Coreia descobre os cafés especiais

24 de novembro de 2014 | Sem comentários Cafés Especiais Produção

Valor Econômico
24/11/14


O consumo de café solúvel ainda predomina na Coreia do Sul, mas as companhias do segmento que atuam no país tem ampliado progressivamente suas aquisições de grãos especiais para a produção de blends de torrado e moído, em linha com a crescente demanda da população local.


Apreciar um bom café, das mais diferentes origens, virou moda no país. E a proliferação de torrefações e cafeterias tende a acelerar a melhora da qualidade da bebida vendida no mercado, conforme observa Chang Sohng, diretor do departamento de trading da M.I.C. Holdings, que tem mais de 30 anos de atuação na área.


A companhia é uma das maiores importadoras de café da Coreia do Sul. Já como parte de um ajuste estratégico aos novos tempos, Sohng, de 32 anos, assumiu as rédeas da M.I.C., fundada por seu pai, no fim da década passada, quando os investimentos na compra de cafés verdes especiais já haviam começado.


Esse movimento teve início há cerca de dez anos, quando o mercado de café como um todo começou a crescer na Coreia do Sul. Sohng estima que hoje existam no país 20 mil torrefadores, 5 mil dos quais atendidos pela M.I.C. A empresa fornece 20% da matéria-prima para a produção de cafés especiais no mercado local e quer elevar a fatia para 50%.


Todos os anos, Sohng visita, em diversos países, as fazendas que produzem o café comprado pela companhia. O Brasil é, de longe, o maior fornecedor, seguido pela Colômbia. “Nós precisamos do melhor café de cada país”, afirma.


Em 2010, a M.I.C firmou um acordo de exclusividade com a CarmoCoffees, de Minas Gerais. A empresa brasileira se tornou, dessa forma, a única fornecedora de cafés do Brasil para a sul-coreana. Em contrapartida, a parceira passou a ser sua única cliente no mercado do país asiático.


Segundo Luiz Paulo Dias Pereira Filho, diretor da companhia mineira, o acordo – que vencerá em agosto de 2015 e poderá ser renovado até 2016 – permite o desenvolvimento da marca CarmoCoffees na Coreia do Sul. O pacto envolve a exportação de cerca de 15 mil sacas de grãos verdes de cafés especiais por ano, com receita equivalente a US$ 6 milhões.


No momento, a CarmoCoffees negocia com a M.I.C. a possibilidade de levar seus cafés também para China e Taiwan. E Sohng, da empresa coreana, diz que também quer estabelecer esse modelo de parceria com empresas de outros países. De acordo com ele, os grãos especiais ainda representam 5% do volume total de café movimentado na Coreia do Sul e o potencial de crescimento é expressivo.


Outra companhia coreana que começou a investir em cafés de qualidade superior é a Hankook Coffee. Há mais ou menos três anos, a empresa começou a importar grãos especiais e, mais recentemente, passou a vender o produto ao consumidor final em uma cafeteria própria, de acordo com o CEO Yang Kwang Jun.


Com a expansão das vendas de cafés especiais na Coreia do Sul, algumas empresas já atuam exclusivamente nesse segmento. É o caso da Terarosa, que já tem oito cafeterias no país e pretende abrir mais duas. Mas, conforme Kim Yongduek, presidente e fundador da companhia, não está nos planos ter mais de 20 lojas, pelas dificuldades em controlar a qualidade em maiores escalas.


A Terarosa tem mais de 90 funcionários e vende café para restaurantes e diretamente ao consumidor final. A empresa, que comercializou 4,5 mil sacas de 60 quilos em 2013 (espresso e café filtrado), importa o grão do Brasil, América Central, Etiópia e de outros países da África. Sua receita atingiu US$ 10 milhões em 2013 e deverá aumentar para cerca de US$ 15 milhões neste ano.


Por mais de 20 anos, Yongduek foi banqueiro. Depois, adquiriu um restaurante, mas deixou de lado a empreitada e jogou as fichas no café, após perceber que o vizinho Japão, que por muitos anos foi o grande fornecedor de cafés da Coreia do Sul, consumia um produto de muito melhor qualidade.


A co-presidente da Terarosa, Lee Yunson, disse ao Valor, durante o evento Café Show, em Seul, que o mercado de cafés especiais na Coreia do Sul foi impulsionado, a partir de 2007, por dois fatores: a valorização da moeda do Japão, cujos importadores de grãos verdes também abasteciam o país – onde os preços quase dobraram -, e por problemas enfrentados pela Etiópia com um produto químico usado no cultivo, que geraram barreiras japonesas às exportações da nação africana.


Diante desses obstáculos, Lee começou a estudar o mercado de café e a participar de concursos de grãos especiais. Passou a identificar melhor a qualidade desses produtos, inclusive os do Brasil.


Na época, lembra, era comum ouvir que o “Brasil é o Brasil”, apenas um fornecedor de grandes volumes da commodity. Para ela, essa generalização não era correta, dadas as muitas opções derivadas da diversidade climática e de solo do país.


Lee afirma que, quando a Terarosa decidiu investir na comercialização de cafés especiais, em 2008, enfrentou muitas dificuldades, já que os consumidores sul-coreanos não sabiam reconhecer a qualidade do produto. Para driblar o problema, diz, a empresa investiu “muito dinheiro e tempo” na educação desses consumidores.


A Terarosa foi uma das pioneiras nesse trabalho, aponta Lee, mas atualmente muitas empresas mantém esforços no mesmo sentido. No caso da Terarosa, tais esforços incluem treinamento de funcionários e mesmo de clientes, já que boa parte deles não sabe preparar ou degustar corretamente o café.


Kim Yongduek estima que o mercado sul-coreano de café torrado e moído poderá triplicar em dez anos e chegar a 100 mil toneladas. As importações do grão totalizaram 120 mil toneladas em 2013. Cerca de 80% da matéria-prima ainda é destinada à produção de café solúvel.


A jornalista viajou a convite da Apex

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