Entrevista Creuzo Takahashi – Presidente da Copermonte

14 de outubro de 2013 | Sem comentários Cafés Especiais Produção
Por: Fonte: Revista Link

Guto Rizental compartilhou a foto de Copermonte – Cooperativa Agrícola de Monte Carmelo.
Entrevista com o Presidente da Copermonte






Segue matéria concedida pelo Sr. Creuzo Takahashi – Presidente da Copermonte, à Revista Link de Monte Carmelo e Região.


A força do Cooperativismo no Cerrado
 
Nessa edição entrevistamos Creuzo Takahashi, um dos pioneiros da cafeicultura na região do Cerrado e um dos fundadores da Copermonte – Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Monte Carmelo. Em conversa aberta tratamos dos assuntos pertinentes ao futuro do agronegócio café. Falamos das primeiras épocas e da fundação da cooperativa que acaba de plantar raízes em território Norte Americano o que contribuirá para movimentar mais de R$200 Milhões só em 2013.
 
HÁ QUANTO TEMPO E COMO SE DEU SUA VINDA PARA MONTE CARMELO?

Eu sou Paranaense de Paranavaí, me formei em agronomia pela USP em São Paulo e vim para Minas Gerais. Primeiramente para São Gotardo em 1974. Era funcionário da Cooperativa Agrícola de Cotia e como achei esta região muito promissora para o cultivo de café comprei uma propriedade aqui em 1978 e viabilizei a instalação de uma filial da cooperativa na cidade. Vim para Monte Carmelo definitivamente em 1981.
 
COMO FOI A CRIAÇÃO DA COPERMONTE?

Em 1993 a Cotia faliu e nós tivemos a ideia de absorver a estrutura que já existia e criamos a Copermonte. Durante alguns anos nós revezamos a presidência entre Toshimitsu Kato e eu. A partir de 2006 assumimos a cooperativa em tempo integral.
 
EM QUE LOCAIS A COOPERATIVA OPERA ATUALMENTE?

Atualmente a cooperativa atua em três locais no Brasil e também nos Estados Unidos: Monte Carmelo, Campos Altos, Indianópolis e o escritório próximo a São Francisco nos EUA. Temos capacidade de armazenagem para 400 Mil sacas de café estático e capacidade de recebimento de até 550 Mil sacas. Contamos com cerca de 150 colaboradores, movimentando algo próximo de R$200 Milhões. Só em janeiro deste ano movimentamos algo em torno de R$11 Milhões o que nos abre uma perspectiva de faturamento superior à
do ano passado.
 
 
QUAL O FOCO DA COOPERATIVA?

A Copermonte é uma cooperativa de produtores com foco no produtor. Todos os cooperados são produtores. Como cooperativa, nossa intenção não é a de gerar lucro, mas também não podemos gerar prejuízo. A gente antecipa muitos benefícios aos cooperados, por exemplo, para os armazéns que construímos não pegamos dinheiro do cooperado nem aval em garantia.
Tudo foi investimento da própria cooperativa e estas dívidas vão sendo liquidadas parceladamente com as sobras aferidas em cada período. No exercício de 2012, tivemos uma sobra de aproximadamente R$1 Milhão, que devem ser direcionados para liquidar o investimento que fizemos.
 
PODEMOS DIZER QUE A EMPRESA TRILHA CAMINHOS PROMISSORES?

Podemos dizer, portanto, que a cooperativa está sim num bom caminho, dentro das previsões que a gente sempre fez. É claro que muitas vezes nos preocupamos com oscilações de preços e crises de mercado, então nós – a diretoria – decidimos que não vamos fazer investimentos nos próximos 2 anos, buscando consolidar o crescimento da cooperativa e posteriormente fazendo uma nova meta de crescimento.
 
E QUAIS SÃO AS PERSPECTIVAS PARA O MERCADO NOS PRÓXIMOS ANOS?

