ILUSÃO DE ÓTICA — Esta semana foi marcada pelo retorno parcial das chuvas em algumas áreas produtivas de café no Brasil e, por conseguinte, das inconsequentes especulações no mercado, pressionando as cotações externas e tornando os preços mais aviltados para os produtores nacionais.
O CNC insiste em bater na tecla da especulação porque as precipitações que agora caem sobre algumas partes do cinturão servirão, única e exclusivamente, para possibilitar a granação dos frutos que estão nas plantas e não mais para recuperar os chumbinhos que não vingaram.
Com o retorno das chuvas, a primeira impressão que se tem ao olhar os pés de café é de lavouras saudáveis e bem enfolhadas, porém, ao se aproximar, o que se observa, de verdade, são os efeitos da estiagem de 2014 e do veranico de janeiro deste ano. Ou seja, notam-se ramos com desenvolvimento de internódios aquém do normal, folhas queimadas e frutos com formação heterogênea.
Assim, o Conselho Nacional do Café reitera que esta safra já está com sua produtividade comprometida devido à formação díspar dos grãos, o que ocasionará maturação desuniforme e a necessidade de várias sessões de colheita se o objetivo for obter as cerejas maduras, encarecendo sobremaneira os custos, ou a colheita de grãos em tamanhos, peso e maturação diferenciados, impactando diretamente na qualidade da bebida e no valor a ser recebido pelo produtor.
Para 2016, também são notórios os prejuízos no volume a ser colhido, haja vista que ainda que chova normalmente nas próximas semanas, já não é mais possível reverter o cenário atual do reduzido desenvolvimento de internódios ocasionado pelas elevadas temperaturas e pela falta de água.
Por outro lado, há a possibilidade de interrupção das precipitações no cinturão cafeeiro, o que tornaria ainda mais crítico o cenário, já que haveria mais prejuízo para a maturação dos cafés da colheita atual e um menor volume de gemas florais que poderão se transformar em flores e grãos para a safra 2016.
O CNC recorda ainda que este cenário não é generalizado, porém impacta grande parte do parque cafeeiro. Com exceção para Paraná e Bahia, onde o regime de chuvas foi mais adequado (somente) este ano, áreas de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, três dos principais Estados produtores do Brasil, enfrentam as intensas adversidades climáticas. Portanto, não devemos nos iludir com o aspecto verde e enfolhado que os cafezais recuperaram com o retorno das chuvas, mas sim ter nossa ótica focada nos grãos, que refletirão com mais exatidão os tamanhos de nossas safras.
MERCADO – Em uma semana de fracos negócios, devido aos feriados em várias regiões produtoras e consumidoras do mundo, as cotações do café apresentaram tendência de queda.
As comemorações do Dia do Presidente (16/02) nos Estados Unidos, do Carnaval no Brasil (17/02) e do Ano Novo Lunar no Vietnã (18 a 24/02) reduziram significativamente os volumes negociados nos pregões dos últimos dias da ICE Futures.
As chuvas que ocorreram em diversas áreas do Brasil durante o mês de fevereiro, porém sem beneficiar todo o cinturão cafeicultor de forma geral, e o dólar fortalecido voltaram a pressionar as cotações futuras do café arábica nesta semana.
A Somar Meteorologia estima que até domingo (22/02) devam ocorrer chuvas na Mogiana Paulista, Sul de Minas e Cerrado Mineiro. Porém, no Espírito Santo e na Zona da Mata Mineira, regiões que acumulam problemas devido à estiagem prolongada, o tempo permanecerá seco.
Nesta semana, a divisa norte-americana voltou a se valorizar, influenciada pelas expectativas de recuperação da economia dos Estados Unidos e pelo impasse nas negociações da dívida grega. O dólar comercial encerrou a sessão de ontem a R$ 2,8657, com valorização de 1,2% desde a última sexta-feira.
Diante dessa conjuntura, na Bolsa de Nova York, o vencimento maio do Contrato C foi cotado, na quinta-feira, a US$ 1,5265 por libra-peso, seu menor patamar em mais de um ano, acumulando queda de 1.385 pontos em relação ao final da semana passada. Na ICE Futures Europe, as cotações do robusta também apresentaram tendência de baixa. Ontem, o vencimento maio/2015 encerrou o pregão a US$ 1.990 por tonelada, com perdas de US$ 46 desde o final da semana anterior.
Seguindo o cenário externo, os preços do café se desvalorizaram no mercado físico brasileiro, que continuou com baixa liquidez. Na quinta-feira, os indicadores calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para as variedades arábica e conilon foram cotados a R$ 451,33/saca e a R$ 303,31/saca, respectivamente, com variação de -7,5% e -2,2% no acumulado da semana.