30/04/2013
Comportamento do clima nos EUA deverá ditar a tendência para as cotações no segundo semestre
Por Gerson Freitas Jr. | De São Paulo
Os preços internacionais das commodities agrícolas continuam a cair e a sinalizar um forte alívio para a inflação dos alimentos no segundo semestre, bem como uma piora nos termos de troca das exportações brasileiras. O escoamento da safra recorde do Brasil, a preocupação com os sinais de desaceleração da economia chinesa, a aposta na recomposição dos estoques mundiais e o fortalecimento do dólar pesaram sobre praticamente todas as commodities em abril.
No mês, as cotações médias da soja, milho, trigo, açúcar e café nas bolsas de Chicago e Nova York foram as mais baixas em pelo menos dez meses, de acordo com levantamento do Valor Data com base nas médias mensais dos contratos de segunda posição de entrega, normalmente os mais negociados.
A manutenção dessa tendência ainda depende de como vai se comportar o clima nos EUA, onde os fazendeiros apenas começaram o plantio dos grãos da safra 2013/14 e já enfrentam problemas – em 2012, a seca no Meio-Oeste americano fez os preços dos grãos dispararem a partir do meio do ano. Até o momento, entretanto, a maioria dos sinais aponta para baixo.
O milho liderou o movimento de baixa. Até ontem, o preço médio do grão negociado em Chicago havia recuado 11% em relação a março (a maior queda mensal desde julho de 2009), para US$ 6,2892 por bushel – menor patamar desde junho. Em relação à média de dezembro, a baixa chegou a 12,92% – o suficiente para praticamente zerar a alta acumulada na comparação com abril de 2012. O preço médio da soja caiu 4,6% em abril, para US$ 13,6943 por bushel, o menor nível em 13 meses. A matéria-prima acumula baixa de 5,62% sobre dezembro e 5,2% em relação a abril do ano passado.
O mercado futuro de grãos sinaliza preços ainda mais baixos para o fim do ano, quando os americanos tiverem colhido sua safra. No pregão de ontem, os lotes de soja para entrega em novembro foram negociados com um desconto de 12,7% em relação aos contratos para julho, a US$ 12,2950 por bushel. No caso do milho para entrega em dezembro, que encerrou o dia a US$ 5,5950 por bushel, o desconto em relação a julho foi ainda maior: 15,2%.
“Se as condições climáticas nos Estados Unidos forem favoráveis neste ano, os preços dessas commodities vão ficar muito pressionados”, afirma Pedro Dejneka, presidente da PHDerivativos, em Chicago. Segundo ele, a soja pode recuar abaixo dos US$ 11 e o milho, dos US$ 5 por bushel, até o fim do ano.
Os investidores que especulam com commodities parecem endossar essa percepção. De acordo com os últimos dados da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (a CFTC) dos EUA, os fundos reduziram em 34% e 93%, respectivamente, sua posição líquida de compra em futuros e opções de soja e milho nas quatro semanas encerradas no dia 23. Em outras palavras, os fundos se desfizeram de boa parte dos contratos com os quais lucram com a alta das cotações.
A pressão sobre os preços dos grãos se deve, principalmente, à perspectiva de uma colheita recorde de soja e milho nos Estados Unidos, o que poderia recompor os estoques mundiais após um ano de safras castigadas pela seca em todo o continente americano. Contudo, o mercado está sujeito a escaladas diante das incertezas em relação ao clima.
Ontem, os preços dispararam em Chicago em meio à preocupação com o atraso no plantio de milho nos EUA. A persistência das chuvas em Estados como Iowa e Illinois impede os agricultores de levarem suas máquinas para o campo. Até domingo, apenas 5% da nova safra havia sido semeada, ante 49% um ano antes e 31% na média dos últimos cinco anos para o período, segundo o Departamento de Agricultura (USDA).
Se as condições permanecerem desfavoráveis, os produtores podem perder a janela ideal para o plantio do grão, o que pode comprometer o potencial produtivo das lavouras – que ficaram excessivamente expostas ao calor do verão americano durante o período mais crítico de desenvolvimento. “A situação está ficando crítica. Depois de 10 de maio ninguém mais planta milho nos Estados Unidos, porque o risco de perda é muito grande”, afirma Flávia Moura, analista da Newedge USA, em Nova York. Por essa razão, as próximas duas semanas serão cruciais.
