Tecnologias inovadoras permitem expansão da cafeicultura nas regiões de Cerrado

21/10/2012 
  
Para cumprir o desafio de produzir café de qualidade no Cerrado brasileiro – que ocupa mais de 200 milhões de hectares, distribuídos nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia, Piauí, Maranhão e Distrito Federal – a Embrapa Cerrados, com recursos do Consórcio Pesquisa Café cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café, juntou esforços em projetos multidisciplinares e desenvolveu tecnologias inovadoras para essa região, caracterizada por estiagens prolongadas e solos de baixa fertilidade.


A Embrapa Café e Embrapa Cerrados são Unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.


Estresse hídrico


A primeira delas é a irrigação de café com estresse hídrico controlado, que veio para contradizer a ideia segundo a qual a irrigação durante o ano todo faz parte do manejo tradicional de cafeeiros no Cerrado. Essa tecnologia de manejo de água na agricultura irrigada já foi validada não só em experimentos como também em fazendas produtivas de várias regiões brasileiras.


“Partimos da teoria de que as necessidades fisiológicas das plantas devem ser respeitadas, caso contrário, tem-se grande variação anual da produtividade, como bienalidade acentuada e desuniformidade na maturação dos frutos, devido à ocorrência de múltiplas floradas”, explica o pesquisador e gerente de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Café, Antonio Guerra,


A tecnologia além de revolucionar a prática tradicional da irrigação frequente e continuada, garante mais produtividade, mais qualidade e menor custo, sendo alternativa para a sustentabilidade da cafeicultura no Cerrado. “A pesquisa demonstrou ser possível a aplicação de estresse hídrico (suspensão da irrigação) controlado na estação seca do ano, na época certa e com magnitude adequada, para sincronizar, uniformizar o desenvolvimento dos botões florais e, consequentemente dos frutos, o que garante um café de mais qualidade”, completa Guerra.


A nova tecnologia superou definitivamente a desconfiança por parte dos produtores, que acreditavam que, com a suspensão da irrigação durante 70 dias para submeter as plantas ao estresse hídrico moderado, os cafeeiros não cresceriam e as lavouras ficariam depauperadas. “Os cafeeiros submetidos ao estresse controlado não só cresceram mais como se apresentaram em melhores condições para a safra seguinte. É o chamado crescimento compensatório, um estímulo ao crescimento após o reinício das irrigações”, explica o pesquisador.


Segundo enfatiza Guerra, a prática do estresse hídrico controlado não custa nada mais ao produtor e ainda traz redução dos custos de água e energia, em média de 33%, economia no processo de colheita, inclusive com mão de obra, e uma visão sustentável do agronegócio tanto do ponto de vista ambiental como da competitividade. “O uso do estresse hídrico controlado para uniformização de florada do cafeeiro e, consequentemente de maturação, é um processo tecnológico que também permite a obtenção de 85% ou mais de frutos cerejas no momento da colheita, maximizando a produção de cafés especiais, de maior valor de mercado. Além disso, disso, garante redução de 20% para 10% de grãos mal formados e de 40% na operação de máquinas. É a viabilização e a otimização da cafeicultura irrigada no Cerrado brasileiro”.


Na fazenda Lagoa do Oeste, na Bahia, a tecnologia foi validada e atualmente é uma inovação importante. De acordo com o consultor técnico, o engenheiro agrônomo Guy Carvalho, o manejo da água com o uso do estresse hídrico controlado e com o programa de monitoramento de irrigação foi testado e aprovado. “É uma quebra de paradigma. As vantagens são evidentes e fazem a diferença no bolso do produtor, tornando seu negócio mais competitivo e sustentável”, destaca.


