Valor Econômico
Carine Ferreira
A UTZ Certified, programa e selo para o cultivo sustentável de café, cacau e chá, avança no Brasil. A área certificada com café, que em 2002 era de 1 mil hectares, deve chegar a 120 mil hectares este ano. A expansão é resultado de implementação de gestão da própria certificadora, com sede na Holanda, além do reconhecimento do mercado, diz Eduardo Sampaio, representante da UTZ no Brasil.
O Brasil é o maior fornecedor de volume de café certificado para a UTZ, que também comercializa esses produtos. Em seguida, aparecem Vietnã, Honduras e Colômbia.
Globalmente, a UTZ comercializa cerca de 4 milhões de sacas certificadas dentre um universo de 11 milhões a 12 milhões de sacas produzidas com o selo da certificadora. A diferença verificada na venda está em parte que fica no mercado interno e outra parcela que pode também ter selo de outras certificadoras.
No caso do Brasil, são produzidas anualmente com o selo UTZ cerca de 3,8 milhões de sacas. Desse volume, entre 1,2 milhão e 1,4 milhão são exportadas, principalmente para empresas de grande porte da Europa, Estados Unidos e Ásia.
Em cacau, o processo de certificação começou no ano passado e já são 4 mil hectares com o selo UTZ, no sul da Bahia, região que concentra a produção nacional da amêndoa, conforme Sampaio.
A certificação UTZ tem foco na qualidade, gestão e rentabilidade das culturas. Cada uma das frentes implementadas tem métricas de mensuração e avaliação. Para se obter o selo UTZ, há um protocolo com 175 pontos de controle, que vão desde o manejo do solo, da água, podas, fertilização, treinamento de produtores, até a diferenciação dos custos de produção por talhão, explica o representante da UTZ.
Ao abandonar talhão que não é produtivo, o produtor pode exercer a produtividade plena de outros talhões, reitera Sampaio.
Como resultado de uma produção seguindo a “filosofia” da UTZ, em uma propriedade de 10 hectares, o preço de venda do café pode ser R$ 40 superior à cotação do produto convencional, considerando o valor da saca entre R$ 350 e R$ 400, exemplifica Sampaio. Entretanto, os valores variam muito. “Para um pequeno produtor, R$ 15 mil a mais de [receita] por ano é bem vindo”, diz ele.
Entretanto, não existe um “prêmio” fixo. Ele varia muito, de R$ 5 a R$ 25 por saca, mas existem casos de acréscimo de R$ 100 por saca, comenta Sampaio. Além disso, com a gestão eficiente, o cafeicultor pode baixar o seu custo de produção e seus cafés podem atingir outros mercados.
Entre alguns memorandos de entendimento que a UTZ firmou no Brasil está com o programa Caminho Sustentia, com a multinacional de agroquímicos e sementes Syngenta.
Iniciado em 2013, foi realizado o primeiro ciclo desse projeto, que envolve a certificação coletiva de propriedades para a produção de cafés de alta qualidade, atrelada à exportação dos produtos.
Na primeira etapa, estava previsto inicialmente o envolvimento de 800 pequenos agricultores, mas foram certificadas 143 unidades produtivas, representando 120 produtores e oito cooperativas. As unidades certificadas pelo programa abrangem uma área de 3.491 hectares e produção de 103.781 sacas.
Foi mantida a meta, estabelecida no início do programa, de 10 mil produtores certificados em cinco anos, afirma Giuliano Tozzi, diretor de especialidades da Syngenta no Brasil.
As propriedades certificadas no primeiro ciclo e em fase adiantada no processo de auditoria estão no Sul e Cerrado Mineiro, Paraná e Espírito Santo, segundo Juan Gimenes, gerente de novos negócios da Syngenta Nucoffee.
Para Tozzi, o programa conseguiu demonstrar que houve uma criação de valor na produção certificada de café. “O valor de um café não está somente no sabor de uma xícara. Está na sustentabilidade, na origem”.
Os cafés produzidos dentro do programa são exportados para os clientes do Nucoffee – este programa mais amplo abrange desde troca de defensivos por sacas de café, consultoria para a produção de grãos de qualidade superior, rastreabilidade e comercialização do produto para o mercado externo de diferentes regiões.