26/11/2014
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – As previsões de chuvas volumosas enfim se concretizaram nos ressecados cafezais brasileiros, o que pode favorecer o pegamento dos frutos para a próxima safra se as precipitações seguirem regulares, permitindo também tratos culturais que estavam atrasados por conta da seca, disseram representantes do setor produtivo.
Apesar das chuvas, integrantes de cooperativas e especialistas avaliam que ainda é cedo para falar sobre o tamanho da próxima safra, após meses de déficit hídrico que debilitou as lavouras do maior produtor e exportador global de café. De qualquer forma, todos concordam que o potencial da temporada 2015/16 já foi afetado pela longa estiagem de 2014.
Um bom exemplo das condições secas é o da região de Franca, ao norte do Estado de São Paulo, o segundo produtor de café arábica do Brasil. De acordo com dados da cooperativa local, a Cocapec, choveu no acumulado do ano quase 50 por cento menos do que a média histórica desde 1950, apesar dos mais de 100 milímetros de precipitações dos últimos dias.
“Na região, de sábado para cá, teve ocorrência grande de chuva… (Ontem houve uma) chuvinha mansa, o dia inteirinho, isso é ótimo… São chuvas boas para o pegamento (dos frutos)”, afirmou o gerente de Departamento de Comercialização da Cocapec, Anselmo Magno de Paula.
As chuvas dos últimos dias representaram pouco mais de um décimo do total de precipitações do acumulado do ano na região de Franca, de 758 milímetros, ante média histórica para o período de pouco mais de 1.400 mm.
Para o gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, de Guaxupé (MG), Mário Ferraz, as chuvas efetivamente começaram agora, após várias previsões de tempo chuvoso que não se confirmaram. Ele não considera, portanto, que houve uma regularização das precipitações, algo fundamental para a próxima safra.
“É muito cedo para falar se pegou a florada, se a chuva regularizar, poderemos ter pegamento até bom”, estimou.
Chuvas que começaram esta semana nas principais regiões produtoras de café e de cana do Sudeste do Brasil deverão se intensificar nos próximos dez dias, especialmente no oeste de Minas Gerais, disseram institutos de meteorologia nesta quarta-feira, pressionando os preços do café em Nova York.
Ferraz destacou que as chuvas ficaram fracas e irregulares na maior parte do mês na região da Cooxupé, a maior cooperativa de café do Brasil, com forte atuação no Sul de Minas, principal região cafeeira do país.
“Tem previsão de chuva além da média, mas precisamos ver”, completou.
Para o agrônomo Luiz Geraldo Rezende Reis, da Emater-MG, em Varginha, outro município produtor de café de Minas Gerais, o atraso nas chuvas não permitiu o vingamento satisfatório das floradas. Além disso, o potencial produtivo da próxima safra já havia sido prejudicado severamente pela seca dos últimos meses.
Mas as chuvas recentes, se não revertem os problemas da próxima safra, pelo menos permitem que os produtores possam finalmente realizar os tratos culturais, adiados à espera de precipitações.
“As lavouras estavam amareladas, murchas, e em função da seca os produtores não fizeram os tratos culturais necessários. As adubações e pulverizações ficaram atrasadas”, afirmou Reis.
O atraso nos tratos culturais, que agora devem deslanchar, poderá prejudicar a safra a ser colhida em 2016, acrescentou o gerente da Cocapec.
Fonte: Reuters