O Conselho Nacional do Café (CNC) admite a possibilidade de discutir a importação de café pelo Brasil, desde que seja com critérios definidos e limitações. Foi o que afirmou o presidente da entidade, deputado federal Silas Brasileiro (PMDB/MG). Em entrevista por telefone à Globo Rural, ele defendeu que as compras devem ser pontuais e submetidas a determinadas condições, como volume, valor do negócio e interesse no mercado para o blend desse café importado.
“Tudo aquilo que for caso específico, nós estamos abertos. Não vamos generalizar a importação de café, mas dependendo das condições, é possível discutir”, afirma o parlamentar. “Tem que ser uma empresa com envergadura para promover o café brasileiro em um mercado interessante para o Brasil, que seja temporário, o valor seja definido e em volumes extremamente pequenos”, acrescenta.
As afirmações do parlamentar reforçam posicionamento emitido pelo próprio Conselho Nacional do Café em seu mais recente boletim semanal, na última sexta-feira (7/8). O CNC, que reúne representantes dos sindicatos rurais, cooperativas e associações de cafeicultores, avaliou que “entende a necessidade de debate e não cria objeção inicial às discussões”, ao comentar a provação de um Projeto de Decreto Legislativo na Câmara anulando a decisão do governo que permitia a importação de café do Peru.
Silas Brasileiro nega, no entanto, que essa disposição represente uma mudança de posição da entidade, que tem se manifestado contra a liberação da compra de café de outros países por parte do Brasil. O CNC alega que a entrada do produto estrangeiro pode afetar ainda mais a renda da cafeicultura nacional.
“Não podemos colocar em xeque a produção nacional. Somos o único país que tem condições de expansão para abastecer o mercado e não vamos abrir não disso. E é o único que produz observando legislações ambientais e sociais. Não podemos aceitar a importação de quem não produz dessa forma”, disse o deputado.
De qualquer forma, mesmo com as queixas do setor e sendo bem pouco significativas em relação à produção nacional, as importações de café verde pelo Brasil aumentaram nos últimos anos, de acordo com o sistema de estatísticas do Ministério da Agricultura (Agrostat). Em 2012, foram apenas 2,28 toneladas (38 sacas). Em 2014, o número foi de 15,41 (256,9 sacas). Neste ano, só de janeiro a julho, foram 31,55 toneladas (525,9 sacas).
Cooparaíso
Silas Brasileiro disse ainda não ter ficado surpreso com a notícia de que a Cooperativa dos Produtores Rurais (Coopercitrus) deve assumir as atividades da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), uma das mais conhecidas na cafeicultura nacional. A direção da Cooparaíso convocou para o próximo dia 21 de agosto uma assembleia geral para “autorizar a parceria”. A instituição tem 5.916 associados dos quais 3.469 possuem direito a voto.
Para o presidente do Conselho Nacional do Café, a operação é bem vinda diante de uma situação “preocupante”. “A Coopercitrus é tradicional, sólida e para o sistema não interessa a dificuldade de nenhuma cooperativa. Queremos todas atendendo seus cooperados e fazendo a sua função”, disse.
O deputado acredita, no entanto, que o caso é uma “excepcionalidade” e que, de um modo geral, as cooperativas de café do Brasil estão em boas condições financeiras e operacionais. De acordo com o presidente do CNC, existem 108 que trabalham na cafeicultura no país.
Fonte: Redação Globo Rural (Raphael Salomão)