13/07/2015
Os 6º C negativos que os termômetros marcaram na madrugada de 18 de julho de 1975 decretaram à Londrina a perda definitiva do título de Capital Mundial do Café. A soja, que já vinha em crescimento acelerado, passou a reinar nas lavouras. Já a produção do café entrou em forte declínio. O município que nos anos 1960 chegou a ter 45 mil hectares dedicados à cultura, hoje destina apenas 5 mil hectares aos cafeeiros.
Para manter a posição de destaque no Estado, a cidade precisou se reinventar. Primeiro, fortaleceu o setor de serviços que hoje é referência para todo o Norte do Estado. Recentemente, com a consolidação do setor da Tecnologia da Informação (TI), lançou o slogan “Cidade Genial”, visando atrair novos investidores tecnológicos. Em meio aos avanços da modernidade, a imensidão verde das lavouras de café sobre a terra vermelha ficou apenas na memória, mas se engana quem pensa que o fruto é passado para Londrina. Quarenta anos após a geada negra, o café ainda é responsável por quase um terço das exportações na balança comercial da cidade.
Os dados da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, confirmam a soja como o principal produto de exportação de Londrina, com 47% do total. As preparações à base de café aparecem na segunda posição com 20,30%. Em seguida, o café – mesmo torrado ou descafeinado – , é responsável por 10,66% das exportações. Os números são alavancados pela Companhia Cacique de Café Solúvel, uma das maiores empregadoras da cidade, com 1,3 mil colaboradores. Fundada em 1959, a unidade tem capacidade para processar hoje 70 toneladas por dia de óleo de café, extrato de café e café solúvel em pó.
As lavouras rarearam, mas do Estádio do Café, na zona norte, ao Conjunto Cafezal, na zona sul; ou da Avenida do Café, na zona leste, à Rodovia do Café, na zona Oeste, Londrina ainda é toda café. Às quatro regiões da cidade, soma-se o Teatro Ouro Verde, no centro. Às referências não param por aí: Catuaí, Sumatra. As antigas fazendas de café da cidade também deixaram o ostracismo e passaram a ser atrações da Rota do Café, roteiro turístico com mais de 30 atrativos localizados em nove municípios do Norte do Paraná. Em 2011, a Rota do Café participou da premiação dos casos de sucesso na implementação do Programa de Regionalização do Turismo, do Ministério do Turismo, e ficou em 1° lugar na categoria Roteiro Turístico. Ao movimentar a economia, o café ainda é moeda valiosa em Londrina, seja pelo produto ou pela “grife”.
Para a professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Regina Célia Alegro, embora a produção atual não corresponda ao título, Londrina sempre terá um pouco de capital do café. “Todos os alicerces da cidade foram erguidos sobre o café, de forma que isso está arraigado na identidade londrinense”, observa.
Regina, que também é curadora do Museu Histórico de Londrina, percebe que o café está presente, ainda que de forma indireta, na nova geração. “Muitos conhecem um pé de café aqui no museu, mas as crianças possuem narrativa de histórias contadas pelos pais, avós.” De acordo com Regina, os visitantes do museu preferem contar histórias das décadas de 1950 e 1960. “Eles falam menos do tempo de crise, talvez pelo tamanho do trauma difícil de ser medido ainda hoje”, afirma.
Estado
A previsão do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) é que a produção da safra paranaense deste ano atinja 1,03 milhão de sacas de 60 quilos, um aumento de 83% se comparada à safra anterior, que foi atingida pela geada de 2013. Segundo os dados do Deral, 41% da safra já foi colhida.
O pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Gustavo Hiroshi Sera, destaca o novo perfil dos cafeicultores que persistem na atividade. “Muitos produtores estão ampliando a área e estão tendo lucratividade. É um novo jeito de plantar café, com novas variedades”, aponta. O estudo mostra também um crescimento de 27,3% na área em produção no Estado.
“Nos anos 1970, tínhamos uma produtividade de 10 sacas por hectare. Hoje, a média está em 23 sacas, mas em algumas propriedades que investem em mecanização e outras tecnologias, o rendimento chega até a 60 sacas por hectare. Hoje nós buscamos uma média de 40 sacas no Estado”, detalha.
Fonte: Folha Web