Estudo cria índex de riscos para negócios em país que produz commodities

Valor Econômico
25/03/15


Um estudo apresentado ontem em São Paulo aponta que as pressões sobre os recursos naturais podem interferir nas metas de investimentos e desenvolvimento se as empresas e governos limitarem- se a olhar para o seu próprio quintal – deixando escapar o panorama geral do planeta.


Elaborado pela ONG Earth Security Group, de Londres, o estudo foi encomendado por um grupo heterogêneo de stakeholders interessados em antecipar riscos, incluindo o governo da Suíça, a Fundação BMW e a trading Olam, uma das maiores na Ásia. Em vez de prever possíveis prejuízos para setores econômicos, o estudo transforma em índex as atuais pressões sobre recursos naturais e governança capazes de dominar a agenda nos emergentes. O trabalho analisou o risco combinado em nove economias: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, México, Indonésia, Nigéria e Turquia.


Em todos eles, a poluição e a falta de água, assim como os conflitos envolvendo o uso da terra e a estabilidade de oferta energética destacam- se como pressões graves, com impacto direto nos negócios.


Sua principal conclusão é que as multinacionais não podem mais agir isoladamente – é preciso de uma nova “diplomacia empresarial”, capaz de atuar junto a governos e avançar na compreensão da interdependência global dos recursos.


Intitulado “Gerenciamento de riscos e resiliência no Século 21”, o documento empresta para o meio ambiente a relação de causa e efeito aplicada à economia – segundo a qual um espirro na China tem o potencial de provocar uma pneumonia no Brasil.


Nesse contexto, commodities globais como milho, arroz, soja, óleo de palma, petróleo e gás, madeira e cacau estão cada vez mais expostas a pressões nos países produtores. Conflitos em um país provocam riscos em todo o mundo, em razão da grande integração das cadeias de produção.


O estudo mostra, por exemplo, os riscos que a demanda crescente da China por soja pode ter (ou já tem) no Brasil, mais notadamente no aumento das taxas de desmatamento que a expansão das lavouras tende a levar. Ou ainda nos riscos que a poluição, a seca e a falta de infraestrutura na Costa do Marfim, o maior produtor mundial de cacau, impõem à indústria de chocolate.


“O que governos e empresas estão fazendo não é suficiente. Pegue o exemplo dos chocolates. Não estamos falando de um cenário 2025, mas de uma falta de cacau em cinco anos. Que impacto isso terá para a Suíça? “, questionou o pesquisador Alejandro Litovsky, CEO do Earth Security Group, em apresentação na sede brasileira da Cargill, em São Paulo.”E voltando à soja brasileira.O governo chinês já tornou claro que a limitação de água no país deverá priorizar o plantio de alimentos destinados à população. O resto será comprado. Qual o impacto disso no desmatamento do Brasil?”


Segundo Litovsky, não são apenas os impactos diretos que preocupam mas também o efeito dominó sobre outros países. Apesar os esforços de controle da produção no Brasil,a demanda chinesa por grãos e gargalos de logística acabaram empurrando a soja também para Paraguai e Argentina, onde o custo de produção é mais baixo e as regulamentações ambientais e sociais mais frágeis.


As pressões de sustentabilidade sobre os emergentes ampliarão os riscos globais, mas trazem oportunidades de inovação.” É preciso ir além da ética e regras globais. As empresas têm de fazer mais para reduzir sua exposição a tensões geopolíticas usando diplomacia de negócios para promover a inovação da sustentabilidade”, disse. “Precisarão influenciar a política para a sustentabilidade. Não há como fugir disso”.

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