtores paranaenses vêm recebendo estímulo técnico para produzir café no método adensado (mais pés por área). Mas uma outra forma de incentivo, de abertura de linhas de crédito para substituir plantações tradicionais, ainda não existe.
O café adensado chega a 60% do total da área do grão no Estado, de aproximadamente 108 mil hectares. O Paraná é o terceiro maior produtor de café do Brasil.
“Não é maior hoje porque os produtores não conseguem erradicar a produção antiga em decorrência da falta de financiamento para plantio”, disse o engenheiro agrônomo João Carlos Paschoal, técnico da Emater em Mandaguari. Os cafeicultores têm à disposição apenas linhas de crédito para custeio, não para renovar as lavouras, já com a produtividade em baixa.
Segundo Paschoal, o setor vem cobrando com mais determinação do governo estadual a abertura de financiamento para o plantio. Da forma convencional, a produção média é de 20 sacas (beneficiado de 60 quilos) por hectare e no sistema de cultivo adensado pode chegar a 30.
O engenheiro agrônomo afirma que além da maior produtividade, a recuperação do café no método adensado é mais rápida, por exemplo, no caso da lavoura ser atingida por geadas.
No sistema adensado é possível colocar de 5 a 10 mil pés por hectare, o dobro do volume do método tradicional. Entretanto, a intercalação de culturas como feijão, milho, arroz ou amendoim é possível apenas até o segundo ano da lavoura.
Paschoal diz que apesar da área de café no Estado registrar diminuição nos últimos anos, em Mandaguari tem ocorrido o contrário. No município, o café ocupa 1,8 mil hectares.
Em 2006, a previsão é que produtores plantem mais 300 mil mudas de café subsidiadas pelo governo estadual e outras 200 mil com recursos próprios. A área seria aumentada em 80 hectares.
Outra preocupação é a qualidade do café produzido no Estado. Em Mandaguari, a Emater trabalha em sintonia com a Cocari (Cooperativa Agropecuária e Industrial) para chegar a bons resultados.
Técnicos explicam aos produtores os cuidados que se devem ter antes, durante e depois da colheita. Eles procuram ainda apontar a melhor maneira de se trabalhar na secagem, armazenamento e beneficiamento do café.

Pirapó prepara Festa do Café
Em Pirapó, distrito de Apucarana, acontece a 2ª Festa do Café, entre 19 e 21 de maio. Os organizadores do evento esperam público de 3 mil pessoas na Associação de Moradores de Pirapó.
Segundo o técnico da Emater de Apucarana e um dos organizadores, Marco Antonio Casini Sanches, a programação da segunda edição do evento é diversificada.
A festa conta com palestras técnicas sobre café, barracas de alimentação, uma carreata, dança, shows, missa, costelada, exposição de máquinas e equipamentos agrícolas, artesanato, parque infantil e concursos de roda de viola e bolo de café.
Ela é organizada pela Prefeitura de Apucarana e pelas associações do Moradores, dos Cafeicultores e dos Motoristas de Pirapó.
A prefeitura tenta viabilizar o projeto, concluído no ano passado e que ainda não saiu do papel, da construção do Museu do Café no distrito. A
estação ferroviária de Pirapó, que atualmente serve de moradia para duas famílias (cerca de 13 pessoas), é o local pretendido para abrigar o museu.
Pirapó, a exemplo d emuitas outras cidades da região, nasceu nos anos 30em função da cafeicultura . A cultura é ainda hoje a base da economia da localidade. No município de Apucarana há 485 propriedades de café, que somam cerca de 3,1 mil hectares.

Grão influi nas exportações
O resultado do auxílio prestado pela Cocari (Cooperativa Agropecuária e Industrial) a técnicos da Emater na instrução sobre a qualidade do café é a exportação do grão para países europeus e Estados Unidos.
“Quando melhor o café melhor será a qualidade da bebida. Estamos trabalhando em parceria com os produtores para alcançar essa qualidade”, resume Mário da Silva, comprador do departamento de comercialização da cooperativa.
Segundo Silva, no último contrato assinado há dois meses, a Cocari exportou 40 mil quilos de café verde. “Os clientes de outros países são muito exigentes e por isso temos que estar atentos à qualidade”, reforça.
No ano passado, a Cocari vendeu 20 mil quilos de café torrado para um exportador que juntou o produto ao café produzido em Minas Gerais para enviar à Alemanha. O pacote do blend para máquinas de café expresso é vendido no país por cerca de R$ 36.
Silva diz que a Cocari tem reservado o melhor café produzido na região, que resulta em bebidas tipo mole ou dura (a primeira doce e segunda mais ácida) para exportar.

