01/08/2013
Por Fabrício de Castro, da Agência Estado, estadao.com.br
A cotação desta quinta-feira, de R$ 2,303, é a maior desde 31 de março daquele ano; Banco Central resolve não intervir e desvalorização do real em 2013 é de quase 13%
A cotação do dólar comercial rompeu a barreira dos R$ 2,30 nesta quinta-feira, 1.º, e o Banco Central (BC) nada fez. Ao termino do pregão, a moeda americana fechou a R$ 2,3030, com alta de 1,10%. Apenas neste ano, a desvalorização do real já é de quase 13%.
Trata-se do maior patamar desde 31 de março de 2009, quando encerrou a R$ 2,3180. Desde aquele mês o dólar não fechava acima dos R$ 2,30.
Na quarta-feira, o BC chegou a fazer três leilões de swap cambial para conter a variação do câmbio. Um dia depois, apenas monitorou a movimentação. A variação do dólar parece estar em sintonia com o cenário global.
Como foi o dia. Logo no início do dia, a moeda americana chegou a registrar perdas ante o real, marcando, às 9h30, a mínima de R$ 2,2690 (-0,40%) no balcão. Para analistas, este viés de baixa inicial era uma continuação do movimento do fim da quarta-feira, quando a moeda encerrou com queda de 0,13% ante o real. A divulgação de dados positivos nos Estados Unidos, no entanto, conduziu a moeda americana para o território positivo. No início da tarde, ela já estava próxima de R$ 2,30, sem que o BC atuasse.
“Pelas notícias de ontem do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), no sentido de manutenção do programa de estímulos à economia americana, não era para o dólar subir deste jeito. Mas ele subiu”, comentou Luiz Carlos Baldan, diretor da Fourtrade. “Mas está mais ou menos na média da movimentação lá fora”, acrescentou profissional de um banco que prefere não se identificar.
Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o número de trabalhadores que entraram pela primeira vez com pedido de auxílio-desemprego caiu em 19 mil, para 326 mil na semana até 27 de julho. Este é o nível mais baixo desde 2008. Já o índice de atividade industrial medido pelo Instituto para Gestão de Oferta (ISM, na sigla em inglês) subiu para 55,4 em julho, o maior nível desde junho de 2011.
Na prática, como vem ocorrendo, notícias positivas como estas reforçam a percepção de que o programa de estímulos do Fed começará a ser desmontado em um futuro próximo – a despeito de a data ainda ser uma incógnita.
No Brasil, os dados da balança comercial divulgados à tarde também vieram no sentido de um fortalecimento da moeda americana. A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 1,897 bilhão em julho, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). As exportações alcançaram US$ 20,807 bilhões em julho, com média diária de US$ 904,7 milhões, enquanto as importações totalizaram US$ 22,704 bilhões, com média diária de US$ 987,1 milhões. Em julho de 2012, houve superávit de US$ 2,866 bilhões.
Neste cenário, a pressão de alta para o dólar ante o real também se intensificou no final da tarde, com investidores testando a disposição do BC em entrar no mercado, o que, no fim, não ocorreu. Na máxima da sessão, às 16h07, a moeda atingiu R$ 2,3050 (+1,19%). Da mínima vista mais cedo para esta máxima, a moeda oscilou +1,59%. No mercado à vista, que permanece aberto até as 18 horas, o dólar para setembro subia 1,07% às 17h05, para R$ 2,3170.
O dólar fechou acima de R$ 2,30, um patamar que, segundo profissionais ouvidos pelo Broadcast, é preocupante para a inflação. Mesmo assim, durante entrevista coletiva à tarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que ainda não sabe avaliar se houve uma mudança definitiva de patamar do câmbio. “Há um mês e meio o dólar está acima do patamar anterior, mas não sei se vai voltar ao nível anterior”, afirmou.