Foi elaborado um projeto de pesquisa aprofundado sobre a qualidade dos cafés produzidos na Fazenda Juliana, município de Monte Carmelo
Por Daniela Noves – Rede Social do Café
O Brasil é o maior produtor e exportador de café e o segundo maior consumidor do mundo, despontando como um dos maiores fornecedores mundiais de cafés especiais, diferenciados por sua qualidade e agregação de valores socioambientais.
Nesse mercado, são mais valorizados os cafés que apresentem elevada qualidade física e sensorial e que possuam perfil sensorial equilibrado e atributos qualitativos distintos dos demais cafés, principalmente em termos de aroma, sabor, doçura, acidez e corpo. O crescimento desse mercado é resultado da valorização e reconhecimento da qualidade e diversidade dos cafés brasileiros em um trabalho contínuo e integrado de diversos setores do agronegócio. Neste contexto, a pesquisa científica exerce papel de destaque, gerando e transmitindo conhecimentos, capacitando recursos humanos e possibilitando a aplicação dos resultados para atender a demanda por qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade.
Atendendo a esta crescente demanda, foi elaborado um projeto de pesquisa aprofundado sobre a qualidade dos cafés produzidos na Fazenda Juliana, município de Monte Carmelo, região do Cerrado Mineiro, coordenado pela professora Doutora Rosemary Gualberto F. A. Pereira. O projeto foi executado pelo discente do curso de mestrado Bruno Batista Ribeiro, do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras, que defendeu sua dissertação de mestrado na última semana com o tema “Perfil sensorial de cafés de diferentes cultivares em relação às faces de exposição das plantas e processamentos pós-colheita”, parte do extenso trabalho executado.
A análise sensorial detalhada é uma das principais ferramentas para a avaliação da qualidade do café, possibilitando além da identificação de atributos sensoriais, a pontuação do café, o que permite atender e competir em mercados diferenciados.
Em sua dissertação, Bruno Ribeiro identificou o potencial de cultivares para a produção de cafés especiais. “O que esse trabalho trás de benefício para o produtor é o mapeamento da propriedade. O mapeamento dá direcionamento de atuação ao produtor. Além de mapear e conduzir uma colheita direcionada e um processo de pós – colheita para cada tipo de cultivar, o produtor consegue economizar e produzir café de qualidade. A descrição do perfil do café é uma forma de oferecer um cardápio do produto e observar qual a cultivar que apresenta potencial para cada tipo de mercado” explicou o pesquisador. “Na condução da pesquisa na Fazenda Juliana foram realizados diagnósticos e estudos sobre cada cultivar como o histórico do plantio e da qualidade de cada café. Os processamentos pós-colheita foram executados da mesma forma, para que pudéssemos verificar as diferenças entre as cultivares. É importante destacar que o mapeamento da propriedade deve ser feito todo ano devido às mudanças climáticas e precipitações. Esse processo é uma forma de identificar esses cafés para atender o mercado de cafés especiais e também praticar uma logística melhor da colheita proporcionando praticidade no campo”, completou Bruno.
Na pesquisa foi avaliada a qualidade sensorial de cafés de 6 cultivares de café arábica, Iapar 59, Paraíso MG H 419-1, Obatã IAC 1669-20, Catuaí Vermelho 144, Bourbon Amarelo e Topázio MG 1190 colhidos em diferentes faces de exposição das plantas e submetidos a 2 tipos processamentos pós-colheita. A análise sensorial foi realizada de acordo com o protocolo da Specialty Coffee Association of America – SCAA com provadores credenciados pelo Coffee Quality Institute – CQI.
