Valor Econômico
25/03/15
Conhecidos pelas ácidas críticas que têm feito ao PT e à gestão de Dilma Rousseff, líderes do agronegócio brasileiro radicados em São Paulo foram instados por duas de suas principais referências, Antonio Delfim Netto e Roberto Rodrigues, a lembrar que, diante das turbulências políticas e econômicas que chacoalham o país, é vital que as instituições democráticas sejam preservadas e que o setor também tem sua parcela de responsabilidade para permitir que a presidente continue a ter condições de governar.
“O caminho é a Constituição”, afirmou Rodrigues a cerca de 30 lideranças que almoçavam ontem em um hotel localizado em bairro nobre da capital, num evento que marcou o ingresso da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, na Academia Nacional de Agricultura. Inaugurada em 2003 por iniciativa da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), com sede no Rio, a academia é um fórum de debates e propostas de políticas nacionais relacionadas ao agronegócio, com ênfase em ambiente e pesquisa.
As palavras de Rodrigues pegaram a plateia de surpresa. Não geraram as palmas acaloradas recebidas pela ministra, que já tinha se retirado e que, em seu primeiro discurso como integrante da academia, havia destacado a importância do setor e garantido que o governo o encara como prioridade. Mas quase todos – ex-ministros, empresários e dirigentes de entidades como Sociedade Rural Brasileira (SRB) e União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) – manifestaram concordância, ainda que a maioria tenha apoiado aberta ou veladamente o tucano Aécio Neves nas últimas eleições.
Rodrigues tenta, e normalmente consegue, pairar acima dos partidos políticos. Após ter costurado as propostas do presidenciável José Serra(PSDB)na campanha de 2002, tornou-se o primeiro ministro da Agricultura da era Lula.Também influenciou o programa de governo apresentado por Aécio. Também homenageado no evento de ontem, Delfim Netto, que entre muitos cargos públicos também já foi ministro da Agricultura durante o regime militar, não perdeu a chance de chancelar o discurso de Rodrigues. E foi até mais claro: “Temos que apoiar as instituições e insistir no ‘jogo’ urna-mercado. Um corrige os excessos do outro”, reiterou.
Ambos reforçaram que o ajuste fiscal, por mais reflexos negativos que possa ter, é necessário. Rodrigues pediu contrapartidas do governo nesse processo, como a redução do número de ministérios, mas Delfim pontuou que, “sem o ajuste, não voltaremos a crescer”.