Exportador revê políticas com acordos bilaterais americanos

Por: DCI

Carlos Matos


ESTRATÉGIA


A rapidez dos Estados Unidos em tecer novos acordos na América do Sul faz as empresas reverem suas políticas de exportação. Indústrias como Santista e Vicunha já estabelecem bases na região do Pacto Andino, uma vez que países como a Colômbia já gozam de isenção de tarifas na América do Norte, no caso de alguns insumos agrícolas e produtos têxteis. Enquanto isso, dizem especialistas, a insistência do governo brasileiro em formular acordos bilaterais com países pouco representativos, como Israel, pode custar ao País uma série de novos investimentos no setor produtivo.


De acordo com José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o fechamento de acordos do governo norte-americano com Colômbia, Peru e outros países sul-americanos claramente irá gerar uma perda de mercado para as empresas brasileiras. “O fato desses países passarem a gozar de tarifas preferenciais nos Estados Unidos das quais não dispomos afastará novos investimentos do Brasil”, comenta. Mesmo no Mercosul, segundo ele, há o risco dos brasileiros ficarem para trás nas negociações com os norte-americanos. O Uruguai, que já demonstrou claras intenções de firmar novos acordos com Washington, certamente será o próximo, diz Castro.


Além disso, o executivo afirma que, por meio de acordos de livre-comércio com esses países, os americanos ganham vantagens e facilidades para entrar no mercado brasileiro, sem que tenham de abrir concessões para tanto. Como o Brasil restringe as negociações à totalidade do bloco do Mercosul, acaba por engessar o andamento de determinados acordos, conforme explica Castro. “Estamos sempre ‘negociando’, mas sem chegar a uma definição”, diz. Castro ainda critica a postura do governo federal, que prioriza a negociação de acordos com países como o Paquistão e Israel, pouco representativos em termos de volumes comercializados. O dirigente ainda compara o Brasil a países com economias semelhantes, como o México. “Eles possuem 42 acordos bilaterais, abrangendo diversas regiões”. Michel Alaby, presidente da Associação de Empresas Brasileiras para a Integração de Mercados (Adebim), vai além e diz que ainda este ano os norte-americanos deverão selar novos acordos com países da América do Sul. “O Equador está em negociações e o Uruguai, apesar do desmentido de seu embaixador, deverá ter reuniões em outubro com os americanos”, comenta.

Alaby diz que, com esses acordos, para os quais dá a denominação de “Alca paralela”, os brasileiros perdem gradativamente as preferências tarifárias da própria Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), uma vez que os Estados Unidos passam a usufruir das mesma preferências no médio prazo. As empresas brasileiras, segundo ele, tendem a ampliar a tendência já observada de compra, instalação ou formação de joint ventures em países que possuam acordos já firmados com a América do Norte, revendo sua política de exportações.


Alguns desses acordos, segundo Alaby, ainda têm de ser aprovados pelo Congresso em Washington, mas de acordo com ele, dificilmente são vetados. A Colômbia, por exemplo, já usufrui de isenções no mercado norte-americano em segmentos como o têxtil, o que tem atraído inclusive o interesse de empresas brasileiras do setor, como a Santista e a Vicunha, que já possuem operações na região.


Muito mais do que uma formação prematura da Alca, o executivo diz que os Estados Unidos e outros países estão antecipando o fechamento de acordos devido à ocorrência de importantes eleições ao redor do mundo nos próximos dois anos, como na França, Índia, Estados Unidos e mesmo no Brasil. Enquanto isso, segundo Alaby, o Brasil aguarda os acontecimentos dentro da “camisa de força” do Mercosul.


Rentabilidade


De acordo com relatório formulado pela Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), a perda de rentabilidade nas exportações brasileiras chegou a 12% em 2005, em relação ao índice apurado em 2004. Dos 27 setores avaliados, apenas os segmentos de café, açúcar, extrativismo mineral, petróleo e carvão e insumos petroquímicos obtiveram melhor nível de rentabilidade no ano passado. A queda de rentabilidade mais grave ocorreu em setores como o de eletrônicos, o de autopeças e o têxtil.


O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori, o responsável pela perda de rentabilidade nas vendas externas do setor não é somente o câmbio ou a taxa de juros. O executivo ressalta que o peso da carga tributária e dos encargos trabalhistas começa a ser um risco maior para a competitividade do que fatores macroeconômicos.


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