A exportação de alimentos para o Oriente Médio bateu recorde em 2013, ano em que melhorou também a qualidade do comércio de agrícolas e também de processados
Fernanda Nunes
Tem pão de queijo mineiro na mesa árabe. De fato, terá — ainda neste primeiro trimestre. A empresa Forno de Minas fechou contrato para exportar pela primeira vez à região um lote de 26 toneladas do produto, integrando um movimento iniciado ainda em 2013, de crescimento de embarcações de alimentos nacionais processados, não apenas commodities agrícolas. O ano de 2013 foi recorde nas vendas de alimentos aos países árabes — 17 milhões de toneladas, um crescimento de 3,5% sobre o ano anterior.
O inusitado do comércio, entretanto, está no valor e não apenas no volume. Em meio à crise internacional — e, principalmente, à dificuldade maior de venda à Argentina — o câmbio, somado a um esforço empresarial, resultou numa melhora da qualidade da troca comercial, apesar das barreiras impostas pela cultura. Michel Alaby, diretor-çeral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, conta que o empresariado brasileiro se esforçou, inclusive, para se adaptar às tradições alimentares locais. Antes de fechar o contrato, a Forno de Minas, por exemplo, foi obrigada a enviar brasileiros para ensinar os árabes o tempo exato para assar o pão de queijo e demonstrar que o alimento cai bem com chá e café, bebidas tradicionais na culinária local.
Da mesma forma, os doces exportados foram mais adocicados e alguns conservantes comumente usados por aqui foram retirados por serem terminantemente proibidos por lá. “O árabe gosta do frango pequeno, com cerca de um quilo, para que seja consumido em uma única refeição e não sobre nada para guardar na geladeira”, descreve Alaby.
Todo esforço de adaptação é para ampliar ainda mais o volume e o valor dos embarques já em 2014 e alcançar novo recorde a partir do comércio de uma nova e mais extensa pauta de alimentos — como geleias e frutas — e de itens de outros segmentos industriais, como equipamentos médico-hospitalares, cosméticos, calçados, couros e material de construção — alguns deles, produtos castigados no período de valorização do real frente ao dólar, por causa da concorrência acirrada com importados.
“Quando se supera a venda do produto em sacas ou a granel, evoluindo para embalagens individuais voltadas ao consumidor final, a mercadoria possui valor intrínseco. Por exemplo, há empresas exportadoras de açúcar refinado que obtiveram certificação, estampam a marca em suas embalagens e ainda rotulam em árabe. É um grande diferencial” , ressalta o diretor da Câmara.
O produto líder nas exportações à região continua sendo a carne, responsável por um comércio de US$ 4 bilhões, alta de 3% em 2013, comparado ao ano anterior; com destaque para o frango congelado em pedaços. Só isso já indica um avanço no intercâmbio comercial entre as duas localidade, pois, até então, as vendas eram prioritariamente de aves inteiras, menos valorizada do que a processada. Com essa transformação, o Brasil conseguiu expandir os ganhos com a venda de aves em 11%, alcançando US$ 2,1 bilhões em 2013. Na mesma linha, cresceram as vendas de outros alimentos de maior valor agregado, no último ano, como açúcar refinado, café de alta qualidade e os derivados da soja.
As vendas aos árabes não datam, na verdade, de agora. O caminho foi aberto pelos produtos agrícolas, diante da grande oferta de grãos no mercado brasileiro e da necessidade crescente de importação de alimentos da região.
Nessa corrente de oportunidades, a capixaba Império café, por exemplo, começou a vender vender o seu grão ainda em 2006 e hoje já comercializa para Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Jordânia, Líbano, Líbia e Síria. E tem como meta ampliar em 30% as embarcações.
Da mesma forma, a vinícola gaúcha Cave Antiga — produtora de espumantes, vinhos e sucos de uva — fechou o primeiro embarque no ano passado, em novembro. Com o contrato acertado, enviará uma remessa de 130 caixas de suco de uva para o Sultan Center, distribuidor baseado no Kuwait. Até que concluísse a negociação, foram quatro meses de conversa, de idas e vindas, com a ajuda de representantes da Câmara e do governo brasileiro. Mesmo diante de tanto esforço, o diretor de Comércio Exterior da empresa, Jorge Antônio, está confiante em novas oportunidades. “A gente acredita que a relação vai ser algo a longo prazo”. Neste momento, o foco é atingir o mercado dos Emirados Árabes, que, segundo o executivo, funciona como um “um canal de expansão no mundo árabe. Lá, é possível estabelecer uma relação mais ampla com o mundo árabe”, prevê.
A Câmara Árabe trabalha mesmo com a expectativa de que a região continue dependente da importação de alimentos e que o “câmbio continue mais depreciado, favorecendo as exportações brasileiras”, comemora Alaby.
BRASIL