O Estado de S. Paulo
10/03/15
Há poucos dias, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, deu declarações indicando que a equipe econômica enxerga com naturalidade o forte movimento recente de desvalorização do real. Já o Banco Central, desde a semana passada, deixou de rolar 100% dos swaps cambiais que vencem. Um experiente analista nota que esses sinais de que o governo está aceitando mais a alta do dólar foram mantidos mesmo em um momento de tensão nos mercados. Porque, ele lembra, desde que a nova equipe foi anunciada, algumas vezes aconteceram sinalizações de que a intervenção poderia diminuir – em declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy -, mas estas foram seguidas ou por retificações ou por novas colocações, no sentido contrário, por parte da equipe econômica.
Embora o grande teste seja o anúncio a ser feito sobre o futuro do programa de swaps cambiais, no fim de março, as indicações agora parecem pender fortemente na direção de um câmbio menos administrado. Uma possível explicação para isso, continua a fonte, é que, diante do aparentemente inexorável rompimento do teto de tolerância da meta de inflação (6,5%) em 2015, o governo simplesmente relaxou quanto ao IPCA deste ano. Nessa ótica, melhor que a inflação suba tudo o que puder em 2015, e o menos possível em 2016. Assim, segurar a depreciação agora poderia apenas postergá-la, distribuindo seus efeitos inflacionários mais na direção do próximo ano.
Uma outra discussão é sobre o desajuste de preços relativos no Brasil. Apesar da grande depreciação nominal desde 2011, a inflação dos bens não negociáveis internacionalmente (non tradables) ainda corre bem acima da inflação dos bens negociáveis (tradables), como observado pelo economista José Júlio Senna em entrevista publicada ontem pelo Estado.
O governo, compartilhando a inquietação de muitos analistas, deve estar preocupado com o fato de a economia estar parada (este ano deve até recuar), com um déficit em conta corrente acima de 4% do PIB. É uma situação que poderia levar a uma parada súbita de financiamento externo, na qual o trauma em termos de depreciação, inflação, juros, desemprego e queda da renda poderia ser bem superior ao de um ajuste administrado. É evidente que segurar a depreciação cambial só aumenta esse risco.
O economista José Oreiro, da UFRJ, vê a depreciação como necessária e acha que ela ainda não chegou no ponto que restaura a competitividade industrial – a seu ver, entre R$ 3,20 e R$ 3,40. Além disso, Oreiro nota que depreciações puxadas pelo mercado tendem ao “overshooting”, isto é, vão além do nível de equilíbrio antes de voltar. “Ainda tem muita desvalorização pela frente”, diz. Para o economista, a melhor forma de minimizar o overshooting seria que o governo conseguisse mais rapidamente a aprovação das medidas fiscais no Congresso. “Algum tipo de entendimento entre a presidente e a liderança da Câmara de Deputados iria ajudar”, disse.