O setor de contêineres no país passa por um momento de acomodação, após o bom desempenho de 2004 e 2005, quando apresentou crescimento médio de 20%. Projeções de grandes terminais que operam nas regiões Sul e Sudeste arriscam avanço de no máximo um dígito para 2006, com base na redução geral da demanda – queda nas exportações e leve aumento das importações. No balanço geral, a disponibilidade de contêineres vazios está aumentando.
Para a Santos Brasil, que opera o maior terminal de contêineres do país, os números do primeiro trimestre indicam que o avanço este ano ficará em torno de 6%. A movimentação da empresa cresceu 26% em 2005. “Temos uma perda média mensal de 2 mil Teus, principalmente devido aos efeitos da febre aftosa, que atingiu a exportação de carnes”, diz Antônio Carlos Duarte Sepúlveda, diretor-executivo do terminal instalado no porto de Santos. No ano passado, a companhia movimentou pouco mais de um milhão de Teus (sigla em inglês para contêineres de 20 pés).
Os efeitos dessa retração já são sentidos no custo dos fretes e na locação de contêineres. A entrada de contêineres vazios no terminal da Santos Brasil caiu de 26% do total no primeiro trimestre de 2005 para 21%, no mesmo período deste ano. Isso demonstra que não há tanta necessidade de trazer contêineres vazios do exterior.
A GE Seaco, uma das maiores locadoras do mundo no setor, está fechando contratos com armadores na base de 90 centavos de dólar por dia para contêineres do tipo padrão (20 pés), cerca de 10% abaixo do valor de um ano atrás. “Esses valores variam segundo a quantidade e o prazo de locação dos contêineres, mas também podem sofrer alterações segundo outros fatores do mercado. Os 90 centavos de dólar são para contratos de longo prazo (de três a cinco anos)”, explica Julio Magalhães, gerente de vendas da Seaco.
Uma grande armadora, há dezenas de anos operando na rota brasileira, afirma que “a equação se inverteu, está sobrando espaço nos navios, pois a demanda da exportação caiu”. Um dos expedientes que a empresa está usando para não embarcar contêineres vazios e não deixá-los parados é utilizar o equipamento da modalidade “reefer”, dotados de tomadas para refrigeração, para produtos normais, com a máquina desligada. “É uma forma de reduzirmos custos”, diz um executivo.
No porto de Itajaí (SC), segundo o gerente de negócios Leônidas Ferreira, os contêineres frigorificados ainda não estão sendo usados para cargas secas. Mas a movimentação em geral vem caindo, principalmente por conta do embargo russo às carnes suínas e dos reflexos do menor consumo de frango na Europa devido à gripe aviária. O porto sentiu a diminuição no movimento de congelados em cerca de 2% em janeiro, 6% em fevereiro e de 6,7% em março.
Com a queda acentuada nos embarques de produtos como frango, calçados, fumo e resinas petroquímicas, de um lado, e a modesta evolução nas importações de máquinas e insumos para a indústria, de outro, estão sobrando contêineres também em Rio Grande (RS). Nos dois primeiros meses deste ano, o número de equipamentos vazios “exportados” do porto gaúcho para outros terminais ao redor do mundo subiu 86,6% em comparação com o mesmo período de 2005, para 2.284 unidades. Já os fretes caíram de 20% a 25% desde o fim do ano passado.
“Os armadores fazem a redistribuição de acordo com a necessidade do mercado”, diz o presidente do Terminal de Contêineres (Tecon) de Rio Grande, Paulo Bertinetti. Segundo ele, as dificuldades enfrentadas pelos exportadores do Rio Grande do Sul, provocadas sobretudo pela valorização do real e pela retração de consumo nos países importadores (novamente o caso da carne de frango) estão fazendo com que a demanda de carga seja menor do que a oferta de contêineres e de espaço nos navios.
Bertinetti destaca que se a situação não mudar, em breve os armadores começarão a embarcar carga geral em contêineres refrigerados para recolocar os equipamentos em portos onde haja maior demanda.
O Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) já estima crescimento menor em 2006. No ano passado ele faturou R$ 142 milhões, 10% mais que os R$ 129 milhões do exercício anterior. O diretor-superintendente do TCP, Mauro Marder, contou que agora prevê incremento de 5% nas receitas.
Os principais produtos embarcados pelo terminal estão enfrentando problemas. A carga frigorificada, que representa 30% da movimentação, foi prejudicada pela febre aftosa e a gripe aviária. A exportação de madeira, que responde por cerca de 32%, também caiu, principalmente por conta do câmbio.
No geral, os portos brasileiros devem movimentar este ano 4,2 milhões de contêineres, volume cerca de 13% maior do que os 3,7 milhões de unidades de 2005. O crescimento será menor do que o registrado no ano passado, quando, na comparação com 2004, a movimentação subiu 16,7%. O presidente da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público (Abratec), Sérgio Salomão, estima que o movimento em Santos vá crescer cerca de 15% este ano. Ele projetou ainda um incremento médio de 12% na movimentação dos outros principais terminais de contêineres do país.
“Atribuo o menor crescimento de 2006 a fatores conjunturais”, disse Salomão, citando como exemplos a valorização do real e a gripe aviária. Ele afirmou que, em 2005, 44% da movimentação de contêineres foram para exportação, enquanto 43,9% corresponderam à importação. Outros 12,1% foram relativos à navegação de cabotagem. (*Para o Valor)