O Estado de S. Paulo
04/11/14
Resultado negativo de US$ 1,177 bilhão supera a baixa de US$ 939 milhões obtida em setembro; no ano, déficit é de US$ 1,871 bilhão
A balança comercial fechou outubro com déficit de US$ 1,177 bilhão – divulgou nesta segunda-feira, 3, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Trata-se do pior resultado para o mês desde 1998, tal qual aconteceu em setembro, quando foi obtido déficit de US$ 939 milhões. O saldo negativo acumulado no ano é de US$ 1,871 bilhão.
O resultado, no entanto, veio melhor do que a mediana do mercado, segundo pesquisa do AE Projeções, serviço da Agência Estado. O levantamento que ouviu 14 instituições previa déficit de US$ 900 milhões a US$ 1,7 bilhão, com mediana negativa em US$ 1,35 bilhão.
O secretário de comércio exterior, Daniel Godinho, avaliou que dois fatores tiveram um desempenho divergente do esperado pelo ministério e pelos analistas de comércio exterior. Segundo ele, um dos fatores foi a queda de preços internacionais mais acentuada que o previsto neste ano. “A expectativa era de que o preço se acomodasse em patamar mais baixo que em 2013, mas a queda foi maior que o previsto pelo MDIC e pelos especialistas”, comentou.
Godinho disse que o minério de ferro teve queda no preço na ordem de 20% esse ano em relação a 2013. Somente em outubro, o recuo foi de 40%. Segundo o secretário, se os preços estivessem no mesmo patamar do ano passado, as exportações de minério de ferro teriam sido US$ 5,4 bilhões a mais.
Outro fator que afetou negativamente a balança, afirmou Godinho, foi a queda forte na demanda da Argentina, terceiro parceiro comercial e principal comprador de manufaturados brasileiros. Segundo ele, a demanda da Argentina por produtos brasileiros caiu 27% no ano. A procura por manufaturados diminuiu 29% e de automóveis, 44% no acumulado do ano.
Expectativa. Apesar do novo recorde negativo em outubro, Godinho mantém a previsão de um superávit comercial em 2014. Ele destacou, no entanto, que é preciso esperar o resultado da balança em novembro que será decisivo para confirmação dessa expectativa.
Segundo Godinho, dezembro é um mês tradicionalmente superavitário. Isso porque há um esforço do lado das exportações para fechamento de contratos e diminuições de estoques. Também há menor importação de insumos por causa da produção industrial menor no começo do ano.
O secretário também acredita que deve haver uma melhora na chamada conta-petróleo, principalmente por conta do aumento da produção e das exportações. “Há uma concentração de aumento da produção de petróleo nos últimos meses do ano”, afirmou.
Godinho também espera uma melhora nas vendas de minério de ferro, com possível aumento da quantidade embarcada em novembro e dezembro, além de uma continuidade do aumento da exportação do complexo carne que cresceu 5% de janeiro a outubro e 11% somente em outubro.
Ritmo de queda. No geral, as exportações brasileiras tiveram queda de 19,7% em outubro, quando comparadas com a média diária de outubro de 2013. As vendas externas de manufaturados caíram 30,3% no período, principalmente porque no ano passado houve uma plataforma de petróleo que não se repetiu em outubro de 2014.
Também houve recuo de óleos combustíveis, automóveis de passageiros e aviões. O grupo de básicos teve uma retração de 15,4%, queda puxada por soja em grão, minério de ferro, milho em grão e minério de cobre. Nos semimanufaturados, houve um recuo de 1%, principalmente, por conta de óleo de soja em bruto, ouro em forma semimanufaturada e açúcar em bruto.
As vendas brasileiras em outubro para União Europeia caíram 40,4%, explicado principalmente pela plataforma de petróleo embarcada no ano passado. As exportações para a Ásia tiveram queda de 25%, sendo que para a China decresceu 43,8%. Para o Mercosul, o recuo foi de 22,2% e, para Argentina, de 35,9%. Os embarques no mês passado para os Estados Unidos caíram 0,3%.
Em alta, café e celulose. A exportação brasileira de café em grão no mês de outubro (23 dias úteis) alcançou 3,094 milhões de sacas de 60 kg, o que corresponde a uma elevação de 6,07% em relação a igual mês do ano passado (2,917 milhões de sacas). Em termos de receita cambial, houve crescimento de 51,6% no período.
Já as exportações de celulose alcançaram 1,095 milhão de toneladas em outubro, crescimento de 19,41% na comparação com o mesmo mês do ano passado.Em receita, a celulose exportada chegou a US$ 511,9 milhões no mês passado, uma alta de 6,2% na comparação anual.