por Fernando Boente
O déficit de chuvas e as altas temperaturas registradas, neste ano, devem fazer com que a maior parte da produção de café do Triângulo Mineiro caia até 20% em 2015. A projeção é apontada por um laudo técnico confeccionado pela coordenação regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Minas Gerais e divulgado na última semana. Conforme o levantamento, a situação climática atípica de 2014 pode fazer com que os produtores colham até 230 mil sacas a menos do que as 1.107.514 previstas, inicialmente, para o ano que vem. Assim, a colheita não ultrapassaria as 877 mil sacas.
Melhora na colheita só ocorreria se as chuvas se estabilizassem (Foto: Cleiton Borges 10/1/2013)
Melhora na colheita só ocorreria se as chuvas se estabilizassem (Foto: Cleiton Borges 10/1/2013)
O laudo que explica a influência do clima quente e seco na colheita de café levou em consideração informações do Sistema de Acompanhamento de Safra da Emater e dados fornecidos por comissões que avaliam as produções dos municípios. A estiagem, segundo este laudo, prejudicou as floradas dos cafezais e causou a falta de água nos mananciais e poços, o que limitou a capacidade de irrigação e potencializou o ataque de pragas e doenças na planta, elevando o custo da produção.
A melhora na perspectiva da colheita só ocorreria, também segundo o laudo, se as chuvas se estabilizarem. “É a primeira vez em anos que há previsão de redução significativa da produção. E isso ainda terá reflexo em 2016. A recuperação será gradativa. E nessa situação, não há o que fazer, não há tecnologia ou assistência. Somos reféns do clima”, disse o coordenador regional da Emater, Ademar Franco Guimarães.
Nivaldo Souza Ribeiro, que é produtor e diretor da Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA), disse que não deve conseguir colher as 45 sacas por hectare previstas para 2015. “Na verdade, são dois anos de anomalia na produção com uma quebra que tivemos em 2013 e a seca, neste ano, em toda região de produção do café arábica do Brasil. Esse prejuízo pode ser ainda maior. Só vamos saber de fato, com números, quando chegarmos a janeiro”, disse.
Colheita é feita 2 anos após plantio
A agricultura do café ocorre de forma bianual, sempre havendo um ano com safra positiva e outro com baixa na produção. A planta é cultivada de forma perene, plantada em um ano para ser colhida dois anos depois. Conforme aponta Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Minas Gerais, a safra de 2015 que deve ser prejudicada foi plantada em 2013.
No Triângulo Mineiro, segundo a Emater, pelo menos 90% da produção do café arábica está polarizada nas cidades de Araguari e Monte Carmelo e distribuída em menor quantidade pelos municípios de Cascalho Rico, Indianópolis, Estrela do Sul, Romaria, Iraí de Minas, Nova Ponte, Pedrinopólis, Santa Juliana, Uberlândia e Tupaciguara.
Estiagem faz com que o preço do produto suba e chegue até ao consumidor
A perspectiva de uma colheita prejudicada, em 2015, devido ao clima seco deste ano está fazendo com que a cotação do café no mercado suba. Conforme a Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA), o grão já chegou ao teto de R$ 450 a saca de 60 kg. Um valor bem acima dos R$ 250 negociados no ano passado, quando os cafeicultores do Triângulo e do Sul de Minas consideram que o setor estava em crise.
Mesmo com a alta, a compensação em relação às perdas de produção por causa do clima seco não é uma certeza, afirmou o diretor da ACA, Nivaldo Souza Ribeiro. “Temos que pensar no consumidor também. O preço vai aumentar nas prateleiras e a demanda interna somada a mundial deve ficar prejudicada. Isso estimula a produção de café em outras localidades”, disse.
Consumo
Estudo do Consórcio Pesquisa Café encomendado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), divulgado também na última semana, revelou que o consumo anual do café no Brasil é um dos que mais cresce no mundo. Em 1990, o consumo brasileiro interno beirava aos 8,2 milhões de sacas e, em 2013, atingiu 20,1 milhões de sacas de até 60 kg. Crescimento que torna o país o segundo maior comprador do produto em âmbito mundial, perdendo, atualmente, apenas para os Estados Unidos.
Leia conclusão da Emater-MG na íntegra
“9 – CONCLUSÃO DO LAUDO.
Levando em consideração as informações do Sistema de Acompanhamento de Safra da Emater-MG e dados fornecidos por comissões que avaliam a safra dos municípios polarizados em Araguari e Monte Carmelo, representando sete dos onze municípios produtores de café da região, sendo estes responsáveis por mais de 90% da produção da regional.
Levando em consideração, o clima quente e seco, que provoca o abortamento das floradas e a falta de água, nos mananciais e poços, limitando o uso da irrigação, além de ataque de pragas e doenças que reduzem e elevam o custo de produção.
Afirmo que a safra sofrerá queda da produção da ordem de 12 a 20 %, podendo ainda ser maior, caso não estabilize as chuvas. Essa redução significa uma perda na produção entre 138.600 à 230000 sacas de café”.
Expectativa de produção
Araguari
500.000 sacas
Monte Carmelo
607.514 sacas
Total de
1.107.514 sacas
Expectativas de perda
138.600 à 230.000 sacas
Correio de Uberlandia