07/11/2012
Divulgar e apresentar as características peculiares dos cafés especiais e certificados do norte pioneiro do Paraná para formadores de opinião e compradores de café. Este é o objetivo do 1º Encontro de Q-Graders, promovido na Feira Internacional de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (FICAFÉ), que teve início nesta quarta-feira, dia 7, em Jacarezinho.
Os Q-Graders são especialistas que podem ser comparados a enólogos, no universo do vinho, e que utilizam referências de características sensoriais e atributos da bebida, baseados em um mesmo critério de avaliação mundial.
Na ocasião, o Q-Grader peruano Oscar Gonzales, chefe de Controle de Qualidade do Sustainable Harvest, importador especializado na aquisição de cafés especiais e certificados, e o Q-Grader brasileiro Bruno Souza, que trouxe a metodologia para o Brasil, apresentaram para o público as características de 18 cafés especiais e certificados, sendo que 12 deles foram produzidos em diferentes microrregiões do norte pioneiro paranaense.
Durante o 1º Encontro de Q-Graders foi realizada uma prova ‘aberta’ para que os participantes aprendessem a identificar as três principais características dos cafés especiais: acidez, corpo e sabor. “Não estamos em busca de defeitos, mas dos sabores ricos dos cafés do Norte Pioneiro”, salienta Oscar Gonzales.
Os provadores conseguiram identificar uma dezena de aromas nos cafés produzidos na região: chocolate, caramelo, frutas vermelhas, rapadura, amêndoa, tabaco, frutas cítricas, casca de laranja, capim limão, frutas secas, entre outros.
Para Gonzales, todos os cafés provados são interessantes, principalmente no que diz respeito ao corpo e à acidez. “A acidez não era uma característica dos cafés brasileiros e hoje conseguimos encontrá-la. Os cafés do Norte Pioneiro apresentaram uma acidez fina, rica, bem expressiva.”
A produtora de cafés especiais Cornélia Gamerschlag conta que a experiência foi excelente. “Foi uma aula para educar o paladar para identificar os sabores e aprender a nomeá-los. O Oscar é muito didático e usa uma linguagem fácil de compreender”, enfatiza.
Novidade – O presidente da Associação dos Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (ACENPP), Luiz Roberto Saldanha, explica que é a primeira vez que a FICAFÉ promove um ‘grêmio’ de Q-Graders. “Trouxemos a experiência de um evento internacional. A ideia do Encontro é apresentar a territorialidade dos cafés do norte pioneiro paranaense”, diz.
Odemir Capello, consultor do Sebrae/PR e gestor do Projeto de Cafés Especiais, destaca que o Encontro de Q-Graders é inédito no Brasil. “É uma forma de mostrar para compradores do mundo a nova origem de cafés especiais do País”, afirma.
De acordo com Oscar Gonzales, a produção brasileira é extremamente importante para o mercado internacional de cafés especiais e certificados. O especialista percorre o mundo todo em busca de regiões que contemplam produtores de pequenas lavouras certificadas no sistema fair trade (comércio justo). “Nosso trabalho é conhecer e visitar as regiões para iniciar uma relação comercial”, explica.
Esta é a segunda vez que Gonzales participa da FICAFÉ e, desde o ano passado, a Sustainable Harvest é compradora dos cafés produzidos pela Cooperativa dos Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (COCENPP), entidade detentora da certificação fair trade. Para ele, o Encontro de Q-Graders é um oportunidade de aprender como é feita a produção dos cafés do norte pioneiro.
Cafés especiais – Uma das diferenças entre um café especial e um café comercial é a pureza e a uniformidade dos grãos. Nos lotes de cafés especiais, o consumidor sabe em que propriedade e região de origem o café foi colhido, graças à certificação da propriedade e à rastreabilidade do produto.
Os cafés especiais não apresentam nenhum defeito primário como grãos pretos, verdes ou ardidos. Uma prova ‘cega’, feita por especialistas que analisam amostras de cafés retiradas dos lotes atribuem notas, de acordo com a classificação da SCAA, determinando se um café é ou não especial. Para um café ser certificado como especial a nota recebida tem que estar acima dos 80 pontos.
O Q-Grader peruano orienta que o primeiro passo, para identificar um café especial, é verificar a limpeza da xícara. O segundo é encontrar um sabor exclusivo e, por último, partir para a análise das características particulares dos grãos. “A acidez, o corpo e o sabor do café devem estar em equilíbrio. São esses aspectos que devem ser verificados”, ensina.
Simpósio – Outra atração do 1º dia da FICAFÉ foi a realização do “I Simpósio de inovação e difusão tecnológica da cafeicultura do norte pioneiro do Paraná”, além de minicursos e exposição de painéis. Destaque para as presenças dos professores Roberto Thomaziello, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Leandro Carlos Paiva, do Instituto Federal de Machado, e de José Marcos de Mendonça, do Instituto Federal de Muzambinho.
Jorge Domingos de Souza Filho é filho de cafeicultor e participa do curso Jovem Agricultor Aprendiz, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), em Japira, no Norte Pioneiro. “A palestra foi boa. Aprendemos que precisamos estabelecer planos, inclusive de custos, para não levar prejuízo”, acredita.
A ampliação dos eventos técnicos e realização do Simpósio é uma inovação do evento, na opinião do presidente da ACENPP. “O objetivo do Projeto de Cafés Especiais é o desenvolvimento da região, formada essencialmente por pequenas propriedades e agricultura familiar. Precisamos investir em conhecimento e levar informação para os cafeicultores para melhorar a produção”, ressalta Luiz Roberto Saldanha.