14/02/2014
A lavoura de café, que contribuiu para o desenvolvimento econômico de São Paulo e auxiliou no processo de industrialização, praticamente não existe mais na região de Sorocaba. Poucos agricultores investem na cultura cafeeira, mas a bebida tradicional no Brasil vem ganhando apreciadores, que se interessam em conhecer a história, as variedades e os métodos de preparação. Com isso, o café recebe valor agregado, seja pela venda direta ao consumidor (em grãos para máquinas de expressos ou em pó), em cafeterias especializadas e até mesmo por meio do turismo rural em antigas fazendas, que ainda são mantidas no interior de São Paulo.
A engenheira agrônoma e proprietária da Fazenda Santo Antônio da Bela Vista, em Itu, Maria Isabel Scarpa de Arruda Reul, acredita que a dificuldade para mão de obra na colheita e secagem, além do beneficiamento e torragem dos grãos, além da baixa nos preços, tornou raras as propriedades que cultivam café na região, inclusive em Itu, conhecida historicamente pelas fazendas de café. Algumas transformaram-se em hotéis-fazenda, aproveitando o potencial turístico. A pastagem para bois e os canaviais substituíram os cafezais, que se estendiam pela zona rural.
Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Bahia, Rondônia e ainda São Paulo são os principais Estados produtores de café. Em São Paulo, a região de Franca é o principal polo. A safra ocorre de maio a julho. O País se mantém como principal produtor e exportador de café, além de que o consumo da bebida é plenamente difundido. A safra de 2013, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foi de 49,15 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado, dos quais 38,29 milhões da espécie Arábica e 10,86 milhões da espécie Conilon. A área plantada no País é de 2,311 milhões de hectares, nos quais foram contabilizados 5,67 bilhões de pés de café, e as exportações chegaram a 32,01 milhões de sacas, com faturamento de US$ 5,27 bilhões, conforme a Conab.
A alta produção no Brasil e em outros países, como Vietnã e Colômbia, tornou o preço pouco vantajoso para produtores brasileiros. “É muito difícil ver algum agricultor partir para a cultivo de café em São Paulo”, diz Maria Isabel. Geralmente, são áreas plantadas há algum tempo. Os pés de café podem ultrapassar os 100 anos e começam a produzir comercialmente aos 4 ou 5 anos. “A primeira florada acontece aos dois anos e meio.” Na Fazenda Santo Antônio da Bela Vista, os pés de café mais antigos têm 40 anos. O replantio está sendo feito gradativamente na propriedade.
Maria Isabel é filha, neta, bisneta e trineta de cafeicultores. O pai, Célio Arruda, morreu no ano passado e o marido, Robert Reul, a ajuda na fazenda. A tradição, portanto, vem de gerações, que Maria Isabel mantém com orgulho. Além de produzir café, que fornece para a empresa de torrefação e moagem São Bento, em Sorocaba, Maria Isabel é proprietária da Cafeteria Gamela, na rua Paula Souza, 547-B, no Centro de Itu, e promove visitas monitoradas à fazenda, inclusive para escolas e grupos de terceira idade. Na cafeteria, fora o cafezinho feito na hora, ela vende diretamente a consumidores o café em pó ou em grãos, para levar para casa.
Segundo Maria Isabel, o tipo de café cultivado na fazenda é o arábico, mais comum em Minas Gerais. “No Espírito Santo, é mais o Conilon”, diz ela. “Atualmente, os cafés gourmet têm sido valorizados pelas pessoas que sabem apreciar suas qualidades, como aroma e gosto característicos.” Ela lembra que muitos cafés vendidos em supermercados são misturados, arábico e conilon, por isso não podem ser classificados como gourmet.
Maria Isabel ressalta que a cada remessa para a empresa de torrefação, uma amostra é analisada, a fim de comprovar a qualidade. “São feitos testes e o café é degustado. Há um controle para a classificação, portanto, um café de melhor qualidade é mais caro que o comum, pois precisa ter características especiais”. Um pacote de 500 gramas de um bom café custa a partir de R$ 15 para o consumidor, conforme a engenheira agrônoma.
Um bom café
Alguns cuidados são essenciais para fazer o café em casa, avisa Maria Isabel, que também é barista. Em primeiro lugar, um café de qualidade; deve-se usar sempre água filtrada e sem deixar ferver muito. Assim que começar a borbulhar, desliga-se o fogo. Um café moído na hora é melhor. Também não se deve estocar grande quantidade de café nem guardá-lo em potes transparentes.
O recipiente tem que ser opaco para não deixar passar a luz, assim o sabor e o aroma do café são preservados por mais tempo. O consumidor deve preferir embalagens de 250 a 500 gramas e verificar na embalagem do café industrializado se tem o selo de pureza da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). O controle evita que sejam misturados outros ingredientes ao café, como cevada, milho e centeio.
Os atrativos turísticos de Itu, berço da República e conhecida pelos seus “exageros”, como o semáforo e o orelhão gigantes, além das igrejas históricas e museus, contribuíram para a ida de visitantes à cafeteria, para experimentar o tradicional café. As visitas à fazenda Santo Antônio da Bela Vista fazem parte do circuito das fazendas históricas paulistas. São realizadas aos sábados e domingos e, durante a semana, para escolas e grupos de terceira idade, sempre com agendamento prévio pelo telefone (11) 4023-1335. Ela classifica o turismo como rural-pedagógico.
Copa do Mundo
A chegada das seleções da Rússia e Japão, que ficarão hospedadas em Itu para a Copa do Mundo, deve movimentar o turismo regional. A proprietária da fazenda se prepara para o aumento do número de visitas monitoradas. “Estrangeiros têm interesse em saber porque o café brasileiro é famoso no mundo inteiro e também conhecer uma parte da história do Brasil”, diz. Segundo Maria Isabel, o agendamento de visitas para junho já começou e a equipe de uma televisão japonesa já esteve na propriedade para produzir reportagem, antes mesmo da divulgação de Itu como cidade que iria abrigar a seleção do Japão.
Na visita monitorada à Fazenda Santo Antônio da Bela Vista, famílias e grupos conhecem desde o plantio, nos cafezais até o café pronto para degustação. Maria Isabel explica que, depois de colhido, o café é colocado para secar, no terreiro, pavimentado com tijolos, e depois na máquina de secagem, que é antiga. Ainda com a casca (também conhecida como palha) e colocado na máquina de beneficiamento, que separa os grãos, e depois torrado. A palha volta para o campo e serve para adubo. Se o café for para máquinas de expresso é mantido em grãos ou, então, moído para se fazer o pó. Os equipamentos da fazenda são antigos, de meados do século 20.
Fonte: Cruzeiro do Sul