Adubação fosfatada em café


A irrigação controlada aliada à adubação equilibrada permitiu um retorno financeiro de até R$ 7.656,50/ha. Esse resultado foi obtido com a união de outro estudo de pesquisa também financiado pelo Consórcio Pesquisa Café e realizado pela Embrapa Cerrados: adubação fostatada em café. Da mesma forma que o estresse hídrico, essa tecnologia também não tinha amparo na literatura científica até então e representou mais uma mudança de ponto de vista. “Hoje, sabe-se que há resposta à adubação de fósforo em cafeeiros e, em geral, essa tecnologia é usada em conjunto com a irrigação, mostrando sinergia. Há também expressivo aumento de produtividade como resposta, mais energia, vigor e sanidade das plantas”, adianta Guerra.


Para ele, contribuiu para abandonar a ideia de que o cafeeiro não responde positivamente à aplicação de fósforo no solo em sua fase de produção a visão de uma nova corrente crítica que buscou repensar o sistema produtivo do cafeeiro para torná-lo mais eficiente, competitivo e sustentável. “O estudo questionou os critérios de recomendação de adubação fosfatada no cafeeiro que, por muitos anos, foi considerado uma planta que não respondia à aplicação de altas doses de fósforo. E comprovou que a adição do fósforo traz benefícios para a planta tanto em solos de média a alta fertilidade como também em solos de baixa fertilidade, como os do Cerrado, onde a planta responde com grande intensidade”, pontua.


Além disso, a nova tecnologia questionou o conceito de que a bienalidade do cafeeiro era uma questão intrínseca da planta de café e indicou que é mais uma questão de manejo, sendo possível com práticas agrícolas adequadas reduzir sua intensidade e manter uma produção mais equilibrada, com maior uniformidade na maturação, grãos vigorosos e sadios e um menor custo de produção. “É uma revolução no sistema de adubação do cafeeiro”, completa Guerra.


As pesquisas sobre o comportamento do fósforo no cafeeiro puderam ser intensificadas a partir do desenvolvimento da tecnologia do estresse hídrico controlado. “Existia uma demanda crescente por informações sobre a influência da adubação fosfatada no desenvolvimento, vigor das plantas e pegamento da florada. Além disso, existia a ideia de que o nível de fósforo observado nas análises do solo de alguma forma não representava o que realmente estava disponível para os cafeeiros. Os resultados demonstram que o ajuste nutricional é necessário também nas lavouras de sequeiro”, continua o pesquisador.


Cultivo de braquiária nas entrelinhas dos cafeeiros – Outra tecnologia que representa mudança de paradigma é o cultivo de braquiária nas entrelinhas dos cafeeiros, um casamento perfeito também realizado pelas pesquisas da Embrapa Cerrados no âmbito do Consórcio Pesquisa Café. “Braquiária e café combinam sim. A braquiária faz a ciclagem de nutrientes, notadamente o fósforo, ajudando na sua disponibilidade para as plantas e o controle de erva daninha diminuindo o requerimento de roçagem e a aplicação de herbicida. Além disso, visivelmente não prejudica a planta e potencializa a multiplicação de micorriza natural, facilitando a absorção de nutrientes, água e produzindo biomassa, o que melhora a qualidade do solo e fixa carbono da atmosfera. É uma tecnologia sustentável”, explica Guerra.


Uma peculiaridade do manejo do mato com a braquiária é que seu sistema radicular é extremamente desenvolvido ajudando na estruturação do solo e dificultando que ocorra erosão. “Cada vez que se roça a braquiária, ocorre a morte de raízes da gramínea que irão se decompor com o tempo e ajudarão a aumentar o teor de matéria orgânica no solo e sua estruturação. Por esses fatores, a braquiária tem se adaptado muito bem a esse sistema”.


