Valor Econômico
28/11/14
Em curva descendente desde maio, quando os sinais de que os Estados Unidos plantariam mais uma safra recorde de grãos começaram a ganhar contornos mais definidos, as cotações dos principais grãos negociados no mercado internacional reagiram em novembro e voltaram ao patamar observado entre os meses de julho e agosto.
Na bolsa de Chicago, conforme cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), a soja encerra o mês com valorização de 6,57% em relação a outubro, ao passo que o milho sobe 6,41% e o trigo, 4,3%. O balanço foi fechado no dia 26. Ontem não houve sessão em razão de um feriado.
Conforme analistas consultados pelo Valor nas últimas semanas, essas altas foram diretamente influenciadas pelos gargalos logísticos que prejudicam o escoamento das colheitas de soja e milho nos EUA (ver a reportagem Escoamento da safra de grãos nos EUA encara trava logística), que se confirmaram as maiores da história nesta safra 2014/15. Mas também refletiram uma demanda em geral aquecida e mesmo o atraso do plantio de soja em Mato Grosso, onde a produção deverá bater novo recorde no ciclo.
Os movimentos dos fundos de investimentos que atuam em Chicago também tiveram sua parcela de responsabilidade, sobretudo no início do mês. Mas essa contaminação financeira, por vezes ligadas ao que acontece em outros mercados, vem diminuindo nos últimos meses.
“Os fundos voltaram a ter entre 10% e 20% das posições [em alguns mercados de commodities agrícolas nas bolsas de Chicago e Nova York], ante 50%, com picos de até 90%, nos últimos anos, em um movimento que elevou em 10% a 15% os preços”, afirmou Alexandre Mendonça de Barros, diretor da consultoria MB Agro, como consta em matéria publicada na quarta-feira neste jornal.
Tanto que, segundo a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), os gestores de recursos (“managed money”) encerraram a semana de 18 de novembro com uma posição líquida comprada de soja em Chicago 25,7% menor que o saldo da semana anterior (30.733 contratos, entre futuros e opções), e mesmo assim a valorização da oleaginosa não perdeu força.
Foi o primeiro sinal de desânimo dos investidores com os preços da soja desde o fim de outubro, quando as apostas baixistas cederam lugar às altistas por conta das tensões com a evolução da safra nos EUA e no Brasil. Mas o reaquecimento da demanda nas últimas semanas ainda pode injetar novo gás às apostas altistas.
Já o milho, que vem de uma escalada de apostas de ganhos desde o início de outubro, ficou com uma posição líquida de compra estável na semana até o dia 18, com 186.954 contratos. Mas a tendência, quando forem contornadas as travas logísticas americanas e a volumosa oferta voltar a prevalecer, é de redução.
Na bolsa de Nova York, o algodão, foi alvo de apostas baixistas dos fundos pela primeira vez desde o início de outubro. Conforme a CFTC, a fibra passou de um saldo comprado de 14.882 contratos, na semana encerrada em 11 de novembro, para um saldo vendido de 3.454 contratos na que terminou no dia 18.
O mercado do algodão também tem sido pressionado pelo aumento da oferta derivado do avanço da colheita nos EUA, mas o arrefecimento da demanda da China, maior país importador da commodity, também aparece como fator baixista. Em Nova York, conforme o Valor Data, os futuros de segunda posição encerram novembro com preço médio 3,46% menor que o de outubro.
O momento do açúcar tampouco tem animado os especuladores, também tendo em vista o enfraquecimento da demanda. A posição líquida vendida do demerara em Nova York cresceu 2,68% na semana até o dia 18, para 54.211 contratos vendidos. E a quebra menor que a prevista da oferta no Centro-Sul do Brasil é outro fator que colabora para que a commodity feche o mês com queda de 2,99% sobre o anterior.
Com o cacau, é a ampla oferta disponível que tem pesado e feito com que os fundos diminuam a aposta na alta da amêndoa. O saldo líquido comprado recuou 3,23% na semana até o dia 18, a 34.999 contratos, e a cotação média em Nova York chega ao fim de novembro 6,23% abaixo da média verificada em outubro. No suco de laranja, houve baixa de 2,85%.
No caso do café arábica, a expectativa é de valorização por parte dos especuladores. A posição líquida comprada em Nova York avançou 3,1% na semana até o dia 18, para 39.157 contratos – ainda assim, o preço médio desabou em novembro (8,5%). (Colaborou Camila Souza Ramos)