Seca e volatilidade: novos fatores Por Carlos Brando

2 de setembro de 2014 | Sem comentários Mais Café Opinião

CaféPoint – 26/08/2014


Por Carlos Henrique Jorge Brando


Apesar do tamanho real das perdas não ser ainda conhecido – o café colhido está sendo beneficiado agora de forma plena –, vale a pena discorrer aqui sobre três fatos relevantes: a convergência das estimativas da safra de arábica, os grandes volumes exportados pelo Brasil em 2014 e as floradas precoces.


ESTIMATIVAS: ARÁBICA VS. CONILON


O gráfico abaixo mostra que a variação entre as previsões de safra de arábica não está tão grande quanto a volatilidade do mercado parece indicar. Realizadas pelo Procafé, de Varginha, pela Conab e pelo Departamento de Agricultura Americana (USDA), as três estimativas mostram números totais bastante diferentes, mas como resultado de disparidades muito maiores na safra de conilon que na de arábica. A estimativa mais alta de conilon está 37% acima da estimativa mais baixa enquanto o mesmo número é apenas 11% no caso do arábica! Isto não deveria provocar menor volatilidade no mercado do arábica?


“VOLATILIDADE” DAS PROJEÇÕES – 2014 (em milhões de sacas)



 





Na verdade, arábicas e conilons tem características diferentes mas são substitutos em muitos mercados e produtos. Assim, a disponibilidade ou falta de um interfere com o preço do outro, razão porque não faz sentido analisar os dois mercados de forma totalmente isolada. A “arbitragem” – a diferença de preço entre os dois tipos de café – está sob escrutínio permanente de torrefadores e da indústria de solúvel quando tomam decisões de compras de matéria-prima e composição (“blend”) de seus produtos.


Em resumo, a grande amplitude das previsões da safra total brasileira em 2014 cria volatilidade no mercado de arábica apesar das disparidades nas estimativas estarem concentradas no conilon, como mostrado no gráfico.


EXPORTAÇÕES ALTAS


Os altos volumes exportados pelo Brasil em 2014 e um possível novo recorde para o ano não deveriam confundir especialistas e analistas de mercado. Estes números elevados são resultado do uso de estoques acumulados em anos anteriores, que estão sendo utilizados e não serão repostos pela safra menor deste ano. Um cálculo simples mostra que, partindo da safra média no gráfico acima – 45 milhões de sacas –, se for subtraído o consumo local de 21 milhões e os 3,5 milhões consumidos pela indústria de solúvel restarão apenas 21,5 milhões de sacas, o que corresponde a apenas dois-terços das exportações brasileiras em anos recentes… e o restante estará saindo dos estoques que estarão praticamente exauridos para ajudar na safra de 2015, quando a falta do café deverá ser realmente sentida pelo mercado.


Exportações alimentadas por estoques associadas a uma colheita que começou mais cedo e foi mais curta que o usual criaram uma impressão falsa de disponibilidade de café que está agora se mostrando irreal. A colheita de arábica realmente começou a entrar nos armazéns de cooperativas e exportadores em volumes altos e de maneira rápida porque a colheita foi antecipada como resultado do clima quente. Entretanto este ritmo não se sustentou porque a colheita está terminando mais cedo.


FLORADA PRECOCE


As chuvas breves que caíram no final de julho e início de agosto provocaram floradas em algumas regiões. Entretanto estas floradas não devem “pegar” porque não deverão ser acompanhadas de chuvas necessárias para transformar as flores em cerejas. Esta será uma perda adicional do potencial de produção de 2015 que já foi afetado pela seca de 2014.


O fenômeno de chuvas rápidas em plantações já sofrendo de “stress” hídrico intenso pode continuar e causar novas perdas antes das floradas principais que deverão ocorrer nos próximos meses e começarão a definir o real tamanho da safra de 2015.


A cafeicultura brasileira deve voltar suas atenções à mitigação das mudanças climáticas, que parecem estar aí para ficar. A irrigação é a resposta mais óbvia mas não necessariamente a mais barata e sustentável. Assim mesmo, ela não resolve os problemas de altas temperaturas – que causaram o enegrecimento de grãos em áreas irrigadas –, radiação ultra-violeta excessiva e floração precoce, por exemplo. Há bastante pesquisa sobre o assunto e mais seria bem-vinda mas o que falta mesmo é transformar o resultado das pesquisas em recomendações práticas para os cafeicultores, a exemplo da “Caixa de Ferramentas” proposta pela Iniciativa Café e Clima e dos atuais esforços para unificar e simplificar as sugestões de mitigação.

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