Só protestar não dará aos países emergentes maior acesso aos mercados ricos. A ONU alerta para o crescente número de barreiras estabelecidas pelos países ricos contra os produtos das economias emergentes com base em justificativas sanitárias e ambientais. Para superar essas medidas protecionistas, a entidade afirma que países emergentes, entre eles o Brasil, precisam formular novas estratégias e fortalecer produções alternativas, como a de produtos orgânicos. “Países em desenvolvimento precisam superar barreiras comerciais com novas idéias”, afirmou Supachai Panitchpakdi, diretor da Conferencia da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
A idéia da Unctad é que esses países passem a desenvolver estratégias para aproveitar das barreiras e criar novos nichos de mercado, como o desenvolvimento da agricultura orgânica. Segundo a definição da ONU, a produção orgânica é que prova ser sustentável economicamente, que respeita o meio ambiente e minimiza eventuais riscos para a saúde do consumidor.
O Brasil é o quinto país com maior área plantada destinada a produtos agrícolas orgânicos no mundo, mas esse espaço é pequeno quando relacionado à extensão territorial. Em 2004, 803 mil hectares eram destinados à agricultura orgânica. O Uruguai, com território bem menor que o do Brasil, já continha 760 mil hectares certificados como áreas de agricultura orgânica em 2004; a Itália tinha 1 milhão de hectares.
A liderança no ranking é da Austrália, com 11,3 milhões de hectares, seguido pela Argentina com 2,8 milhões. Nos dois países, grande parte dessa terra é usada para pastos para gado. No total, a ONU estima que existam cerca de 26 milhões de hectares em 550 mil propriedades que cultivam produtos orgânicos em todo o mundo.
Em termos porcentuais, os europeus estão na frente, com 6,3 milhões de hectares no continente destinados à produção orgânica. A Áustria tem 10% da terra arável ocupada produtos orgânicos. A América Latina tem 6,2 milhões de hectares; estados Unidos e Canadá, 1,4 milhões. A entidade reconhece que a área para agricultura orgânica, no Brasil, cresce ano a ano, apesar de o processo de registro de terras custar caro. Além disso, os países emergentes não contam com recursos suficientes para competir com os orgânicos europeus e americanos, que são subsidiados.
O levantamento da ONU mostra que esse mercado já movimentou US$ 27 bilhões em 2004 e cresce 20% ao ano nos Estados Unidos. No México, 85% dos produtos orgânicos são exportados e representam 8% da pauta do comércio exterior do país. Um produtor de soja, estima a ONU, terá 138% mais ganhos do que o produtor de soja convencional. No caso do tomate, os ganhos podem ser de 184% a mais nos Estados Unidos. Já o exportador de banana e de carnes que vender seu produto na Alemanha terá ganhos entre 77% e 89%.