Segundo o pesquisador, o incremento na adubação em caso do manejo com braquiária pode ser necessário em solos pobres e inadequadamente corrigidos. “Essa gramínea tem uma alta relação carbono/nitrogênio e decomposição lenta. Assim, os microorganismos retiram nitrogênio do solo para fazerem sua decomposição. Como os solos corrigidos de cafezais são, em geral, férteis e com teores médios a altos de matéria orgânica, não é necessário incrementar nenhuma adubação para o café, porque o estoque de nutrientes no solo suporta a decomposição da braquiária sem desequilibrar o sistema”. Guerra acrescenta que os microorganismos retiram nitrogênio do solo para decompor a braquiária, mas de forma lenta e contínua e, conforme ela vai sendo decomposta, esse nitrogênio volta para o café disponibilizado pela matéria orgânica.


Assim, a partir desses três exemplos de tecnologias desenvolvidas por instituições participantes do Consórcio Pesquisa Café, pode-se dizer que, apesar de haver sistemas produtivos atuais nos quais há conhecimentos considerados prontos e definitivos, como é o caso da necessidade de irrigações com alta frequência, a bienalidade na produção do café e a baixa exigência de fósforo dos cafeeiros adultos, o papel da pesquisa é buscar inovação permanente diante dos novos desafios e apontar ainda mais soluções e alternativas para a cafeicultura brasileira. “Esse é o nosso papel, indagar-se constantemente para que estejamos sempre atuais”, conclui Guerra.


Consórcio Pesquisa Café


O Brasil desenvolve o maior programa mundial de pesquisas em café, o Programa Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. Essa rede integrada de pesquisa é possível graças ao Consórcio Pesquisa Café, que reúne dezenas de instituições brasileiras de pesquisa, ensino e extensão estrategicamente localizadas nas principais regiões produtoras do País. Seu modelo de gestão incentiva a interação entre as instituições e a união de recursos humanos, físicos, financeiros e materiais, que permitem elaborar projetos inovadores. A evolução da cafeicultura brasileira, ao longo dos últimos anos, comprova a importância dos trabalhos de pesquisa.


Esse arranjo institucional atua em todos os segmentos da cadeia produtiva, tendo por base a sustentabilidade, a qualidade, a produtividade, a preservação ambiental, o desenvolvimento e o incentivo a pequenos e grandes produtores. Hoje reúne mais de 700 pesquisadores de cerca de 40 instituições, envolvidos em 74 projetos dos quais fazem parte 355 Planos de ação.


Foi criado por iniciativa de dez instituições ligadas à pesquisa e ao café: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Epamig, Instituto Agronômico – IAC, Instituto Agronômico do Paraná – Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural -Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro – Pesagro-Rio, Universidade Federal de Lavras – Ufla e Universidade Federal de Viçosa – UFV.


As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com o apoio e o financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.


Flávia Bessa – MTb 4469/DF
Fone: (61) 3448-1927
Site: www.embrapa.br/cafe
www.consorciopesquisacafe.com.br

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Tecnologias inovadoras permitem expansão da cafeicultura nas regiões de Cerrado

Por: Jornal Agora MS

sexta-feira, 19 de outubro de 2012


Para cumprir o desafio de produzir café de qualidade no Cerrado brasileiro – que ocupa mais de 200 milhões de hectares, distribuídos nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia, Piauí, Maranhão e Distrito Federal – a Embrapa Cerrados, com recursos do Consórcio Pesquisa Café cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café, juntou esforços em projetos multidisciplinares e desenvolveu tecnologias inovadoras para essa região, caracterizada por estiagens prolongadas e solos de baixa fertilidade. A Embrapa Café e Embrapa Cerrados são Unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.


Estresse hídrico – A primeira delas é a irrigação de café com estresse hídrico controlado, que veio para contradizer a ideia segundo a qual a irrigação durante o ano todo faz parte do manejo tradicional de cafeeiros no Cerrado. Essa tecnologia de manejo de água na agricultura irrigada já foi validada não só em experimentos como também em fazendas produtivas de várias regiões brasileiras. “Partimos da teoria de que as necessidades fisiológicas das plantas devem ser respeitadas, caso contrário, tem-se grande variação anual da produtividade, como bienalidade acentuada e desuniformidade na maturação dos frutos, devido à ocorrência de múltiplas floradas”, explica o pesquisador e gerente de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Café, Antonio Guerra,