A gente vê que o mercado de um modo geral está bastante volátil, dizendo de outra maneira, não está muito equilibrado. Agora, em termos de café acreditamos muito, nós confiamos no café, principalmente aqui na região em que estamos. Primeiro, porque o processo de produção é todo mecanizado. Não há região no Brasil que possa mecanizar totalmente como aqui no Cerrado. Segundo, pela qualidade conseguida com nosso café. Somos privilegiados pela altitude, estamos entre 800 e 1.100 metros, o que propicia uma qualidade de café superior, então o preço é melhor também. Outro aspecto é a tecnologia, a infraestrutura e o pessoal que toca a lavoura. Aqui o pessoal está um nível mais alto em se comparando com outras regiões produtoras. No Cerrado não existe mais espaço para agricultura atrasada, hoje é tudo com tecnologia, o produtor tem de ser também um administrador de empresas. Nós aprendemos a tocar a lavoura de forma diferente.
 
COMO LIDAR COM AS CONSTANTES VARIAÇÕES NO PREÇO DA BEBIDA?

Vamos dizer assim, o café obedece historicamente um ciclo de altos e baixos. Pensando nisso, nós começamos a exportação direta. A primeira exportação já chegou nos Estados Unidos. Vamos vender diretamente para as cafeterias, não mais para as torrefadoras. Esse café que estamos oferecendo é a nata do café produzido pelos nossos cooperados, algo equivalente a mais ou menos 10 % da produção total. É um produto Premium e tem portanto um preço maior, uma agregação melhor de valor. A gente acredita muito nesse projeto.
 
ACREDITAM TANTO QUE JÁ ABRIRAM ESCRITÓRIO NOS EUA?

Tanto é que nós já temos escritório lá, perto de São Francisco. Já temos o armazém alugado, quatro funcionários da Copermonte que lá se chama Coopermonte USA. Uma empresa que já existe, que é da cooperativa, ou seja, é de todos os cooperados. Então, o que esperamos é que este projeto seja um caminho para gente passar mais facilmente pela crise.
 
COMO PASSAR MAIS FACILMENTE PELA CRISE?

Normalmente estas variações acontecem em ciclos de 5 anos. Hoje, porém, as cooperativas oferecem novas ferramentas que auxiliam o produtor a atravessar estes momentos difíceis. Um exemplo é a venda futura de café a termo. A gente consegue vender café até 2016, para você entregar em 2014, 2015 e 2016 com preço diferenciado, maior do que o de hoje físico, disponível. Isso é muito importante, porquê até 2016 são mais 3 safras, quer dizer, se houver uma crise de mais uma safra até 2016, que eu acho improvável , o produtor já escapou da crise. Então, dificilmente um produtor de café que faça um bom planejamento de venda do seu produto virá a quebrar. Ele pode até deixar de ganhar, mas não quebra. Se o produtor não quebra a cooperativa também não quebra, então isso aí é uma ferramenta excelente para esse relacionamento e para a proteção entre cooperado e cooperativa. Fora isso, nós fornecemos insumos, prazo e assistência técnica. Essas são algumas das explicações para que a produtividade de Monte Carmelo seja a maior da região. Nossa entorno é modelo de produção graças ao apoio e assistência técnica da Copermonte, da Cooxupé e da Coocacer, as três grandes cooperativas que atuam junto aos produtores. O relacionamento entre as cooperativas é muito bom.
 
EM MONTE CARMELO VOCÊS ATENDEM SÓ PRODUTORES DO MUNICÍPIO OU TAMBÉM COOPERADOS DA MICRORREGIÃO?

Temos cooperados de Romaria, de Indianópolis, tínhamos até de Uberaba
e Campos Altos. Por isso abrimos nossas filiais, inclusive em Campos Altos.
 
AS NOVAS FILIAIS AUMENTARAM O NÚMERO DE COOPERADOS?

Em Campos Altos já são 170 associados, no total já somos mais de 600. É
uma coisa boa, pois na verdade estamos levando o nome de Monte Carmelo
para fora também. A gente sente orgulho e tem sempre a filosofia do cooperativismo, junto com a cultura de Monte Carmelo a gente esparrama a
filosofia cooperativista também.
 
