A trajetória de um ‘barão’ improvável

08 jul 2014


Valor | Por Marcos de Moura e Souza | De Monte Carmelo


Ele tem a fama de ser o dono dos maiores plantios do café do Brasil. Um “barão do café” do século XXI. Antônio Francisquini Baptista tem 78 anos e uma história improvável de sucesso. Foi cobrador e motorista de ônibus e depois pequeno agricultor, com alguns poucos pés de café.


“Hoje eu tenho mais de 20 milhões de pés, uns 25 milhões”, disse ele ao Valor na quinta-feira em seu escritório apertado em Monte Carmelo, onde os visitantes têm se acomodar entre uma mesa velha de madeira e um arquivo de ferro enferrujado.


Francisquini afirma logo que não quer ser fotografado. Sequestrado em 1992 em Maringá, no Paraná, onde vivia, ficou 29 dias em cativeiro. Desde então, evita expor-se em fotos. Quando recebeu a reportagem trajava uma camiseta polo surrada, tanto quando a calça e os sapatos. Produtores do município dizem que até pouco tempo ele dirigia um Santana rodado pela cidade.


O sequestro influenciou sua vinda para Minas, para a região do Cerrado. A maior parte de suas “vinte e poucas” fazendas de café – como ele as contabiliza – estão na região. “Nossa área plantada total é de 8 mil hectares, incluindo os 900 hectares em Luis Eduardo Magalhães, na Bahia”, diz. São mais ou menos 200 mil sacas por safra.


Ele, os filhos e a ex-mulher conduzem os negócios de uma maneira que a muitos parece antiquada. Tira de seu caixa a maior parte dos recursos que precisa para investir e dá solenemente as costas para as negociações no mercado futuro. “A gente geralmente colhe para depois vender Não negociamos nada no mercado futuro”, afirma.


“O que eu tenho hoje ganhei com as geadas. Nas de 1963, 1967, 1972, 1975, 1986, 1994, 2001 e 2002. O café de R$ 300 ia para R$ 3 mil. Eu sempre tenho estoque, sempre fico com uma safra nas costas. É um estoque geralmente de 100 mil, 150 mil sacas”, diz. “Se acontecer de vir uma geada de novo, o café vai a R$ 3 mil, R$ 4 mil”, prevê, otimista.


Francisquini não dá muita bola para o trabalho de valorizar a região do cerrado como um sinônimo de qualidade. Diz que para ele, com tamanha produção, isso não pesa em seu negócio.


Mas partilha com seus pares a preocupação com o clima. “A safra 205/2016 já está afetada. Foi muito pouca chuva de setembro para cá. As plantações não se vestiram, não cresceram o suficiente para florar. Se não chover o suficiente entre setembro e outubro, a produção vai fazer isso”, fazendo um sinal de redução com os polegar e o indicador.

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