Mercado de commodities em ebulição

São Paulo, 06 de março de 2014.

Por
Fernando Lopes, Mariana Caetano e Fernanda Pressino
tt

O Brasil está no “olho do furacão”. Adversidades cl
imáticas no país influenciaram as
valorizações de cinco das principais commodities ag
rícolas comercializadas no exterior em fevereiro, e
essa “pressão altista”, ainda que possa perder fôle
go em alguns segmentos, tende a perdurar em março.
Particularmente no mercado de grãos, às intempéries
se uniu o aprofundamento da crise política na
Ucrânia, que já ajudou a elevar as cotações nos últ
imos dias.

Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais
dos contratos futuros de segunda posição
de entrega (normalmente os de maior liquidez) negoc
iados nas bolsas de Nova York (açúcar, café,
cacau, suco de laranja e algodão) e Chicago (soja,
milho e trigo) mostram que os oito produtos
encerraram o mês em patamares superiores aos de jan
eiro. O peso brasileiro se fez notar, em maior ou
menor escala, nos mercados de açúcar, café, suco, s
oja e milho. O país é o maior exportador dos
quatro primeiros.

Outros dois fatores ajudam a completar a equação qu
e resultou nas valorizações observadas no
mês passado. O primeiro é a perda de ímpeto do dóla
r, que abriu espaço para as altas nas bolsas dos
EUA na medida em que reduz a competitividade da pro
dução americana. Não que essas altas,
determinadas por fundamentos, não fossem acontecer,
mas talvez elas fossem menores com um dólar
mais forte.

O segundo fator está ligado aos movimentos dos fund
os de investimentos, que muitas vezes
colaboram para maximizar tendências. E, conforme da
dos da Comissão de Comércio de Futuros de
Commodities (CFTC, na sigla em inglês), os gestores
de recursos (“managed money”) elevaram no
mês passado apostas na valorização de grãos, café e
açúcar.

O milho, que em janeiro refletia o pessimismo dos e
speculadores, encerrou a semana de 25 de
fevereiro com uma posição comprada de 87.516 contra
tos (entre futuros e opções) em Chicago. Já o
saldo de posições compradas em soja avançou 3,8% em
relação aos sete dias anteriores, para 202.996
contratos – número próximo do saldo de 230 mil cont
ratos comprados que os fundos detinham durante
a grave seca de 2012 nos EUA, como observa Pedro De
jneka, analista da PHDerivativos.

“Mas, no momento em que o mercado voltar a prestar
atenção nos fundamentos reais, a onda
de vendas pode – e deve – ser fortíssima”, afirma D
ejneka. De maneira geral, lembra, o mercado conta,
por exemplo, com uma área plantada com soja nos Est
ados Unidos na próxima safra (2014/15) maior
do que indicam as estimativas oficiais. Conforme a
primeira projeção do Departamento da Agricultura
dos EUA (USDA), essa área deverá alcançar 32,2 milh
ões de hectares, ante 31 milhões em 2013/14.
Em Nova York, o café registrou posição líquida de c
ompra de 27.866 contratos na semana
encerrada em 25 de fevereiro, depois de ter termina
do janeiro com um saldo vendido de 5.454
contratos. Trajetória semelhante foi trilhada pelo
açúcar demerara. Os fundos, que também vinham
vendidos, rumaram fortemente para apostas “altistas
“. O saldo líquido de compra da commodity ficou
em 21.818 contratos na semana até 25 de fevereiro,
ante posição vendida de 26.489 contratos na
semana anterior.

Diante da conjunção positiva criada para os preços
– e depois das fortes baixas de 2013 – o café
emergiu como o grande destaque de fevereiro. A cota
ção média dos contratos de segunda posição da
commodity na bolsa nova-iorquina foi quase 30% supe
rior à de janeiro e atingiu o pico desde outubro
de 2012. E as preocupações com o déficit hídrico no
Centro-Sul do Brasil, amplificadas depois da seca
de janeiro, seguem vivas e ainda provocam grandes a
ltas, como a de ontem (9,1%).

No mercado de açúcar, que também espelha o temor co
m os efeitos da estiagem no Centro-Sul
brasileiro sobre o volume e a qualidade da cana, so
bretudo em São Paulo, a cotação média registrada
em fevereiro foi 6,74% maior que a do mês anterior.
No mesmo barco está o suco, já que os pomares
paulistas igualmente amargaram falta de chuvas. No
mês passado, o preço médio do produto foi
16,22% superior ao de janeiro em Nova York, e o pat
amar alcançado foi o maior desde abril de 2012.
Sem influência do Brasil, cacau e algodão também re
gistraram valorizações.

A força brasileira volta a aparecer nos fatores que
impulsionaram os grãos em Chicago no mês.
Com o empurrão dos problemas causados pela estiagem
no Sul e pelas chuvas em Mato Grosso – nas

últimas semanas -, a cotação média da soja subiu 5,
02% em fevereiro na comparação com janeiro,
enquanto a do milho foi 4,29% superior. Nos dois me
rcados, são as maiores médias desde setembro de
2013, já que depois disso os preços haviam entrado
em rota de acomodação por conta da recomposição
da oferta mundial.

Em alguma medida, uma provável volta a essa tendênc
ia dependerá dos rumos da crise política
na Ucrânia nas próximas semanas. Quinto maior expor
tador de trigo do mundo, o país, que também
vende volumes consideráveis de milho no exterior, f
oi fundamental nas valorizações de preços em
Chicago registradas no início desta semana.

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