por Janio Zeferino da Silva
Dizem os entendidos em café que: “que nunca se sabe tudo de café porque cada safra é diferente das que passaram” e “que café vive mais de boatos do que de fatos”.
Concordo em parte com o paradigma de que cada safra traz novos ensinamentos e surpresas, porque tudo na vida está em constante mudança e evoluindo, por isso é que a vida não se repete.
Quanto aos boatos e os fatos, o que mudou é a velocidade da sua disseminação e os estragos que produz na cadeia produtiva.
Hoje, uma palavra dita em Varginha em poucos minutos chega a Bolsa de Nova York e impacta dos preços para cima ou para baixo. Portanto, a responsabilidade e custo das opiniões ganha ainda mais relevância.
Da mesma forma, um fato comprovado nas Matas de Minas também tem esse poder de mudar expectativas, estratégicas e mexer com o mercado.
Com relação a safra atual, desde junho/2013 se sabia que a safra seria menor por conta de alguns fatores tais como:
– baixo trato cultural pela queda de preços;
– antecipação de tratos culturais em lavouras mais antigas para reduzir custos de produção;
– erradicação e abandono de lavouras no Paraná, São Paulo e Minas Gerais;
– geadas que praticamente aniquilaram os cafezais paranaenses.
Esses fatos não são novidades, e, mesmo considerando que a safra 2013/2014 seria de bianualidade positiva era consenso que não haveria aumento na produção.
Para completar o quadro tivemos o calor excessivo no início de 2014 que foi a pá de vale na produção e na produtividade das lavouras de arábica com impactos significativos global, salvando-se as lavouras irrigadas e alguma microcosmos privilegiados.
Desde então estamos assistindo periodicamente opiniões de “especialistas” e lideranças prevendo produções de 40 a 60 milhões de sacas neste ano.
Porque os números são tão díspares?
A razão principal é o interesse de quem os produz e divulga, já que esses prognósticos causam oscilações nas bolsas de café do Mundo e atendem interesses imediatistas de elevação ou queda de preços e como sempre o produtor é quem paga a conta das oscilações.
Além disso, temos a CONAB e o IBGE divulgando previsões oficiais com bases de dados diferentes e que sempre causam confusões em leituras apressadas dos números produzidos. Enquanto a CONAB olha a safra em função das expectativas de produção e pondera a bianualidade, o IBGE compara a produção esperada com a safra passada gerando indicadores conflitantes. E aí, “especialistas” tiram vantagem dos números para tentar influir nos preços futuros e no mercado à vista.
Somando-se a esse burburinho ainda tem o estoque de passagem que é outro fator que desestabiliza as cotações por conta das discrepâncias entre os dados oficiais e os de mercado.
Neste ano, ouvimos dizer que o Brasil tem café suficiente para atender o mercado internacional até 2016 o que momentaneamente reduziu preços presentes e futuros.
Porém, o fato é que desde o início do ano os importadores aceleram o ritmo de compras e já se garantiram até o final do ano a preços remuneradores para o produtor quando comparados o valor pago em 2013, mas que serão ainda menores que os que pagarão em 2015.
Uma conta simples explica a real possibilidade de bons preços em 2015:
Estoque de passagem – 16 a 19 milhões sacas
Safra 2013-2014 – 43 a 45 milhões sacas
Consumo interno – 20 a 22 milhões sacas
Exportação – 34 a 36 milhões sacas
Estoque para 2015 – 5 a 6 milhões sacas
Com um volume tão baixo em janeiro/2015 não teremos café nem para cumprir os compromissos iniciais de exportação e consumo interno razão pela qual os importadores anteciparão compras e firmarão contratos para assegurar suprimento, já que em 1 ano nenhum país consegue suprir essa demanda e nem considerei o aumento do consumo mundial estimado entre 2 a 3% pela OIC.
Portanto, acredito que a safra 2014/2015 ainda será uma safra com baixa produção por conta do clima e da resposta que a planta dará aos tratos culturais e que em 2016 voltaremos a normalidade se nada de novo em termos de clima acontecer.
Diante disso, penso que a estratégia ideal é fazer vendas programadas que garantam lucro, já que “produto na tulha” como se dizia antigamente não é dinheiro e nem reserva de valor e os riscos de especular no mercado não compensam a segurança de uma lavoura bem cuidada e do dinheiro em caixa para aproveitar as boas oportunidades que sempre surgem.
Janio Zeferino da Silva
Consultor em agronegócios