A tecnologia além de revolucionar a prática tradicional da irrigação frequente e continuada, garante mais produtividade, mais qualidade e menor custo, sendo alternativa para a sustentabilidade da cafeicultura no Cerrado. “A pesquisa demonstrou ser possível a aplicação de estresse hídrico (suspensão da irrigação) controlado na estação seca do ano, na época certa e com magnitude adequada, para sincronizar, uniformizar o desenvolvimento dos botões florais e, consequentemente dos frutos, o que garante um café de mais qualidade”, completa Guerra.


A nova tecnologia superou definitivamente a desconfiança por parte dos produtores, que acreditavam que, com a suspensão da irrigação durante 70 dias para submeter as plantas ao estresse hídrico moderado, os cafeeiros não cresceriam e as lavouras ficariam depauperadas. “Os cafeeiros submetidos ao estresse controlado não só cresceram mais como se apresentaram em melhores condições para a safra seguinte. É o chamado crescimento compensatório, um estímulo ao crescimento após o reinício das irrigações”, explica o pesquisador.


Segundo enfatiza Guerra, a prática do estresse hídrico controlado não custa nada mais ao produtor e ainda traz redução dos custos de água e energia, em média de 33%, economia no processo de colheita, inclusive com mão de obra, e uma visão sustentável do agronegócio tanto do ponto de vista ambiental como da competitividade. “O uso do estresse hídrico controlado para uniformização de florada do cafeeiro e, consequentemente de maturação, é um processo tecnológico que também permite a obtenção de 85% ou mais de frutos cerejas no momento da colheita, maximizando a produção de cafés especiais, de maior valor de mercado. Além disso, disso, garante redução de 20% para 10% de grãos mal formados e de 40% na operação de máquinas. É a viabilização e a otimização da cafeicultura irrigada no Cerrado brasileiro”.


Na fazenda Lagoa do Oeste, na Bahia, a tecnologia foi validada e atualmente é uma inovação importante. De acordo com o consultor técnico, o engenheiro agrônomo Guy Carvalho, o manejo da água com o uso do estresse hídrico controlado e com o programa de monitoramento de irrigação foi testado e aprovado. “É uma quebra de paradigma. As vantagens são evidentes e fazem a diferença no bolso do produtor, tornando seu negócio mais competitivo e sustentável”, destaca.


Adubação fosfatada em café – A irrigação controlada aliada à adubação equilibrada permitiu um retorno financeiro de até R$ 7.656,50/ha. Esse resultado foi obtido com a união de outro estudo de pesquisa também financiado pelo Consórcio Pesquisa Café e realizado pela Embrapa Cerrados: adubação fostatada em café. Da mesma forma que o estresse hídrico, essa tecnologia também não tinha amparo na literatura científica até então e representou mais uma mudança de ponto de vista. “Hoje, sabe-se que há resposta à adubação de fósforo em cafeeiros e, em geral, essa tecnologia é usada em conjunto com a irrigação, mostrando sinergia. Há também expressivo aumento de produtividade como resposta, mais energia, vigor e sanidade das plantas”, adianta Guerra.


Para ele, contribuiu para abandonar a ideia de que o cafeeiro não responde positivamente à aplicação de fósforo no solo em sua fase de produção a visão de uma nova corrente crítica que buscou repensar o sistema produtivo do cafeeiro para torná-lo mais eficiente, competitivo e sustentável. “O estudo questionou os critérios de recomendação de adubação fosfatada no cafeeiro que, por muitos anos, foi considerado uma planta que não respondia à aplicação de altas doses de fósforo. E comprovou que a adição do fósforo traz benefícios para a planta tanto em solos de média a alta fertilidade como também em solos de baixa fertilidade, como os do Cerrado, onde a planta responde com grande intensidade”, pontua.