 
COMO ESTÁ A SAÚDE FINANCEIRA DA COOPERATIVA HOJE?

É boa, não vou dizer que é 100% porque nós fizemos investimentos, temos três armazéns por conta, mas é tranquilo. Administramos com cuidado, este ano tivemos sobra do anterior como eu te disse, mais ou menos de R$1 Milhão. De Janeiro a 31 de Agosto deste ano já contabilizamos sobra financeira de R$ 2 milhões 480 mil. Isso é importante por ser sinal de que o que a gente recebe é maior do que o que a gente gasta. Tudo caminha dentro do esperado. E sabemos que fazer investimento também não é fácil.
 
ENTRE OS COOPERADOS DA COPERMONTE TÊM PEQUENOS, MÉDIOS E GRANDES PRODUTORES? COMO ATENDER TODOS COM IGUALDADE? COMO O SENHOR VÊ O AMADURECIMENTO DO PRODUTOR?

Na verdade o cooperativismo é isso, o atendimento não pode ser diferente por ser grande ou pequeno produtor. É lógico que muito do custo da cooperativa é em função do pequeno cooperado, quanto maior o numero de cooperados pequenos maiores os custos da cooperativa, só que no Cerrado a realidade demonstra que são poucos os cooperados pequenos, a maioria é médio ou grande. No Sul de Minas já é mais pulverizado, este é um dos pontos que propiciam nossas cooperativas serem mais sólidas. Nossa cafeicultura é mais forte porque é de médio produtor para cima.
 
A COPERMONTE COMPLETA AGORA 18 ANOS. COMO O SENHOR VÊ O AVANÇO DO COOPERATIVISMO EM MONTE CARMELO E NA REGIÃO?

Avançou mais rápido que esperávamos. Dos 23 cooperados de 1995 agora somos 600. De 10.000 sacas que recebemos no primeiro ano, saltamos para mais de 400.000 sacas. Recebemos e comercializamos então isso é excepcional, também é uma resposta em relação aos benefícios que a cooperativa trás. A existência de três cooperativas ajuda muito para uma concorrência sadia, por isso a cafeicultura aqui de Monte Carmelo é mais estável, eu a considero estável.
 
OS SELOS DE CERTIFICAÇÃO DE ORIGEM E QUALIDADE TÊM SE TORNADO CADA VEZ MAIS EXIGENTES. COMO ELES CONTRIBUEM PARA O SETOR?

Temos o processo de certificação da Federação dos Cafeicultores do Cerrado e temos a Certificação de Origem do Café do Cerrado. Isso é muito importante por que queremos valorizar, diferenciar o café do cerrado, produzidos realmente no cerrado. Para tanto, a federação está fazendo este trabalho, nós somos parceiros da Federação e isso é um ponto importante. De outra parte, a Copermonte tem um departamento de certificação, com uma Bióloga, Técnico e Assistente Social. A gente faz consultoria para os cooperados na área de certificação com a UTZ e a Rainforest.

Cafés certificados Rainforest, por exemplo, pagam no mínimo R$ 15,00 a mais por saca. R$ 15,00 em cima de R$500,00 até pode não significar tanto, mas em cima de R$ 300,00, que é o preço médio da saca hoje é muita coisa, às vezes é a diferença entre o lucro e o prejuízo. Por isso, a gente tem esses departamentos de certificação, porque há muita procura lá fora por cafés certificados. Isso acontece porque este tipo de consumidor se preocupa com o meio ambiente, com as leis trabalhistas, com a parte social, o envolvimento comunitário. Logo, muito do trabalho do departamento de certificação é de envolvimento em atividades na comunidade local. Tudo isso concorre para a valorização do produto, afinal, quem consome a bebida lá fora sabe que ela foi produzida dentro de padrões éticos.


Parabéns a toda a equipe da Revista Link pelo ótimo trabalho desenvolvido!

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