Outra commodity que continua pressionada é o açúcar. Em abril, o preço médio do produto bruto recuou 3,66% em Nova York, para 17,67 centavos de dólar por libra-peso – o menor patamar desde junho de 2010. Nesse caso, o espaço para recuperações é mais estreito, uma vez que o mercado tem de lidar com um excedente de oferta.
Segundo a Organização Internacional do Açúcar, a produção mundial da commodity deve superar a demanda em 8,5 milhões de toneladas na temporada que termina em setembro. Por essa razão, os estímulos para a produção de etanol no Brasil – que tende a reduzir a oferta de cana para a produção de açúcar – tiveram pouco efeito sobre o mercado da commodity neste mês.
O café arábica também sofre com o cenário de folga na oferta, com o Brasil prestes a colher a maior safra de sua história para um ano de baixa produtividade no ciclo bianual dos cafezais. Até ontem, o preço médio do commodity em abril havia caído 0,88%, para 138,85 centavos de dólar por libra-peso – menor valor desde maio de 2010.
Na contramão da tendência, o preço médio do suco de laranja congelado e concentrado (FCOJ, na sigla em inglês) havia subido 7,8% até ontem e o do cacau, 6,7%. Nos dois casos, as cotações foram impulsionadas pela preocupação com o clima – na Flórida e na Costa do Marfim, respectivamente.
Na BM&F, só boi sobe em 2013
Por Luiz Henrique Mendes | De São Paulo
Pressionadas pelo avanço da colheita de grãos e cana-de-açúcar no Brasil, as commodities agrícolas negociadas no mercado futuro de São Paulo caíram em abril, aprofundando a tendência baixista para 2013. Entre os cinco produtos agropecuários negociados na BM&FBovespa, o boi gordo é o único a dar sinais de resistência, com claro viés de alta.
Conforme levantamento do Valor Data com base nos contratos futuros de segunda posição de entrega, o milho liderou a baixa. Em abril (o balanço foi fechado no dia 29), o preço médio do grão recuou 8,09% ante o mês anterior, para R$ 24,91 por saca. Em relação à média de dezembro de 2012, a queda chega a 22,88%.
As cotações do milho na bolsa paulista reagiram à forte pressão baixista oriunda tanto do Brasil, cuja colheita avança e promete atingir o recorde de 77,4 milhões de toneladas, conforme a última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), quanto da perspectiva para o plantio da commodity nos Estados Unidos (ver acima).
Uma produção igualmente recorde no Brasil também pesou sobre os futuros da soja na BM&FBovespa em abril. O preço médio da oleaginosa caiu 3,33% no mês, para US$ 27,12 a saca. Com isso, o grão acumula uma retração de 11,04% sobre a média de dezembro
Outro produto que recuou em abril foi o etanol, que foi pressionado pelo início da colheita de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do país, que responde por 90% da produção do biocombustível no Brasil (ver página B13). No mês, os contratos futuros de etanol caíram 1,33%, para R$ 1.154,38 por m3. Sobre dezembro, a queda é de 2%.
Em cenário amplamente desfavorável, os futuros do café arábica deram uma trégua em abril. Os papéis ficaram praticamente estáveis (alta de 0,39%), a US$ 169,49 a saca. No entanto, acumulam uma desvalorização de 9,54% entre janeiro e abril, e a tendência é de baixa, uma vez que o Brasil, maior produtor global da commodity, acabou de iniciar a colheita da maior safra da história para um ano de baixa do ciclo bianual do café. A Conab estima uma colheita superior a 50 milhões de sacas.
Nesse contexto, o boi gordo é o único a destoar da tendência baixista no mercado futuro de São Paulo. Em abril, o preço médio do animal subiu 0,39% na BM&FBovespa, a R$ 96,90 por arroba. Apesar da modesta alta no mês, o boi gordo registra uma valorização de 2,35% em relação a dezembro – e, no primeiro quadrimestre, os preços costumam recuar devido à maior oferta de gado. “É um comportamento atípico para o período da safra”, diz o analista Douglas Coelho, da Scot Consultoria.
“Atípico” neste ano é que essa oferta está sendo absorvida pela forte demanda para exportação. Só no primeiro trimestre, os embarques de carne bovina saltaram 26,3%. O consumo interno também segue aquecido. “Nos primeiros quatro meses, houve um aumento de abate de 10%. A indústria está com fome”, estima Fabiano Tito Rosa, gerente de pesquisa de mercado da Minerva Foods.