No PR, 2,2 milhões de sacas
A colheita do café na região da Cocamar, cooperativa de Maringá, deve render 300 mil. Este é o ano em que a produção de café deveria ser maior, mas devido a estiagem logo após a florada e também ao fato de parte das lavouras não estar sendo tratada de acordo com as recomendações técnicas
A produtividade média por hectare na região deve ficar em 45 sacas em coco ou 16,6 sacas de produto beneficiado.
No Paraná, a expectativa é de produzir 2,2 milhões de sacas beneficiadas nesta safra, chegando a 40,6 milhões de sacas em todo o Brasil.
Como a expectativa de exportação é de 26 milhões de sacas, com mais 15 a 16 milhões de sacas de café para o consumo interno, números semelhantes aos do ano passado, a demanda continua maior que a oferta, mesmo sendo ano de safra “grande”.
No ano passado a produção foi de 33 milhões de sacas, “o que significa estoques em baixa, principalmente tendo em vista que o próximo ano será de safra menor, novamente”, complementa Gabarito. As informações são da assessoria de imprensa da Cocamar.

Concurso dá prêmio para a qualidade
Em 2006, o concurso Café Qualidade Paraná entra em sua terceira edição. O concurso foi lançado este ano na Exposição Agropecuária de Londrina, em abril, durante o 14° Encontro de Café, cujos debates enfatizaram a necessidade do agricultor investir na melhoria da qualidade como recurso para agregar valor à produção.
O concurso foi criado pela Câmara Setorial do Café e serve de qualificação para o concurso nacional promovido pela Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café).
A primeira edição ocorreu em 2000. O concurso foi interrompido até 2004 por causa da baixa produtividade da cafeicultura paranaense nos anos anteriores.
“O concurso serve de incentivo aos cafeicultores e para acabar com a imagem desgastada do café paranaense”, diz João Carlos Paschoal, técnico da Emater em Mandaguari.
Os produtores participam da etapa estadual depois de serem selecionados na fase regional que acontece nos municípios de Maringá, Londrina, Jacarezinho, Apucarana, Cornélio Procópio e Toledo.
A expectativa dos organizadores é que 500 produtores participem do concurso, dividido em duas categorias: café natural e café cereja descascado. Cada um participa com 10 sacas do grão.
No leilão do concurso paranaense, a saca do produto pode chegar a custar R$ 500 – hoje, o preço médio no Estado é de R$ 230. Os produtores podem vender 10 sacas no leilão. Já no concurso nacional, uma saca já foi vendida a R$ 17 mil.
As inscrições do Concurso Qualidade Paraná serão abertas a partir de 20 de maio. O concurso busca aumentar a produtividade, qualidade e a diversificação .

Mandaguari é o primeiro em concurso
Um dos orgulhos da cafeicultura de Mandaguari é o primeiro lugar do café produzido no município na categoria café natural do concurso Café Qualidade Paraná e quinto colocado no nacional, promovido pela Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café) no ano passado.
O grão campeão saiu da propriedade rural de Rold Cheida Pereira. Ele possui uma área de 4,8 hectares de café, no sistema adensado. “Não esperava ganhar o concurso porque fiz a colheita sem pretensões”, disse o produtor.
Pereira acredita que as principais razões de ter ganho o prêmio foram fazer a “colheita no pano” (para o grão não ter contato com o solo com isso não ganhar umidade) e o processo da primeira secagem em um terreiro suspenso, mesmo que tenha sido construído de forma rústica.
“O concurso tem mostrado que o café do Paraná também tem qualidade como o produzido em São Paulo e Minas Gerais”, comentou o produtor.
Cada uma das 10 sacas (beneficiado de 60 quilos) inscritas no concurso paranaense por Pereira foi vendida a R$ 500. O valor na época era de R$ 240. O restante da produção foi comercializado a R$ 275 a saca.
“O café foi incrementado por causa da qualidade que hoje representa muito mais ganho”, disse o produtor, ao apontar caminho mais rápido para agregar valor à produção, direção que até cafeicultores mais conservadores têm adotado para sobreviver e ganhar dinheiro com a atividade.
Assim, o Paraná segue o que os Minas Gerais já está fazendo há um bom tempo. Com investimentos em qualidade, os mineiros têm garantido posições de destaque no concorrido mercado internacional do chamado ‘café gourmet’.

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