A CRISE DO CAFÉ EM 1929
Aníbal de Almeida Fernandes, Maio, 2006.
A CRISE DO CAFÉ COMEÇA NA REALIDADE EM 1920, DEVIDO AO CONTÍNUO, DESCONTROLADO E EXCESSIVO AUMENTO DA SAFRA DE CAFÉ QUE CHEGAVA A ESPANTOSOS 21 MILHÕES DE SACAS PARA UM CONSUMO MUNDIAL DE 22 MILHÕES.
JÁ HAVIA UMA SÉRIE DE FALENCIAS E CONCORDATAS ANTES DA QUEBRA DE WALL STREET EM OUTUBRO, SÓ EM SETEMBRO DE 1929 O CORREIO DA MANHÃ ANUNCIAVA 72 FALENCIAS E CONCORDATAS!
1927: BRASIL EXPORTOU 15.115.000 DE SACAS DE CAFÉ.
1928: HOUVE UMA ENORME SAFRA POREM A EXPORTAÇÃO CAIU PARA 13.881.000 SACAS (MENOS 11%) JÁ QUE OS EUA, FRANÇA, ITÁLIA, HOLANDA E ALEMANHA, QUE COMPRAVAM 84% DA PRODUÇÃO BRASILEIRA, ESTAVAM COMPRANDO DE OUTROS PAÍSES, POIS A NOSSA FAMA DE EXPORTADOR DE CAFÉ ERA PÉSSIMA UMA VEZ QUE SE MISTURAVAM PEDRAS, TERRA E GRAVETOS PARA AUMENTAR O PESO DAS SACAS, ALEM DE INCLUIR CAFÉ DE QUALIDADE INFERIOR ADULTERANDO O PRODUTO FINAL.
PARA PIORAR O CONTEXTO, EM OUTUBRO DE 1929 OS FAZENDEIROS AINDA ESTAVAM EXPORTANDO A SAFRA DE 1927 E A SAFRA DE 1928 ESTAVA TODA RETIDA NOS ARMAZENS DE VALORIZAÇÃO DE CAFÉ QUE ERAM GERENCIADOS PELO INSTITUTO do CAFÉ CRIADO EM SÃO PAULO PARA APOIAR OS FAZENDEIROS PAULISTAS COM AUXÍLIO DO GOVERNO FEDERAL.
O HERALD TRIBUNE EM OUTUBRO DE 1929 INFORMAVA QUE 2/3 DO CAFÉ CONSUMIDO NO MUNDO ERA PRODUZIDO EM SÃO PAULO E QUE O CAFÉ REPRESENTAVA ¾ DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS E QUE O PAIS ESTAVA EM PRECÁRIA SITUAÇÃO FINANCEIRA.
PREVIA-SE UM DÉFICIT DE 120.000 CONTOS NO ORÇAMENTO DE 1930.
A FALTA DE PROGRAMAÇÃO E CONTROLE ERA TOTAL E SUICIDA, POIS O CONSUMO MUNDIAL ERA DE 22 MILHÕES DE SACAS E O BRASIL SÓZINHO PRODUZIA ESSA QUANTIDADE SEM MERCADO COMPRADOR DETERMINADO.
1929: A SAFRA PROJETADA PARA 13,7 MILHÕES DE SACAS CHEGA A MAIS DE 21 MILHÕES E A EXPORTAÇÃO DIMINUIA CADA VEZ MAIS!
A CRISE NOS EUA COMEÇOU A 19/10/29 COM A DIFICULDADE DE SE LEVANTAR MEROS US$ 100.000 EM FUNDOS DO GOVERNO AMERICANO. A CRISE ARRASTOU MILHÕES DE PESSOAS NA CHAMADA MATANÇA DOS INOCENTES NA QUINTA FEIRA NEGRA, (24/10/29), ONDE PESSOAS INGENUAS PERDERAM TUDO O QUE POSSUIAM JÁ QUE, EM POUCAS HORAS, 12.894.650 AÇÕES TROCARAM DE DONO PROVOCANDO UMA DAS QUEDAS MAIS DRÁSTICAS DA HISTÓRIA E A MISÉRIA DE MILHARES DE FAMÍLIAS NOS EUA.
EM OUTUBRO DE 1929 O GOVERNO FEDERAL BRASILEIRO PRETENDIA EMPRESTAR US$ 50 MILHÕES PARA PERMITIR QUE O INSTITUTO do CAFÉ AJUDASSE OS FAZENDEIROS, SÓ QUE O GOVERNO AMERICANO RECUSOU O EMPRÉSTIMO, POIS NÃO HAVIA MAIS DINHEIRO NOS EUA PARA EMPRÉSTIMO EXTERNO E O INCENDIO DE WALL STREET ALASTROU-SE PARA O MUNDO.
UM EMPRÉSTIMO DE EMERGENCIA DE US$ 10 MILHÕES DA SCHROEDER AND COMPANY FOI FEITO PARA ALAVANCAR O BANCO DE ESTADO DE SÃO PAULO TENDO COMO MOTIVO A NECESSIDADE DE FINACIAMENTO PARA O INSTITUTO DO CAFÉ DE SÃO PAULO TENTAR EVITAR A QUEBRADEIRA GERAL.
A QUEDA DAS EXPORTAÇÕES DIMINUE AS IMPORTAÇÕES E OS NEGÓCIOS ENCOLHEM E PROVOCAM O FECHAMENTO DE EMPRESAS. O COMÉRCIO E A INDUSTRIA MURCHAM COM A RECESSÃO, NÃO HAVIA DINHEIRO NA PRAÇA E AS FABRICAS QUEBRAM GERANDO UM ENORME DESEMPREGO.
