Um ano melhor para o café, mas nem tanto

03/01/2013 
 

Preços do café tendem a se recuperar após tombo de 2012, mas não devem voltar aos níveis de 2011
 
Por Carine Ferreira | De São Paulo | Valor Economico



Apesar das incertezas que cercam o quadro global de fundamentos de oferta e demanda e alimentam uma forte volatilidade dos preços do café, 2013 tende a deixar mais saudades aos produtores brasileiros do que o ano passado. As cotações internacionais não deverão voltar a alcançar as máximas de 2011, mas especialistas veem espaço para valorizações em relação aos patamares de 2012. Com isso, são boas as perspectivas de que a próxima safra nacional seja pelo menos mais rentável que a passada.


Com uma oferta mundial confortável, em parte graças ao Brasil, o preço médio anual do café arábica recuou 30,8% no ano passado na bolsa de Nova York sobre a média recorde de 2011, conforme cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega, normalmente os de maior liquidez. Ainda assim foi a segunda maior média anual da história, mas no último trimestre a média alcançada foi quase 24% menor que a do primeiro, o que ajuda a alimentar as estimativas mais pessimistas.


Encerrada a colheita recorde da safra 2012/13, boa parte dos agentes desse mercado esperava uma recuperação de preços no fim do ano passado, mas estoques em níveis considerados satisfatórios evitaram qualquer reação. A expectativa de boa disponibilidade do produto também em 2013/14 no Brasil, cuja colheita começará em maio, também ajudou a conter valorizações. Líder mundial em café arábica, o país viverá o ciclo de baixa na bienalidade que marca a cultura, mas as primeiras previsões para a temporada foram negativas para os preços.


A Terra Forte Exportação, por exemplo, chegou a divulgar em dezembro que a colheita brasileira chegaria a 53,39 milhões de sacas em 2013/14, maior até que a do ciclo de alta de 2012/13, estimado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 50,83 milhões de sacas. Mas o número foi rechaçado pelo setor produtivo. Projeção do Conselho Nacional do Café (CNC) a partir de dados de cooperativas indica que a produção de 2013/14 será 10% inferior a de 2012/13 – entre 44 milhões e 45 milhões de sacas.


Eduardo Carvalhaes, sócio-diretor do Escritório Carvalhaes, de Santos, calcula a safra 2012/13 em 50 milhões de sacas, para um consumo interno estimado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) em 20,5 milhões de sacas e exportações de 28 a 29 milhões. Assim, diz, sobram menos de 2 milhões de sacas. Como Carvalhaes também prevê que o próximo ciclo será menor, considera que existe um equilíbrio precário entre oferta e demanda no Brasil e no mundo, o que pode abrir espaço para altas das cotações.


Em seu último relatório mensal, a Organização Internacional do Café (OIC) estimou a produção mundial em 2012/13 (outubro de 2012 a setembro de 2013) em 146 milhões de sacas, 8,4% mais que em 2011/12. Para o consumo global, que foi de 139 milhões de sacas em 2011, a entidade não fez projeções, mas lembrou que o crescimento médio anual tem sido de 2,4% desde 2001. Nesse contexto, o CNC não trabalha com a perspectiva de escassez global significativa de café nos próximos anos.


Ao mesmo tempo em que o tamanho da próxima safra brasileira gera dúvidas, o Vietnã, líder em café robusta (variedade de qualidade inferior), também provoca especulações. A demanda pelo robusta cresceu com a disparada do arábica em 2011 e o produto ganhou peso nos “blends”, o que valorizou ainda mais o papel do Vietnã no mercado. Em 2012/13, a colheita do país tende a ser de 1 milhão a 2 milhões de sacas menor que a anterior, estimada entre 24 milhões e 27 milhões de sacas.


Com o arábica brasileiro mais caro em relação ao de outras origens durante boa parte do ano e maior procura pelo robusta – além das dificuldades de torrefadores europeus em obter crédito e da redução de grãos brasileiros de qualidade em função das chuvas na colheita -, as exportações do país foram 5 milhões de sacas menores em 2012 do que no ano anterior, quando os embarques atingiram 33,5 milhões de sacas, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Guilherme Braga, diretor-geral da entidade, estima que 2,5 milhões de sacas que deixaram de ser exportadas em 2012 devem engordar os embarques do país até março.


Mas, mesmo diante dessas variáveis, o setor produtivo brasileiro, de forma geral, crê em recuperação dos preços este ano. “Não teremos preços explosivos, mas remuneradores”, prevê Silas Brasileiro, presidente do CNC. De acordo com ele, R$ 400 a saca é um valor remunerador.


“Acredito que teremos preços melhores em 2013, mas não nos níveis de 2011”, afirma Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da mineira Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo. O dirigente também diz que o produtor não está “segurando tanto” sua colheita, como muitos agentes de mercado propagam, mas confirma que os estoques da cooperativa são superiores aos de anos anteriores – entre 20% e 25%, também em função da colheita abundante.


Conforme Rodrigo Costa, diretor da trading Caturra Coffees, reforça que o grande volume de café estocado no mundo limita a recuperação dos preços. “Acho que vai passar por um período de difícil recuperação. Os ganhos não serão significativos neste primeiro trimestre. [A commodity] vai “sofrer” um pouco para voltar acima de US$ 1,60 e US$ 1,70 a libra-peso [em Nova York]”. Pelas suas previsões, será preciso esperar dois anos para um novo ciclo de preços significativamente maiores.


Queda de preços não poupou qualidade superior


Por De São Paulo
O recuo das cotações do café arábica em Nova York em 2012 respingou nas margens dos produtores de cafés especiais do Brasil. Embora não se fiem no valor da commodity na bolsa, já que costumam buscar contratos com preço fixo e têm relação mais direta com os compradores, os cafeicultores que apostam em qualidade superior atualmente recebem valores que beiram os custos de produção – que são mais elevados -, conforme Henrique Sloper de Araújo, presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).


Mesmo assim, e dependendo do caso, os valores para os cafés especiais em 2012 foram em geral 30% menores que no ano anterior, exatamente como no caso da commodity negociada no mercado nova-iorquino (ver acima). “Quem faz contrato de longo prazo sofre menos”, pondera. Esse grupo ainda é pequeno, mas cresce a cada ano.


Em 2012 também foi mais difícil produzir grãos especiais. Em virtude das chuvas durante a colheita, houve no país uma redução entre 20% e 30% de cafés com nota acima de 80 (considerados os de melhor qualidade), em uma escala que vai até 100. Apesar da menor demanda pelo café brasileiro em função do aumento do consumo de café robusta, a qualidade do produto na Colômbia, o principal concorrente brasileiro em grãos arábicas, também caiu.


Não existem estatísticas sobre o consumo desses produtos de maior valor agregado, mas estima-se que não chega a 5% da produção mundial de café – ou cerca de 2 milhões de sacas por ano. Mas especialistas apontam que é o segmento da cafeicultura mundial que mais ganha fôlego. (CF)

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