“- Garçom, tem manose demais no meu café!”: nova técnica desenvolvida por pesquisadores brasileiros visa detectar, com facilidade, substâncias fraudulentas no café.
Logo ao acordar, após o almoço, durante o expediente ou os estudos, o café é uma das fontes de energia preferidas por milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas quanto do seu “cafezinho” é realmente café?
Cientistas do Departamento de Química da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, apresentaram um teste para a detecção de café falsificado, ou seja, misturado com impurezas (soja, milho, cevada, açaí e outras) frequentemente adicionadas para aumentar o volume do produto vendido, em exposição realizada em São Francisco, na Califórnia.
Os adulterantes não necessariamente representam risco à saúde do consumidor, mas podem comprometer a qualidade e o sabor do produto final, e sua detecção em meio ao café torrado e moído se torna muito complicada: “[n]ão podemos ver este tipo de adulteração a olho nu”, afirmou Suzana Nixdorf, pesquisadora da UEL que estuda métodos de avaliação do café há mais de 20 anos. Para Nixdorf, a microscopia, técnica usualmente empregada, pode ser subjetiva, além denão determinar a porcentagem de impurezas inserida no pó de café.
O novo método desenvolvido por Nixdorf utiliza um cromatógrafo, equipamento que separa os componentes, no caso, carboidratos, de uma mistura e provê o observador de gráficos contendo as proporções relativas de cada componente. A técnica funciona a partir da comparação entre os perfis de açúcares encontrados nas plantas que produzem os diversos tipos de café e nas que produzem as impurezas acrescidas ao café.
Assim, os tipos de açúcar mais abundantes nas espécies vegetais são utilizados como marcadores na fase de detecção de sua presença em uma amostra. A análise do café arábica, por exemplo, revelou que a galactose é o sacarídeo (açúcar) predominante neste tipo de café. Por outro lado, no triticale — adulterante comum, híbrido de trigo e centeio —, abunda a glicose, enquanto que, no açaí, predomina a manose.
Com o uso do cromatógrafo, é possível distinguir substâncias presentes em misturas aparentemente homogêneas de café e impurezas “com 95% de precisão”, segundo Nixdorf. A pesquisadora ressalta também ser possível avaliar a contaminação por partes da planta do café que não o próprio grão, como galhos e folhas, uma vez que estas partes se caracterizam por proporções distintas de carboidratos.
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Sobre o autor – Luiz Guilherme Trevisan Gomes
É graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Atualmente, cursa o MBA em Controladoria e Finanças na Universidade de São Paulo (USP). Entusiasta da razão e da ciência, fundou o espaço de divulgação científica Make It Clear Brasil, em 2013.