04 set 2015
Após o Ministério da Agricultura ter recuado na decisão de autorizar a importação de café arábica verde do Peru em maio, o secretário de Política Agrícola da Pasta, André Nassar, disse ontem não se opor à possibilidade de o país permitir “futuramente” as compras do grão de outros países.
A aquisição de café verde do Peru, que seria a primeira autorizada pelo governo brasileiro, interessava principalmente à indústria de café que atua no segmento de cápsulas e pretende usar diferentes variedades nos blends desse produto.
“Não vejo a importação de café como grande problema para o setor, do ponto de vista dos produtores. Não vejo como risco econômico grande, mas concordo que isso tenha que ser discutido dentro do setor”, afirmou Nassar em audiência na Comissão de Agricultura da Câmara.
O secretário informou ainda que existem “pedidos antigos” de várias empresas do segmento de café para que o governo autorize a entrada no Brasil de grãos produzidos em outros países. “Houve uma determinação da ministra [Kátia Abreu] para que esses processos sejam analisados, porém isso tem que ser discutido nos fóruns do café”, afirmou.
Nassar lembrou que a Nestlé constrói uma fábrica de cápsulas de café em Montes Claros (MG), dando a entender que a empresa tem interesse em importar café verde para utilizar nos blends que serão usados nas cápsulas.
O Valor apurou que em reunião, em março deste ano, Kátia Abreu teria garantido a executivos da empresa que o ministério poderá permitir que a companhia importe cerca de 10 mil sacas de café verde da Etiópia e Vietnã quando a unidade fabril iniciar suas operações, o que está previsto para novembro. Procurada, a Nestlé não quis comentar.
Durante a audiência na comissão, Nassar comentou que “a ministra está tratando essa questão da Nestlé com o devido cuidado”.
Representantes da cadeia produtiva do café presentes no encontro, como Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), se opuseram às importações de café verde pelo Brasil, alegando riscos de contaminação por pragas ou prejuízo econômico.
Por Cristiano Zaia | De Brasília
Fonte : Valor