Em diversos segmentos da sociedade,
como o político e o governamental e até mesmo na mídia, há uma percepção errônea
de que a cafeicultura vive um bom momento, gerando renda para os produtores e
que, portanto, o setor tem capacidade de saldar seus compromissos. É comum ouvir
que “os três C’s – cana, citros e café – vão bem”.
No entanto, o café, como várias
outras commodities importantes da agropecuária brasileira, vive um momento
extremamente delicado, em conseqüência principalmente de três fatores:
(a) a grave crise de preço e renda,
que marcou o período 2001-2004 e provocou forte
descapitalização;
(b) a desvalorização do dólar,
problema comum a todas as commodities, que, no caso da café, colocou o custo de
produção e o preço de venda muito próximos, deixando o produtor sem margem de
ganho;
(c) a forte especulação do mercado,
provocando grande volatilidade.
DESCAPITALIZAÇÃO
O período 2001-2004 se caracterizou
por preços extremamente baixos, entre US$ 43 e US$ 73 por saca (de 60 quilos) de
café arábica, que representa cerca de 70% do café brasileiro, conforme mostra o
gráfico a seguir.
Média em US$/sc
FONTE:
COOPERATIVAS
Esses valores estão muito abaixo do
custo de produção, estimado no mesmo período entre US$ 70 e US$ 96 por saca para
uma produtividade de 20 sacas por hectare, gerando perdas sistemáticas para os
produtores. Portanto, durante quatro anos, os cafeicultores tiveram prejuízo
(ver tabela abaixo) e o setor como um todo teve uma perda estimada acima de US$
2,5 bilhões.
| |||
Relação – Preço Médio Recebido Pelo Produtividade – 20 sacas / Café Arábica – | |||
| | | |
Ano | Custo Unitário | Preço de Saca | Renda |
| Total – | de Café – | US$ |
2001 | 81,79 | 49,64 | -32,2 |
2002 | 70,57 | 43,3 | -27,3 |
2003 | 77,77 | 55,96 | -21,8 |
2004 | 95,7 | 72,45 | -23,3 |
FONTE:
COOPERATIVAS
No final de 2004, houve uma
recuperação dos preços do café no mercado mundial e o produtor começou a se
capitalizar. Na época, esperava-se que se iniciaria ali um período de preços
favoráveis, que asseguraria renda para o setor. Entretanto, este período de
preços remuneradores para os produtores brasileiros foi muito curto, terminando
em junho de 2005, devido à forte desvalorização do dólar frente ao real,
anulando os ganhos obtidos no mercado internacional. O dólar caiu de R$ 2,80 em
janeiro de 2005 para R$ 2,40 em julho e para R$ 2,15 em março de 2006. Ou seja,
o cafeicultor amargou quatro anos de crise e teoricamente teve pouco mais de
meio ano para recuperar o prejuízo. Passado esse período, os valores pagos ao
produto voltaram a cair.
RENDA EM 2005 E
2006
Conforme pode ser verificado na
tabela abaixo, a partir de julho de 2005, o preço da saca de café caiu
significativamente, principalmente em função do dólar. No Sul de Minas Gerais, o
valor médio de venda para o produtor no período de julho de 2005 a março de 2006
foi de R$ 250,43 a saca, considerando os diferentes tipos de café
comercializados. Se levarmos em conta que na comercialização o produtor tem um
desconto de cerca de 4,5% (impostos, armazenagem e outras taxas), ele recebeu,
neste período, cerca de R$ 239,16 por saca (ver tabela abaixo).
Média dos preços pagos aos
produtores – Safra 2005/06
| 2005 | 2006 | ||
Mês | * R$ | US$ | R$ | US$ |
Janeiro | 280,05 | 104,05 | 284,91 | 125,40 |
Fevereiro | 303,72 | 116,92 | 266,44 | 123,2 |
Março | 336,77 | 124,50 | 249,91 | 116,17 |
Abril | 326,55 | 126,68 | | |
Maio | 313,24 | 127,84 | | |
Junho | 291,45 | 120,69 | | |
Julho | 254,14 | 107,03 | | |
Agosto | 247,30 | 104,84 | | |
Setembro | 226,71 | 98,84 | | |
Outubro | 239,00 | 105,92 | | <TD