25/01/2013
Êxodo rural impõe desafios a compradores de commodities
Por Sarah Murray | Financial Times
Ao mesmo tempo em que o trabalho infantil continua sendo causa de preocupação na produção de café e de cacau no mundo em desenvolvimento, os compradores mundiais dessas commodities também se preocupam com o envelhecimento da força de trabalho. Muitos pequenos proprietários rurais estão ficando mais velhos e seus filhos estão abandonando o campo – a questão agora é como tornar o cultivo de commodities atraente para os mais jovens.
A maioria das estatísticas aponta para uma mudança do perfil etário nas áreas rurais. Em um estudo realizado para a fabricante britânica de doces Cadbury, controlada pela Mondelez International, sobre os produtores de cacau em Gana, a média de idade dos agricultores era de 51 anos.
A pesquisa detectou também diferenças significativas de produtividade por idade. Os agricultores mais velhos produzem menor tonelagem por hectare que os mais jovens, que apresentam maior tendência de usar técnicas modernas de cultivo e de introduzir métodos inovadores de produção agrícola.
“Quando examinamos nosso crescimento e a maneira de conseguirmos atender à demanda no futuro, esse é um grande desafio”, diz Roland Weening, vice-presidente de comercialização e sustentabilidade da divisão de café do grupo mundial de salgadinhos Mondelez International (antiga Kraft Foods).
Uma série de motivos está por trás da mudança de distribuição etária dos produtores de café e cacau. Para começar, a precariedade da dieta e a falta de acesso aos serviços podem levar os filhos dos cafeicultores a procurar melhorar de vida fora de seu local de origem.
“Para os jovens, a segurança alimentar é um problema, bem como o acesso à educação, saúde e água”, diz Rick Peyser, diretor de defesa social e envolvimento com a comunidade para a cadeia de suprimentos da Green Mountain Coffee Roasters (GMCR). “Um grande número de fundamentos econômicos simplesmente não existe”.
Ao lado do Centro Internacional de Agricultura Tropical, a GMCR pesquisou as condições das famílias de produtores rurais na América Latina. Detectou que todas elas vivenciaram episódios de escassez de alimentos, especialmente após o período da colheita da safra.
Mesmo quando as necessidades básicas são atendidas, o baixo potencial de renda dos pequenos proprietários também está levando os jovens a deixar a zona rural, muitas vezes com apoio dos pais.
No estudo da Cadbury, muitos agricultores disseram relutar em estimular seus filhos a trabalhar no setor de cacau porque ele é visto como de baixo prestígio social, perigoso e intensivo em utilização de mão de obra. “Existe também um problema de imagem da atividade agrícola: as pessoas não a encaram como uma boa profissão”, diz Weening. “Isso diz respeito ao orgulho das pessoas, à ambição de serem respeitadas e sentir que levam uma vida gratificante e digna”.
Tendo em mente a sustentabilidade de longo prazo da oferta, os compradores de cacau e de café estão tomando medidas para reverter o êxodo dos jovens. Em novembro a Mondelez anunciou um investimento de US$ 400 milhões ao longo dos próximos dez anos em iniciativas destinadas a melhorar as condições de subsistência e de vida de mais de 200 mil produtores de cacau e de aproximadamente 1 milhão de pessoas das comunidades produtoras de cacau.
Boa parte da ênfase do investimento da empresa está no fomento à próxima geração e na contribuição para transformar os vilarejos produtores de cacau em locais em que as pessoas querem viver.
Naturalmente, parte disso envolve a elevação da renda, promovida para que os agricultores adotem técnicas que lhes ofereçam maior eficiência e produtividade. “Por meio da educação e da capacitação podemos, em muitos casos, duplicar ou triplicar a produtividade deles”, afirma Weening.
A capacitação e o apoio agrícolas também ajudam os agricultores a ir além da condição de trabalhadores, para se tornarem empresários agrícolas com várias qualificações, desde a poda eficiente até a administração dos recursos hídricos. “Isso lhes dá perspectivas econômicas, mas é mais interessante quando a pessoa não é apenas um trabalhador na colheita, e sim um agrônomo”, diz Weening.
Outra estratégia crucial é ajudar o produtor a diversificar as fontes de renda pela incorporação de novos produtos agrícolas ou outras atividades geradoras de renda, como a criação de abelhas.
Peyser cita o exemplo de um casal de produtores rurais, com 0,6070 hectare – ou 6.070,30 m2 – plantados com café na Nicarágua. O casal, que participou de um dos programas de segurança alimentar da GMCR, começou a plantar árvores frutíferas e a processar as frutas em geleias para venda no mercado local, e a cultivar maracujás, o que acrescentou cerca de US$ 700 mensais à sua renda.
Estratégias como essa não apenas aumentam a renda dos agricultores como também os defendem contra as quedas dos preços mundiais do café ou do cacau. “A ideia não é tirar os agricultores do cultivo do café, mas complementar sua produção de café e ajudá-los a aproveitar melhor a produção agrícola”, afirma Peyser.
No entanto, Solitaire Townsend, cofundadora da Futerra, a empresa de comunicações pela sustentabilidade, diz que as empresas podem ter de examinar os fatores menos óbvios que afastam os jovens da produção agrícola.
“O pequeno segredo de todos os fornecedores é que o seu público lhes dá a resposta”, diz ela. “O que é preciso perguntar aos jovens é o que eles querem com a produção agrícola. A suposição é que digam boas escolas e boa renda, mas eles poderão dizer conexões de internet e futebol”.