Estamos acompanhando o amargor das cotações do café, pelos terminais de bolsa, desde 2012. Para quem achava que esta situação poderia ser amenizada em 2013, em função de consumo e clima no hemisfério norte, se frustrou. O café vem registrando perdas irreparáveis, voltando aos patamares dos preços de dois anos e meio atrás, quando em junho de 2010, iniciou em um processo de valorização. O pior disto tudo é que o custeio da lavoura também ficou mais caro, reduzindo drasticamente as margens de lucratividade da atividade cafeeira. O que dizer desta situação? Ou, o que esperar deste mercado para os próximos anos?
A leitura dos fatos ocorridos neste mercado neste período, nos leva a pensar na recomposição dos estoques de países consumidores e produtores do grão, ou seja, á dois anos e meio atrás, quando tínhamos o início de melhores cotações, fato que se prolongou de forma ascendente até 2011, o mercado produtor também se entusiasmou e de forma coerente passou a investir mais em estrutura, tecnologia, aumento de área e principalmente em obtenção de melhores índices de produtividade.
Desta forma, é natural pensar que o excedente da produção em algum momento iria aparecer, e a resposta do mercado estamos assistindo. Dizer que todo este cenário criado existe somente em função de um maior quadro de oferta, também não é de tudo verdadeiro. Não podemos esquecer que neste contexto devemos somar os problemas econômicos, ocorrido no mundo (EUA e EUROPA), a aversão a riscos de grandes investidores que abandonaram estes negócios, e de outros, vamos dizer, oportunistas, que ajudaram ainda mais as cotações se desvalorizarem nas bolsas, vendendo contratos futuros da commodity. É sem dúvida, um coquetel de variáveis que influenciaram o mercado, gerando este clima tenso, pálido e de difícil leitura.
Desta forma, produtores e cooperativas do segmento, precisamos apertar o sinto de segurança durante os próximos dois anos. Porque? A safra brasileira que iremos colher em 2013 já é conhecida pelo mercado. Algumas agências já divulgaram números superiores a 50 milhões de sacas. O número do governo situa-se em 47 milhões de sacas. Desta forma, daqui a três meses no máximo estaremos recebendo café novo nas cooperativas. Juntamente com o Brasil algumas outras origens estarão também ofertando a commodity para o mundo, aumentando desta forma o suprimento das indústrias. Além disto, os frutos daquele entusiasmo da produção, plantados em 2010, 2011 e em função da esperança também em 2012, refletirão nas próximas safras que o país irá colher. Ou seja, as lavouras do Brasil estão condicionadas a produzir em 2013 e 2014. Com isto, a safra cheia que ocorrerá no próximo ano também já é, de uma certa forma conhecida, e provavelmente iremos repetir no mínimo os 50 milhões de sacas. Pois bem, se o mercado não mudar em função de clima no Brasil (frio e seca) ou na América Central (ferrugem), iremos ver novamente a graça das cotações somente para a safra de 2015, em função dos maus tratos nas lavouras que poderão acontecer. O produtor mal remunerado não irá conduzir da forma que conduziu nos últimos anos a lavoura e isso irá implicar em melhores patamares de preço para o café.
Se ainda existe espaço para conversarmos sobre estratégias de mercado, não podemos descartar as linhas escritas acima. A dica é fugir de despesas financeiras, e de qualquer outro tipo de despesas que possa ser acrescida a atividade. Não vamos facilitar com investimentos pesados e nem acreditar demasiadamente em propostas milagrosas de governo, embora precisamos delas. Precisamos trocar a palavra esperança por gestão racional de custos. Precisamos nos preparar para dias piores e também melhores, porque eles também virão. Encerro este artigo repetindo a expressão “o mercado é soberano” e que o laboratório do presente são os fatos e acontecimentos do passado. Isso com toda certeza será utilizado para plantar o futuro, neste caso o futuro da cafeicultura brasileira.
Leandro Costa – Analista de Mercado do Sistema Coccamig