A venda de alimentos orgânicos, sem defensivos agrícolas ou hormônios, no caso das carnes, nos supermercados, deverá ultrapassar R$ 1 bilhão ao final de 2006, pela primeira vez no varejo. Neste ano, a expansão do segmento deverá se manter entre 20% e 25% sobre a de 2005, acompanhando o ritmo de crescimento do ano passado e de 2004, também de 25%, informa João Carlos Oliveira, presidente da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras). A venda dos orgânicos, que custam em média 30% a mais que os alimentos com defensivos ou hormônios, cresce porque o consumidor mais consciente está preocupado com a qualidade da comida que ingere. Os orgânicos dão uma margem bruta de lucro de 30% para os supermercados.
O Carrefour montou uma gôndola exclusiva para produtos orgânicos, com doze metros de extensão, em cada um dos seus cem hipermercados. “É uma gôndola multiuso, que oferece de derivados de leite a carnes e verduras. Dependendo da sazonalidade, 200 itens podem estar disponíveis”, afirma Arnaldo Eij-sink, diretor de agronegócios do Carrefour no Brasil. Os produtos orgânicos representam de 1% a 7% do volume total das vendas, dependendo do bairro onde a loja está localizada. Em 2005, o segmento cresceu 35% em relação a 2004, e a expectativa para esse ano é que o setor apresente expansão de 50% em relação ao ano passado.
Hamburger congelado, cereais, arroz, óleo de oliva, geléia, queijo, leite, iogurte, mel: o hipermercado oferece um variado leque de opções, mas o setor de frutas, legumes e verduras (FLV) é o que mais vende. “Neste segmento o consumidor tem maior conhecimento do risco de contaminação por agrotóxicos”, explica Eijsink.
Os alimentos orgânicos custam, em média, de 30% a 50% mais do que os produtos tradicionais. Toda semana o hipermercado oferece 3 ou 4 produtos com preços semelhantes aos convencionais, para estimular as vendas. “O Carrefour é grande comprador de produtos orgânicos, e, quando houver outras opções no mercado, vamos colocá-las à disposição dos clientes”. A empresa é também produtora de alimentos orgânicos, e possui fazendas no Centro-Oeste. Lá, a companhia produz de carne bovina a mel, e está em fase de conversão para produzir carne suína de forma natural.
Além disso, o Carrefour produz uvas orgânicas no Vale do São Francisco, em Petrolina (PE). Esses alimentos também são exportados para alguns países da Europa e para os Estados Unidos. As exportações ainda não somam um volume significativo, mas a empresa pretende expandir sua atuação nessa área. Cerca de 200 fornecedores trabalham com o Carrefour. Eijsink diz que o grupo está em contato constante com as certificadoras, para se manter aberto a novas oportunidades.
Há dez anos o Grupo Pão de Açúcar trabalha com sortimento de produtos orgânicos. Apenas no segmento de FLV orgânicos, as vendas cresceram 11,3% no ano passado, em relação a 2004. Na comparação do 1º bimestre do ano, esse segmento cresceu 16,5% em janeiro de 2006 sobre janeiro de 2005; e 14,2% em janeiro do ano passado sobre janeiro de 2004. Na comparação de fevereiro, o crescimento foi de 14,7% nesse ano, e 4,3% em fevereiro de 2005 ante fevereiro de 2004.
“Promovemos várias ações para viabilizar esse incremento”, afirma Leonardo Miyao, diretor de comercialização de FLV do Grupo Pão de Açúcar. Entre as iniciativas da empresa estão os descontos nos alimentos orgânicos: os produtos tinham preço muito superior ao dos alimentos convencionais: custavam quase o triplo. Hoje, os orgânicos mais caros custam, em média, 25% a mais que os convencionais. Outra iniciativa é promover, um dia por semana, o “sacolão orgânico”, com descontos em destaque. A companhia movimenta mais de 35 mil quilos de hortifrútis orgânicos por mês.
As frutas, as verduras e os legumes orgânicos representam de 3% a 4% do faturamento total da seção de FLV, e o segmento deve crescer 20% nesse ano, no Grupo Pão de Açúcar.
Para Miyao, a maior dificuldade é conseguir ampliar esse mercado. Escassez de fornecedores “Faltam fornecedores de frutas; sentimos falta de um maior volume de oferta. As frutas representam 60% do total das vendas de FLV, mas apenas 7% no segmento orgânico. É conveniente o produtor nacional abrir esse canal”, ressalta.
A oferta de frutas orgânicas é pequena, mas a rentabilidade é maior. Enquanto as verduras orgânicas representam 50% das vendas e os legumes, 40%, por custarem mais caro e serem menos populares, a fruta orgânica muitas vezes precisa ser importada. E as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) barram a importação, pois a comercialização de produtos sem defensivos agrícolas é impedida.
A rede Wal-Mart oferece mais de 40 produtos orgânicos, principalmente na seção de verduras. A empresa também trabalha com uma linha de legumes e frutas.
“Desde quando chegou ao Brasil, há dez anos, o Wal-Mart realiza um trabalho de desenvolvimento de novos produtos de mercearia e hortifrútis, buscando oferecer o melhor sortimento”, diz o gerente comercial de hortifrúti, Carlos Cury. Quatorze fornecedores de orgânicos trabalham com a rede e as vendas devem crescer 30% neste ano.