A balança comercial do primeiro trimestre deste ano, de US$ 6,07 bilhões, surpreendeu o mercado, que contava
com um volume superior de exportação da soja. Em março, no entanto, houve superávit de US$ 112 milhões
Mariana Mainenti
A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 6,07 bilhões no primeiro trimestre de 2014. Esse é o pior desempenho em 21 anos. Em igual período do ano passado, também houve déficit, mas um pouco menor, de US$ 5,15 bilhões, de acordo com números oficiais. Levando-se em conta somente o mês de março, houve superávit de US$ 112 milhões, segundo informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic). Mas esse montante é considerado pequeno. Segundo analistas, os embarques de soja em março foram menores do que o esperado.
“Não esperava um resultado tão baixo no mês de março, porque os embarques de soja já começaram. Houve uma antecipação e em março já foram embarcadas 6,229 milhões de toneladas. É quase o dobro do que exportamos no mesmo mês do ano passado: 3,536 milhões de toneladas. Levando em conta os três primeiros meses do ano, saímos de 4,495 milhões de toneladas em 2013 para 9,049 milhões de toneladas em 2014. Foi decepcionante”, disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
“Isso sem levar em conta o fato de que pagávamos um preço de US$ 540 por tonelada e hoje pagamos US$ 503”, acrescentou. Nos três primeiros meses de 2014, as exportações somaram US$ 44,58 bilhões, com média diária de US$812 milhões, que representa uma queda de 4,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já as importações totalizaram US$ 55,66 bilhões, equivalentes a US$ 912milhões em média por dia útil, com redução de 2,2% sobre o primeiro trimestre de 2013.
O preço das commodities (produtos básicos cotados embolsa de mercadoria) também preocupa. “Apenas quatro itens estão conseguindo recuperar as cotações: suínos, bovinos, frango e café”, destacou o presidente da AEB. O petróleo é outro fator que ajudou a desequilibrar a balança. “A Petrobras anunciou um aumento de 10% na produção em 2014 e metade desse crescimento seria destinada às vendas externas, mas ainda não vimos o impacto disso nas exportações”, disse Castro.
A menor previsão de exportações de plataformas também prejudica a balança. “No primeiro trimestre de 2013 tivemos um déficit de R$ 5,1 bilhão, mas exportamos ao longo do ano sete plataformas, no valor total de R$ 7,7 bilhões, o que compensou o desequilíbrio. Agora, estamos com um déficit de R$ 6 bilhões e vamos exportar somente duas plataformas, no valor de R$ 2,5 bilhões”, comparou Castro. “Por isso, acho que agora estamos numa situação de equilíbrio na balança comercial, mas com viés de déficit no fim do ano”, previu o executivo da AEB. Para a sócia da BarralMJorge Consultores Renata Amaral, se houver um superávit em 2014, será pequeno.
“De até US$ 2 bilhões”, estimou. Segundo ela, o resultado de abril poderá vir melhor, porque é esperado que seja contabilizado um volume maior de exportações de soja e o novo patamar cambial associado à redução do consumo doméstico deve reduzir as importações de alguns produtos. Mas a perspectiva para o ano não é muito animadora. “Deve haver uma melhora na balança, mas não expressiva. Estamos com problemas nos preços das commodities. Nos baseamos muito nas exportações de produtos básicos nos últimos anos, vivemos uma desindustrialização”, lembrou.
De acordo com dados do governo, as vendas ao exterior de produtos semimanufaturados recuaram 11,4% no trimestre, enquanto que as exportações de manufaturados caíram 9,5%. Já as vendas de produtos básicos subiram 2% nos três primeiros meses deste ano.
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