11/04/2013
Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1500 e o Brasil descobriu a agricultura em 2000. Durante 500 anos a agricultura foi o rebotalho nacional. Entrava no jogo do poder de sobremesa. Mesmo quando o café era o centro da economia nacional, a agricultura não passava de uma moeda de exportação.
Agora, de repente, a agricultura virou a salvação da lavoura. A indústria emperra, cresce a índices medíocres e ela dispara, comandando as exportações. Só que os neobobos de sempre pensam que aconteceu por acaso, de milagre.
Ainda, na “Veja”, o pomposo Roberto Pompeu de Toledo pergunta “Por onde andará Alysson Paulinelli, que há 30 anos a revista `Time’ elencou entre 150 futuros líderes mundiais” (dois brasileiros, ele e Célio Borja).
Esta é uma história que os felpudos sobrenomes quatrocentões de Toledo não lhe deixam saber. Paulinelli é o pai da nova agricultura brasileira.
O que está aí nas manchetes, nas estradas, nos portos, nas gordas estatísticas do comércio externo nasceu há 30 anos de uma visão revolucionária dele.
Em 73, no governo Médici, o ministro da Agricultura, Cirne Lima, do Rio Grande do Sul, criou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agrícolas).
Mas ficou no papel. Cirne Lima brigou com Delfim, saiu, entrou o pernambucano Moura Cavalcanti. A Embrapa continuou uma idéia no papel.
Chega Geisel em 74, manda chamar para conversar o jovem secretário da Agricultura de Minas, Alysson Paulinelli, saído das salas de aula e da direção da Universidade Agrícola de Lavras, e diz a Geisel o óbvio: a agricultura brasileira só sairia da mesmice de 5 séculos de extrativismo se sofresse uma revolução tecnológica.
Geisel o convidou para ministro:
– Vamos fazer.
Paulinelli chamou o presidente da adormecida Embrapa, Irineu Cabral, e o diretor de Recursos Humanos, Eliseu Alves, e estabeleceram o rumo:
– Não queremos cientistas para resolver problemas da ciência, mas para resolver os problemas da produção.
Pegaram uma verba de US$ 200 milhões e escolheram, nas melhores universidades brasileiras, 1.600 recém-formados e os mandaram para fazer mestrado ou doutorado nas melhores universidades agrícolas do mundo: Califórnia, França, Espanha, Índia, Japão etc. Estava plantada a semente da maior revolução já feita na agricultura da América Latina.
Eliseu Alves, logo o Eliseu Alves, que havia chegado dos Estados Unidos como uma referência mundial como cientista e como gestor de ciência e tecnologia, assumiu a presidência da Embrapa e implantou linhas avançadas de trabalho:
1 – Criou 14 Centros de Pesquisas, em 14 regiões do País, para pesquisar 14 produtos (exceção do café, que tinha o IBC, e do cacau, que tinha a Ceplac): soja em Londrina, no Paraná; mandioca e fruticultura em Cruz das Almas, na Bahia; milho e sorgo em Sete Lagoas, Minas; vinho em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul; feijão e arroz em Goiânia; gado de leite em Juiz de Fora; gado de corte em Campo Grande ; seringueira em Manaus.
2 – Criou quatro Centros de Recursos Genéticos para o cerrado, em Brasília.
Não foi milagre. Trinta anos depois, o investimento da Embrapa em aprendizado externo e pesquisas internas explodiu a agricultura brasileira. Não foi milagre, foi competência, visão correta da ciência e do País. Paulinelli voltou para Minas, seus estudos, suas aulas, suas assessorias. Eliseu Alves está em Brasília, com seus estudos, suas pesquisas, suas consultorias, ainda hoje o grande guru da agricultura brasileira.