O ACHATAMENTO DOS NEGÓCIOS PROVOCA A RUÍNA, A DESONRA E A DESGRAÇA DAS FAMÍLIAS ABASTADAS E MUITOS SE SUICIDAM AO SE VEREM NA MISÉRIA, ALGUNS EM DESESPERO CHEGAM A RECORRER AO JOGO PARA TENTAR SALVAR O PATRIMONIO DO NAUFRÁGIO FINAL.
A DERROCADA FINANCEIRA QUE DEVASTA OS EUA, EUROPA E AMÉRICA LATINA PIORA TODO DIA PREPARANDO A 2ª GUERRA MUNDIAL.
NO BRASIL:APARECEM NOTÍCIAS DE FALENCIAS, CONCORDATAS E TRAGÉDIAS FAMILIARES:
•No Rio a tradicionalíssima Oswaldo Tardim & Cia quebra com um passivo de 3.359.534$900, uma enorme quantia para a época!
•Em São Paulo a população está estarrecida com a tragédia do palacete da Rua Piauí no bairro de Higienópolis onde o empresário Abelardo Laudel de Moura, 28 anos, afogado em dívidas se arma com uma navalha e tenta matar a mulher, que consegue escapar, ele degola o filho de 2 anos e a filha e, em seguida, se suicida!
•No interior o café é queimado, pois não há esperança de venda, nem há como arcar com o alto custo da estocagem e os grandes fazendeiros naufragam em dívidas vendendo as jóias de família para sobreviver.
ESTA CRISE ECONOMICA REPERCURTE NA DISPUTA PRESIDENCIAL JÁ EM LITÍGIO COM A DISPOSIÇÃO DE WASHINGTON LUIS DE ROMPER O PACTO de OURO FINO de 1912 QUE FIXARA A ALTERNANCIA DE SÃO PAULO E MINAS NO PODER, COM A FAMOSA POLÍTICA CAFÉ COM LEITE AO INSISTIR NO NOME DE SEU AFILHADO POLÍTICO JÚLIO PRESTES DE SÃO PAULO EM DETRIMENTO DO MINEIRO ANTONIO CARLOS.
A FRAQUEZA ECONOMICA DE SÃO PAULO É O FATO GERADOR PARA ALICERÇAR A AMBIÇÃO POLÍTICA DE GETÚLIO VARGAS QUE MANTEM DISFARÇADAMENTE A APARENCIA DE ALIADO CONFIAVEL DE WASHINGTON LUIS DE QUEM, ALIÁS, FORA MINISTRO DA FAZENDA DESDE O INÍCIO DO GOVERNO EM NOVEMBRO DE 1926 ATÉ O FINAL DE 1927 QUANDO VARGAS SAI PARA ASSUMIR O GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL.
SURGE A OPÇÃO VARGAS EM CONTRAPOSIÇÃO A WASHINGTON LUÍS E À POLÍTICA CAFÉ COM LEITE QUE EVOLUE E CULMINA COM A DEPOSIÇÃO DE WASHINGTON LUIS A 24/10/1930 E SE INSTALA UMA NOVA SOCIEDADE.
1930: A INSTALAÇÃO DO GOVERNO VARGAS ACABA COM A HEGEMONIA DE SÃO PAULO E MINAS NA POLÍTICA BRASILEIRA E MUDA RADICALMENTE A SOCIEDADE CONSTITUIDA PELAS GRANDES FAMÍLIAS AGRÁRIAS DE SÃO PAULO COMO FONTE DE PODER POLÍTICO.
RESENHA HISTÓRICA: VAMOS VOLTAR AO SEC. XVII COM O PODER NAS MÃOS DOS ENGENHOS DE AÇUCAR DO NORDESTE, AO SEC. XVIII COM O PODER NAS MÃOS DOS MINERADORES DE OURO DE MINAS GERAIS AO SEC. XIX COM O PODER AGRÁRIO DO CAFÉ FAZENDO OS BARÕES DE CAFÉ FLUMINENSES QUE TIVERAM SEU PODER ANULADO PELA EXAUSTÃO DAS TERRAS E PELA QUEDA DA ESCRAVIDÃO, ATÉ CHEGAR AO SEC. XX COM O PODERIO DO CAFÉ PAULISTA E SUA LUXUOSA BELLE ÉPOQUE.
RESUMO: NO MEU ENTENDER A PARTIR DE VARGAS O CONTEXTO SOCIAL BRASILEIRO SE FECHA PARA OS GRANDES FAZENDEIROS E SE ABRE PARA OS INDUSTRIAIS E COMERCIANTES QUE SE INSTALAM COMO OS MANDATÁRIOS DA NOVA SOCIEDADE QUE SE FORMA NO PAÍS E NO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO ACELERADA ATÉ ECLODIR A 2ª GUERRA MUNDIAL. PORÉM HÁ QUE SE OBSERVAR QUE TODAS ESTAS TRANSFORMAÇÕES SECULARES MANTEM SEMPRE O ASPECTO DA PERMANÊNCIA HISTÓRICA DAS ELITES NO COMANDO DAS TRANSFORMAÇÕES EM PROVEITO PRÓPRIO.
Fonte pesquisada para estruturar este trabalho:
1930, Os Órfãos da Revolução, Domingos Meirelles, Editora Record, 2006