Rosemary Gualberto F. A. Pereira, professora e orientadora, destacou a importância do projeto, o desempenho e desenvolvimento profissional de Bruno e a excelência da parceria com a Fazenda Juliana. “Inicialmente foi elaborado um projeto amplo com várias ações, entre elas o diagnóstico da produção e processamento do café, o mapeamento da qualidade e a aplicação de procedimentos corretos na colheita e pós-colheita, visando potencializar a qualidade, agregar valor, reduzir custos e permitir a melhor rastreabilidade dos cafés”, explicou Rosemary. Segundo a professora, o êxito obtido é fruto não só da dedicação e do caráter científico da pesquisa mas do envolvimento, ética e responsabilidade de Bruno, de toda a equipe da Fazenda Juliana e da UFLA. “A visão empresarial, confiança e atenção dispensada por Renato Baiardi foram e são exemplares, sempre estimulando o espírito empreendedor e valorizando as pessoas. Bruno apresentou como dissertação uma parte de todo o trabalho realizado, ele executou também análises físicas e químicas avançadas, cujos artigos estão sendo redigidos e treinou toda a equipe com os conhecimentos adquiridos em seus estudos. O trabalho foi ponto de partida para novas ações de valorização da qualidade na região do Cerrado Mineiro, o que é gratificante! Agradeço aos co-orientadores professores da UFLA Rubens José Guimarães e Antônio Nazareno Guimarães Mendes pela confiança e pelo empenho na viabilização do que foi necessário para as viagens e execução” completou a professora.
Renato José Baiardi, empresário e proprietário da Fazenda Juliana, parceiro da UFLA há 4 anos, assistiu a apresentação da dissertação de Bruno. “Alguns trabalhos já foram feitos em minha fazenda, inclusive o do Bruno. Teve um trabalho inicial, ainda não concluído do Professor Douglas Ramos Guelfi Silva, do Departamento de Ciência do Solo da UFLA, sobre as redes de certificação com a análise de gases decorrente de adubação. Com isso, minha fazenda ficou exposta mundialmente”, contou. “Ano passado tive uma visita de um grupo de americanos interessados em cafés especiais e o trabalho que o Bruno fez sobre qualidade fez com que eles comprassem o meu café com preço com pagamento de prêmios. Então posso dizer que, mesmo o Bruno ainda na fase de mestrado, eu já estou sendo beneficiado pelos resultados do trabalho que ele fez. Fiquei muito feliz, acho que o resultado das pesquisas vão se estender por toda região, mesmo sendo uma coisa que nunca quis especificamente para a minha fazenda. O trabalho que ele fez foi muito positivo e vai nos levar a um patamar diferenciado em termos de comercialização de café”, contou Baiardi.
Gladyston Rodrigues Carvalho, pesquisador da Epamig e membro da banca avaliadora, comentou que o trabalho despertou muito interesse devido ao fato do aluno ter explorado novas cultivares. “Quanto mais trabalho nessa linha, trará tranqüilidade aos agricultores em renovarem seus parques cafeeiros e buscar aquilo que talvez é comum em outros países e não é comum no Brasil , que é a busca por cafés diferenciados. Outros pontos interessantes observados foi a busca da luz em relação as faces de exposição do sol e também a região escolhida: o cerrado mineiro, que tem um relevo bem plano , além do fator que afeta a ocorrência de doença, que é um outro segmento. Bruno trabalhou também na forma de amenizar o impacto da radiação solar no período da tarde, tudo isso com foco na qualidade. Além disso, buscou uma região tradicional que é a do cerrado mineiro e lá é possível trabalhar alinhamento de lavoura. A interação da variedade das cultivares novas com a face de exposição na região do cerrado fez do trabalho uma pesquisa relevante e trouxe algumas linhas que precisam ser avançadas. O aluno apontou alguns resultados importantes e inovadores e cabe a seqüência do trabalho pra contribuir pra produção de cafés especiais no país” , explicou o pesquisador.
A qualidade do café é quesito indispensável para o consumidor, que está cada vez mais preocupado com o sabor, aroma e higiene do produto que consome, procurando um café especial com qualidade relacionada aos cuidados com o café, sua origem, procedimentos e cuidados na produção adotados pelos cafeicultores, com práticas sustentáveis e socialmente responsáveis.