Evento que ocorre de hoje a quinta-feira em BH vai discutir o futuro da cafeicultura no país e no mundo. Reunião inédita vai comemorar os 50 anos da Organização Internacional do café
Marinella Castro
De hoje até quinta-feira Belo Horizonte se transforma na capital mundial do café. Além de sediar a semana internacional do grão, no Expominas, junta-se ao evento a reunião que comemora os 50 anos da Organização Internacional do café (OIC). Esta é a primeira vez que a entidade, com sede em Londres, na Inglaterra, traz o encontro para Minas, maior produtor e exportador mundial da commodity. Durante a reunião da OIC em Minas serão traçadas diretrizes para a cafeicultura na próxima década, o que reúne desde aspectos como técnicas de produção e novas tendências do mercado consumidor até a política de defini;”ao de pre;o do produto. Sujeita ao mercado internacional, a cotação da saca é o grande drama do setor.
A Semana Internacional do café se consolida como espaço de negócios. A previsão é de que somente durante o encontro sejam movimentados R$ 5 milhões em compra e venda do grão. Em 2011 o café atingiu preço recorde no mercado internacional, mas já em 2012 passou a conviver com cotações em baixa. Queda que se mantém acentuada este ano. “Esse será um dos temas de debate na Semana Internacional do café, já que o atual preço da saca é muito preocupante”, diz Elmiro Nascimento, secretário de Agricultura Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.
De janeiro a julho, as exportações brasileiras da commodity cresceram 17% em volume, mas tiveram queda de 13,3% no valor, ambos comparados ao mesmo período em 2012. O recuo é influenciado pelo câmbio, mas há também forte conteúdo de especulação em relação ao resultado da safra que virá. “Essa especulação do mercado é péssima para o produtor”, aponta Robério Oliveira Silva, diretor-executivo da OIC. Segundo ele, os estoques mundiais de café estão relativamente baixos, estimados em 40 milhões de sacas para 12 meses, frente a um consumo mundial 145 milhões de sacas/ano, o que não seria uma justificativa para a queda de preços
O café ocupa destaque na balança comercial brasileira, sendo a sétima commodity em receita. De janeiro a julho o país exportou US$ 3,1 bilhões do produto, ou 968,4 mil toneladas. José Augusto de Castro , presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o sistema tributário brasileiro estimula a exportação do produto in natura, no entanto é o café solúvel que se mostra mais valorizado. De acordo com o especialista, quando a pauta é estratificada em tipos de café, nota-se que a receita do produto em grão recuou 28% de janeiro a julho, frente a igual período do ano passado, enquanto a queda do solúvel foi menor, de 11%.
De hoje a quinta-feira, a Semana Internacional do café vai promover uma série de eventos para o produtor. A reunião da OIC vai traçar um panorama do café na próxima década. Mas vai haver também congresso técnico, e todos os temas ligados à cadeia vão estar na pauta da semana. Haverá debates que vão desde as novas tendências mundiais de consumo, as formas de agregar valor ao produto até a certificação do café. Um dos pontos altos das semana será a rodada de negócios promovida pelo Sebrae-Minas. Elmiro Nascimento lembra que a OIC reúne 77 países e esta é uma oportunidade para compradores de vários localidades do mundo conhecerem o produto nacional.
A rodada de negócios vai envolver 120 cafeicultores brasileiros e 20 compradores, sendo 12 deles internacionais, especialmente dos Estados Unidos, Holanda, Suécia e Austrália. Priscilla Lins, gerente da Unidade de Agronegócio do Sebrae, explica que a escolha dos compradores se dará pelo tradicional cupping (degustação do café). Segundo Elmiro Nascimento, a visita dos compradores vai se estender até as regiões produtoras, onde eles conhecerão todo o processo da produção nacional.
HERANÇA João Sidney Filho é proprietário da Fazenda Esperança, em Campos Altos, no Alto Paranaíba. Aos 94 anos, ele conhece de perto os altos e baixos de mercado e hoje chega a Belo Horizonte para participar da Semana Internacional do café, onde em que irá acompanhar os eventos técnicos e as rodadas de negócios. João Sidney ainda rapaz, ajudou o pai, também cafeicultor, a se refazer da crise de 1929.
O cafeicultor, que exporta o grão verde especial para Holanda e Estados Unidos, e já tem prospeção para vender o produto também para a França e Itália, acredita que se desvencilhar da formação de preços internacionais é uma saída que desponta para o produtor de cafés especiais, que pode ser seguida por outros segmentos da cadeia. “Os preços de hoje, perto de R$ 300, não pagam o custo do produtor.” Segundo João Sidney, a cotação do café especial não sofre grandes oscilações, já que está descolada das bolsas internacionais, favorecendo o produtor em tempos de valores baixos. Ele acredita também que a mecanização é a nova tendência. “Vamos fazer um financiamento e iniciar a colheita mecanizada na Fazenda Esperança.”