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Visitas às propriedades dos antigos barões do café fazem parte do projeto de revitalização do Vale do Café no centro sul fluminense
Da Redação
Vestida com roupas da época do Brasil Colônia, Magide de Breves Muniz recebe os visitantes que chegam à fazenda São João da Prosperidade, no Rio de Janeiro. Ela indaga: “Vossa Mercê tem notícias da corte? Aqui, ficamos aflitos para saber das novidades, mas antes disso fiquem à vontade para descansar da longa, perigosa e difícil viagem que enfrentaram”. A idéia da proprietária é que logo na chegada os turistas embarquem no clima do passado.
Esta fazenda apresenta como particularidade o fato de ser uma sede de serviço. Na época da opulência do ciclo do café era comum que os proprietários tivessem casas grandiosas no campo e na cidade. A São João é uma das poucas onde pode ser visto como era o trabalho de agricultura na época, da secagem do grão ao armazenamento.
Durante a visita a esta construção do século 19, localizada no chamado Vale do Café, centro sul fluminense, os visitantes conhecem estórias dos antigos habitantes, os costumes e curiosidades da época. Os amplos aposentos são cuidadosamente dispostos, segundo o modelo da época. Como na região não havia alternativa de hospedagem, como pousadas e hotéis, era comum hospedar qualquer pessoa que chegasse à fazenda, mas para evitar surpresas desagradáveis e proteger a família, aos visitantes só restava a alternativa de dormirem em quartos sem janelas e trancados por fora.
Magide conduz os visitantes mostrando cada um dos cômodos da casa que inclui uma capela com pia batismal, um pátio interno, único lugar permitido às mulheres para ficar ao ar livre e, motivo de supremo orgulho, para os antigos habitantes: um vaso sanitário instalado na diagonal do banheiro e com porta permanentemente aberta durante a visita dos forasteiros. Desta forma, os antigos visitantes poderiam ver esta peça recém chegada ao Brasil, considerada como símbolo de status porque mostrava que o dono da fazenda tinha poder e dinheiro.
Na área externa, o pátio onde o café era colocado para secar, o alambique que ainda produz cachaça e ruínas da antiga senzala. Dos tesouros da fazenda também fazem parte duas moedas de couro. Depois da abolição, os antigos escravos recebiam essas moedas como pagamento que só poderiam ser gastas no local para compra de alimentos, por exemplo. Como qualquer produto era caro, na prática isso significava uma forma disfarçada de manter a escravidão.
Magide faz parte de um grupo de proprietários que decidiu abrir suas portas aos turistas. As visitas guiadas por ela, devem ser previamente agendadas. Aos visitantes, ela oferece um lanche com produtos locais e degustação da cachaça fabricada na propriedade.
Estas fazendas são a parte mais vistosa de uma meta ambiciosa organizado pelo Sebrae no Rio de Janeiro e várias entidades públicas e privadas. O projeto Caminhos Singulares do Turismo e Artesanato tem como objetivo principal transformar o Vale do Café em um destino turístico importante. A coordenadora estadual do projeto pelo Sebrae no Rio de Janeiro, Ana Cláudia Melo Vieira, diz que o trabalho conjunto envolve consultoria, planejamento, capacitação, elaboração de um calendário de eventos e promoção e marketing. “Esta é uma região que tem muito potencial para ser explorado e o turismo é uma das melhores alternativas para o desenvolvimento local de todos os dez municípios envolvidos”, afirma.
No esforço para oferecer ao turista as melhores possibilidades para usufruir a beleza e a riqueza histórica da região, uma das ações deste projeto é criar condições adequadas de hospedagem. A fazenda Santa Cecília, construção do século 18, é um bom exemplo do avanço deste projeto. O hotel oferece quartos amplos, com todos os confortos modernos, sem perder as características do passado. Com 20 suítes, a Santa Cecília dispõe de piscina, açude para pescaria, passeios a cavalo, rios e cachoeiras. Uma das maiores atrações da fazenda é uma capela projetada por Oscar Niemeyer, como presente de aniversário para a atual proprietária, Cecília de Oliveira.