13/04/15
Ao impulsionar a receita das exportações, o câmbio tende a compensar a alta dos custos internos do País, ao longo de 2015; desde janeiro, moeda norte-americana valorizou 16% frente ao real
São Paulo – A valorização do dólar frente ao real tem minimizado alguns aspectos da crise econômica no Brasil. Ao impulsionar a receita das exportações, o câmbio tende a compensar a alta dos custos internos da indústria, ao longo de 2015.
É o que afirmam especialistas entrevistados pelo DCI. De janeiro até a última sexta-feira, a elevação do dólar em relação à moeda brasileira foi de 16%, indo de R$ 2,65 para R$ 3,07, no período.
O professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, diz que o efeito mais imediato do real desvalorizado é a redução das importações que leva, consequentemente, a um aumento dos preços internos. Já os impactos do câmbio sobre a exportação são mais demorados, pois dependem das relações comerciais entre as empresas dos países.
“A alta do dólar encarece a importação de insumos e de mercadorias acabadas. A indústria que precisa de matéria-prima importada, por exemplo, tem que fazer repasse de custos, encarecendo, dessa forma, a mercadoria final”, explica Rochlin.
“Além disso, sem a competição dos produtos importados, o produtor nacional tem espaço para elevar preços. O resultado disso também é uma inflação maior”, complementa o professor, ressaltando que, em setores com concorrência interna maior, o repasse de alta de preços se torna mais difícil.
Dados da balança comercial do Brasil já mostram uma expressiva queda das importações. No primeiro trimestre deste ano, a retração foi de 13,2%, em comparação com o mesmo período de 2014.
Todas as categorias de produtos sofreram redução. As compras de combustíveis e lubrificantes, por exemplo, caíram 28%, enquanto as matérias-primas e intermediários tiveram queda de 18,8%, bens de capital (-16,3%) e bens de consumo (-13,7%). Todos esses dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Para o professor de economia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Elton Casagrande, a redução brusca nas importações é temporária, e tende a diminuir à medida que o dólar se estabilize. “Uma situação é sair, muito rapidamente, de um câmbio a R$ 2,20 para R$ 3,10. Outra, muito diferente, é o dólar flutuar entre R$ 3,10 e R$ 3,20. O câmbio já não vai mais oscilar tanto daqui em diante. Os efeitos políticos já estão incorporados no dólar”, afirma Casagrande.
Apesar de pressionar a inflação, os especialistas afirmam que a valorização do dólar é necessária neste momento para minimizar os efeitos da crise econômica no País.
Ao alavancar a receita da exportação, é possível compensar a alta de custos internos e recuperar a balança de pagamentos em 2015. O professor de macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Celso Grisi, diz que o real desvalorizado tende a favorecer a indústria nacional mesmo com a retração interna da economia, devido à necessidade de substituir produtos importados. “O câmbio atual incentiva, principalmente, a produção de máquinas e equipamentos. Insumos já é mais difícil”, diz Grisi, acrescentando que, dessa forma, é possível manter o emprego nas indústrias.
Exportação
O câmbio parece ainda não impulsionar, de forma significativa, a receita das exportações, observando os dados do MDIC. No primeiro trimestre de 2015, as vendas externas retraíram em 13,7%. Rochlin diz que existe uma defasagem no impacto da valorização do dólar nas exportações. “A entrada ou retomada do mercado externo pelas empresas brasileiras não são imediatas. O cliente lá fora precisa ter certeza de que o preço brasileiro vai se manter competitivo em um período mais longo no tempo”.
Grisi concorda com a análise de Rochlin e acrescenta que o fato de os dados do MDIC estarem em dólares dá a impressão de que o Brasil está exportando menos.
“No entanto, o agricultor brasileiro, por exemplo, não está sentindo muita diferença em sua rentabilidade. Ele sente o benefício da exportação quando converte o dólar por real”, diz o professor da Fipecafi, ressaltando que o País está exportando mais em quantidade do em preço. Ao tentar mensurar um câmbio ideal, Casagrande diz que o governo deve priorizar uma cotação que propicie recuperação da balança de pagamentos. “Existe consenso entre R$ 3,20 e R$ 3,30, mas isso varia em relação à base comparativa”, afirma.
“Na verdade, o ideal seria o Brasil não ficar preso às variações do câmbio. A competitividade da indústria não deveria estar exclusivamente vinculada ao câmbio. É preciso ter uma política de planejamento de longo prazo para a nossa indústria”, finaliza.