ThomsonReuters – 28/04/2014, 21:58 GMT
By Janaina Carvalho
Topics:TB Entrevista
Nesta segunda-feira, o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café, Nathan Herszkowicz, disse no chat do TB que já existem comentários dos industriais e cafeicultores das regiões mais afetadas pela seca, que haverá na autal safra uma quantidade maior de grãos defeituosos que em safras normais.
O diretor afirmou que a indústria está repassando gradualmente seus novos custos, sendo que no, esses aumentos estão entre 10% e 15% na prateleira, mas isto ainda não cobre todo o aumento do grão cru que subiu 100%. Portanto, é de se esperar novos realinhamentos.
Veja a íntegra da entrevista que durou aproximadamente 1 hora:
TRADING BRAZIL – A Abic divulgou em 10 de abril uma avaliação de que a safra brasileira será de 47 milhões de sacas este ano do Brasil. A Abic não está otimista demais, considerando que a seca e as altas temperaturas do início do ano atingiram proporções sem precedentes? Considerando que a Conab estimou a safra passada em pouco mais de 49 milhões de sacas…
NATHAN HERSZKOWICZ – Efetivamente a ABIC não divulgou previsão porque não realiza levantamentos de campo. Usamos os números da CONAB e aqueles que o mercado divulga. As 47 milhões de sacas eram na época, um valor que os próprios traders consideravam que poderia ser alcançado e coerente com o mínimo da primeira estimativa da CONAB. Hoje a situação é outra e os números são menores.
TB – Como a quebra de safra de café no Brasil está afetando os negócios? De maneira geral, as indústrias mudaram sua atuação nas compras?
NH – A grande mudança e grande desafio é acompanhar a volatilidade do mercado. A indústria recompõem seus custos e realinha seus preços de forma lenta e gradual ao passo que o mercado responde diariamente às variações das cotações. Esse desequilíbrio é muito prejudicial para a indústria e vai exigir dela em 2014 e 2015 uma atitude diferente com relação aos custos, políticas, informação de estoques e políticas de compra do grão. Os aumentos das cotações do grão não podem alcançar níveis perigosos que afetem tanto o consumo quanto estimulem o plantio desordenado em todo mundo. Nessas condições, o governo precisa estar atento para lançar mão de políticas que tranquilizem o mercado, reduzam a volatilidade e inclusive disponibilizar para venda os seus estoques.
TB – Quando o senhor considera que o governo poderia vender seus estoques? Já? Ou antes do início da safra 2015, quando provavelmente os estoques estarão ainda menores?
NH – A decisão de venda dos estoques compete exclusivamente ao governo. Sem dúvida a ele interessa muito mais atuar no mercado de forma a regularizar cotações e transações, mesmo agora, quando as cotações estão muito acima do preço de aquisição, do que reter esse estoques para especular com preço em 2015. O que importa, parece, é agir no mercado para abastecê-lo sem prejudicar o ganho do cafeicultor e o consumidor final.
TB – O mercado de café tem estado bem volatil nessas últimas semanas, mas o que vemos no mercado é que, apesar da volatidade alta, os preços não estão ruins. Não seria interessante o produtor fixar seus preços via bolsa? Eles não estariam arriscando muito para ganhar um pouco mais? Teoria do vai subir mais.
NH – Pergunta difícil, mas vamos lá…. a decisão de proteger em bolsa, ou não, é uma decisão difícil e caso a caso. Produtores sem amparo ou experiência podem colocar quantidades menores em bolsa e com isso ganhar experiência em operações maiores no futuro. Entretanto, é importante que o produtor tenha a certeza de que terá quantidade suficiente do café no tipo que a bolsa exige na época da realização do contrato.
TB – Através dos últimos relatórios do IPCC – (Intergovernmental Panel on Climate Change) vemos uma tendência evidente de mudança climática (com foco no aumento da temperatura) já na próxima década, e como sabemos, muitas veriedades do café são bastante senssíveis à variações na temperatura e umidade. Como o setor, de modo geral, se prepara para enfrentar tais mudanças estruturais, podendo claramente reduzir zonas agrícolas destinadas históricamente a cultura do café, iniciando novas competições com outras culturas, etc.? Já há planos de manejo nesse sentido no futuro próximo? Existe algum estudo da Associação sobre impactos nos preços?
NH – As ocorrências climáticas anteriores, especialmente de secas, que substituíram a geada como preocupação do cefeicultor, especialmente pesquisadores, cooperativas e o Consórcio Embrapa Café, seriam menores se lançassem no melhoramento genético de variedades resistentes à seca. Ao mesmo tempo cresceu o conhecimento sobre os benefícios da irrigação, sombreamento e outros recursos naturais de proteção do cafeeiro. Acredito que esta questão ficará bem resolvida em futuro próximo. Acredito também que as regiões produtoras de café já estão definidas e que não haverá mudanças significativas, mas sim medidas de proteção mais eficientes. Quanto ao estudo de preços, a ABIC não realiza estudos, pois depende de cada empresa individulamente. No caso dos preços do café em grão cru o que vale é o que mercado estabelece, e a ABIC acompanha e fornece informações quase diárias aos seus associados.
TB – O senhor citou que as “cotações estão muito acima do preço de aquisição”. Cafeicultores têm tentado renegociar contratos de venda de café da colheita que está apenas começando? Alguma de notícia de quebra de contrato?
NH – Não temos nenhuma notícia de quebras de contratos e de preços estabelecidos. No Brasil, a tradição de respeitar contratos é bastante séria. O Brasil é um bom entregador.
TB – Que tipo de avaliação tem chegado à indústria sobre a safra brasileira? A qualidade do café será um problema contornável na safra que está começando a ser colhida? E, voltando à pergunta inicial, quanto menor será esta safra em relação à expectativa antes da seca?
NH – A qualidade é um fator muito preocupante para a indústria, mas somente poderá ser avaliada com o transcorrer da colheita. Estamos no início, e no começo sempre se colhe cafés de menor qualidade. Alguns comentários de cafeicultores e industriais sediados nas regiões produtoras mais afetadas indicam que de fato existirá uma quantidade ainda não determinada de grãos defeituosos, maior que em safras normais. Peneiras menores, grãos mau formados e chochos. Além de reduzir o volume, poderão reduzir a qualidade de parte da nossa produção. Industriais tanto quanto comerciantes de café terão muito trabalho e cuidado para evitar o uso desses grãos defeituosos porque a melhoria da qualidade é um motor do aumento do consumo e o consumidor quer mais qualidade. A ABIC através de seus programas Selo de Pureza e PQC (Programa de Qualidade do Café), reforçará seu monitoramento do café industrializado disponível no mercado, de modo a proteger as indústrias e os consumidores.
TB – A indústria já começou a repassar preços mais altos do café ao varejo? Quanto da alta de preços já chegou aos consumidores?
NH – A indústria está repassando gradualmente seus novos custos. No mercado, esses aumentos estão entre 10% e 15% na prateleira, mas isto ainda não cobre todo o aumento do grão cru que subiu 100%. Portanto, é de se esperar novos realinhamentos.
TB – A Abic ainda projeta a possibilidade de o Brasil superar os Estados Unidos no consumo de café em volumes? Quando isso aconteceria?
NH – Nosso consumo aqui cresceu. Mas o consumo nos EUA cresceu também e eles continuam na nossa frente…. o desafio agora é outro. Crescer mais do que 3% ao ano, isto é, aumentar em 800 mil sacas a demanda da indústria parece ser um objetivo mais interessante do que passar na frente dos EUA…..