Por Carine Ferreira | De São Paulo
As exportações brasileiras de café este ano deverão crescer cerca de 9,5% ante 2012, para 31 milhões de sacas, de acordo com estimativa do Conselho dos Exportadores de café do Brasil (Cecafé). Apesar do incremento esperado, o volume embarcado ainda ficará abaixo da média dos últimos quatro anos.
No ano passado, o volume exportado foi afetado pelas chuvas durante a colheita que prejudicaram a oferta e a qualidade dos grãos. A crise econômica em tradicionais consumidores, como a Europa, também reduziu a demanda pelo café brasileiro. Em 2012 foram exportadas 28,3 milhões de sacas ante 33,5 milhões em 2011 e 33 milhões em 2010.
Considerando o ano-safra 2013/14, a expectativa é que sejam exportadas cerca de 32,5 milhões de sacas (café verde e industrializado). Em 2012/13, ciclo encerrado mês passado, as vendas externas somaram 30,54 milhões de sacas, 2,5% mais que as 29,795 milhões de sacas exportadas em 2011/12. Já a receita na última safra caiu 24%. (ver quadro). A estimativa do Cecafé é que a receita no segundo semestre deste ano aumente 15% ante a primeira metade de 2012.
Em junho deste ano, os embarques de café totalizaram 2,259 milhões de sacas, alta de 18,5% sobre o mesmo mês de 2012. Já a receita recuou 9% na mesma base de comparação, para US$ 376,6 milhões.
Os torrefadores internacionais não estão agressivos na compra de café e postergam as aquisições à espera de definição de preços, avalia Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé. Além disso, as empresas também adiam as compras para ver como será a colheita brasileira, que se encerra em setembro, e esperam o melhor momento para comprar. “Ele [torrefador] não tem medo de retardar a compra porque sabe que terá café”, diz Braga. A maior demanda pelo café brasileiro tradicionalmente ocorre de agosto a janeiro.
Um problema, segundo Braga, é que ao exportar volume menor começa a se consolidar uma perda de mercado para o café brasileiro. Ele defende uma política para incentivar a demanda pelo arábica e “liberar” o robusta (usado nos blends de torrado e moído e na fabricação da bebida solúvel) para exportação. A indústria nacional aumentou o uso do robusta nos blends nos últimos anos e há também demanda por essa espécie de café em vários países, principalmente os emergentes.
O surto de ferrugem nos cafezais da América Central, tradicional produtora de arábica de qualidade, elevou o interesse de exportadores brasileiros pelo café cereja descascado, grão de boa qualidade, segundo corretores. Braga afirma que há consultas de compradores sobre o produto, mas não necessariamente compra. “Talvez torrefadores lá fora substituam [o produto] com algum cereja do Brasil”, afirma Thiago Cazarini, da Cazarini Trading Company.
As exportações da Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), que liderou os embarques brasileiros de café verde no ano passado, subiram 50% de janeiro a maio ante o mesmo período de 2012, mas o valor médio do produto está cerca de 24% menor, segundo Carlos Paulino da Costa, presidente da cooperativa. O crescimento ocorreu em função do maior números de contratos fixados em 2012 para embarque neste ano. A cooperativa, que exportou 2,118 milhões de sacas em 2012 ante 2,451 milhões em 2011, projeta vender ao exterior 2,8 milhões de sacas este ano.
Paulino da Costa confirma que a demanda externa segue “morna”, pois os torrefadores acreditam que o preço do café vai cair ainda mais. “Estão comprando da mão para a boca”, diz. Caso o governo adote medidas para sustentar o preço do produto, talvez aumente o interesse de compra pelo café brasileiro, à medida em que o torrefador vai saber que o preço não recuará, acrescenta.
Outra que espera ampliar as exportações de café este ano é a também mineira Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaiso). Este ano, a cooperativa estima exportar 300 mil sacas ante 206 mil sacas em 2012. Do total projetado para este ano, 90% já foram vendidas, segundo Francisco Ourique, superintendente comercial do departamento de café da Cooparaiso. Os contratos fechados em 2012 para embarque este ano foram firmados com preços cerca de R$ 70 por saca acima da cotação atual, para entrega a partir de julho, afirma Ourique. “Conseguimos fazer isso porque somos pequenos”. Mas neste ano, diz, o volume negociado para o próximo ano está menor.