Novas obras da CBA, do grupo Votorantim, na Zona da Mata, aumentam o impasse com órgãos ambientais e cafeicultores |
Bernardino Furtado, enviado especial Muriaé – A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do grupo Votorantim, está mergulhada num grande projeto de expansão que exigirá complexas negociações com órgãos ambientais e cerca de 1,9 mil famílias de agricultores que se dedicam especialmente à cafeicultura. Maior detentora das reservas de bauxita da Zona da Mata, principalmente no município de Itamarati de Minas, a empresa trabalha numa nova frente mineradora que terá como base uma estação de lavagem de minério associada a uma barragem de contenção de rejeitos. A obra, em Miraí, está em fase adiantada e terá capacidade para produzir 3 milhões de toneladas de minério lavado. A estação será alimentada, principalmente, pelas 33 jazidas ainda virgens que a empresa detém na Serra do Brigadeiro. As áreas estão na chamada zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro e algumas têm superposições com o perímetro da unidade de conservação. Procurada pelo Estado de Minas, a CBA solicitou um questionário por escrito. Depois de uma semana, negou-se a informar o volume das reservas no entorno do parque. Alegou que as pesquisas minerais estavam em andamento. No entanto, em nota publicada em sua página na internet, a CBA informou que as reservas que abastecerão a estação de Miraí equivalem ao dobro das jazidas que detém na região de Itamarati de Minas. A CBA é a única mineradora de bauxita do município. Segundo a versão de 2005 do Anuário do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), as reservas de bauxita de Itamarati de Minas, as maiores do Centro-Sul do país, somam 95,8 milhões de toneladas. A barragem em construção de Miraí fica a cerca de 20 quilômetros dos blocos de jazidas da CBA no município de Rosário da Limeira, já na zona de amortecimento do parque estadual. Na mesma nota na internet, a empresa informou que a primeira fase do projeto de expansão, com capacidade de produzir 1 milhão de toneladas por ano de bauxita lavada, seria concluída em 2006. Até o fim da década, dois novos estágios, de 1 milhão de toneladas anuais cada, seriam concluídos. No total, seriam investidos US$ 30 milhões. Na resposta por escrito enviada à reportagem, a CBA disse que “são poucas as áreas de bauxita dentro da zona de amortecimento do parque”. A empresa minimizou também os impactos sobre as nascentes de água que abastecem a bacia do Rio Paraíba do Sul e sobre a população de mono-carvoeiros do parque, considerada a maior conhecida atualmente dessa espécie de macaco, ameaçado de extinção. “A lavra de bauxita é pontual e abrange uma área muito pequena, interferindo pouco no meio ambiente. Portanto, não ameaça a população de macacos”, respondeu a CBA. A empresa informou ter contratado uma empresa de consultoria para traçar um perfil da população dos municípios onde atua na Zona da Mata. Segundo a CBA, esse estudo servirá de base para uma proposta geral de compensação das famílias proprietárias e arrendatárias de terras nas áreas de bauxita. A empresa diz que, após a negociação com os agricultores, poderá haver indenização por lucro cessante em caso de destruição das lavouras e pastagens. |