Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – O mercado físico de café arábica do Brasil está virtualmente paralisado, com os compradores tentando repassar para as ofertas a baixa registrada nos contratos futuros de Nova York, e os produtores retraídos, à espera de melhores cotações.
Além disso, a grande oscilação de valores diários, com altas e baixas expressivas em Nova York, também prejudicou os negócios nesta semana.
Segundo o Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos, os produtores aguardam “preços mais realistas, condizentes com o estado dos cafezais depois da longa seca e das altas temperaturas” dos dois últimos verões.
“Com a forte crise econômica e política, inflação se aproximando dos 8 por cento ao ano, dólar ultrapassando a barreira dos 3 reais e, portanto, custos de produção em alta, consideram mais prudente ficar com o café do que aceitar vendê-lo por preços que acreditam artificialmente pressionados e fora da realidade”, afirmou Carvalhaes nesta sexta-feira em nota.
Os contratos futuros do café arábica negociados em Nova York atingiram nesta semana uma mínima de 13 meses, com a fraqueza do real frente ao dólar, o que tende a favorecer vendas para a exportação, além de uma melhora do clima para a safra brasileira, segundo operadores dos EUA.
A moeda norte-americana subiu 1,49 por cento nesta sexta-feira, a 3,0565 reais na venda, maior nível de fechamento desde 27 de julho de 2004.
Nesta sexta-feira, o contrato maio fechou em alta de 4,85 centavos, ou 3,6 por cento, a 1,399 dólar por libra-peso, mas encerrou a semana em baixa de 0,4 por cento, a quarta perda semanal consecutiva. Durante a semana, houve sessões com alta de cerca de 6 por cento e outras com baixa de 6 por cento.
Na sessão desta sexta-feira, a alta no mercado nova-iorquino impulsionou os preços no Brasil.
O Indicador CEPEA/ESALQ do café arábica tipo 6, bebida dura para melhor, posto na capital paulista, fechou a 442,03 reais/saca de 60 kg, avanço de 3,12 por cento em relação à véspera.
“Essa constante e forte oscilação nova valores tem deixado o mercado praticamente travado para a variedade”, ressaltou o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em nota.
RECUPERAÇÃO?
As coberturas de vendidos em Nova York ocorreram nesta sexta-feira com o mercado parecendo ter encontrado um piso no curto prazo, segundo operadores em Nova York.
Por sua vez, o chefe de operações da Organização Internacional do Café (OIC), Mauricio Galindo, disse nesta sexta-feira que os preços poderão subir nos próximos meses devido a um déficit da oferta global.
“O clima especulativo é forte no mercado, alimentado pelas incertezas quanto ao volume e à qualidade da colheita brasileira que se iniciará dentro de dois meses”, apontou em nota nesta sexta-feira o Conselho Nacional do Café (CNC), órgão que representa os produtores.
Mas o CNC ressaltou que a produção em 2015 será fraca, por conta dos problemas climáticos.
“Reiteramos que é nítida, até o momento, a menor quantidade de frutos nos pés, com a má formação das rosetas, bem como a desuniformidade dos grãos, o que, inegavelmente, já impactará de forma negativa na safra 2015”, disse.
Ainda assim, por conta do cenário externo, o mercado físico brasileiro continuou retraído, confirmou o CNC.
Fonte: Reuters