Além disso, a nova tecnologia questionou o conceito de que a bienalidade do cafeeiro era uma questão intrínseca da planta de café e indicou que é mais uma questão de manejo, sendo possível com práticas agrícolas adequadas reduzir sua intensidade e manter uma produção mais equilibrada, com maior uniformidade na maturação, grãos vigorosos e sadios e um menor custo de produção. “É uma revolução no sistema de adubação do cafeeiro”, completa Guerra.


As pesquisas sobre o comportamento do fósforo no cafeeiro puderam ser intensificadas a partir do desenvolvimento da tecnologia do estresse hídrico controlado. “Existia uma demanda crescente por informações sobre a influência da adubação fosfatada no desenvolvimento, vigor das plantas e pegamento da florada. Além disso, existia a ideia de que o nível de fósforo observado nas análises do solo de alguma forma não representava o que realmente estava disponível para os cafeeiros. Os resultados demonstram que o ajuste nutricional é necessário também nas lavouras de sequeiro”, continua o pesquisador.


Cultivo de braquiária nas entrelinhas dos cafeeiros – Outra tecnologia que representa mudança de paradigma é o cultivo de braquiária nas entrelinhas dos cafeeiros, um casamento perfeito também realizado pelas pesquisas da Embrapa Cerrados no âmbito do Consórcio Pesquisa Café. “Braquiária e café combinam sim. A braquiária faz a ciclagem de nutrientes, notadamente o fósforo, ajudando na sua disponibilidade para as plantas e o controle de erva daninha diminuindo o requerimento de roçagem e a aplicação de herbicida. Além disso, visivelmente não prejudica a planta e potencializa a multiplicação de micorriza natural, facilitando a absorção de nutrientes, água e produzindo biomassa, o que melhora a qualidade do solo e fixa carbono da atmosfera. É uma tecnologia sustentável”, explica Guerra.


Uma peculiaridade do manejo do mato com a braquiária é que seu sistema radicular é extremamente desenvolvido ajudando na estruturação do solo e dificultando que ocorra erosão. “Cada vez que se roça a braquiária, ocorre a morte de raízes da gramínea que irão se decompor com o tempo e ajudarão a aumentar o teor de matéria orgânica no solo e sua estruturação. Por esses fatores, a braquiária tem se adaptado muito bem a esse sistema”.


Segundo o pesquisador, o incremento na adubação em caso do manejo com braquiária pode ser necessário em solos pobres e inadequadamente corrigidos. “Essa gramínea tem uma alta relação carbono/nitrogênio e decomposição lenta. Assim, os microorganismos retiram nitrogênio do solo para fazerem sua decomposição. Como os solos corrigidos de cafezais são, em geral, férteis e com teores médios a altos de matéria orgânica, não é necessário incrementar nenhuma adubação para o café, porque o estoque de nutrientes no solo suporta a decomposição da braquiária sem desequilibrar o sistema”. Guerra acrescenta que os microorganismos retiram nitrogênio do solo para decompor a braquiária, mas de forma lenta e contínua e, conforme ela vai sendo decomposta, esse nitrogênio volta para o café disponibilizado pela matéria orgânica.


Assim, a partir desses três exemplos de tecnologias desenvolvidas por instituições participantes do Consórcio Pesquisa Café, pode-se dizer que, apesar de haver sistemas produtivos atuais nos quais há conhecimentos considerados prontos e definitivos, como é o caso da necessidade de irrigações com alta frequência, a bienalidade na produção do café e a baixa exigência de fósforo dos cafeeiros adultos, o papel da pesquisa é buscar inovação permanente diante dos novos desafios e apontar ainda mais soluções e alternativas para a cafeicultura brasileira. “Esse é o nosso papel, indagar-se constantemente para que estejamos sempre atuais”, conclui Guerra.


Consórcio Pesquisa Café – O Brasil desenvolve o maior programa mundial de pesquisas em café, o Programa Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. Essa rede integrada de pesquisa é possível graças ao Consórcio Pesquisa Café, que reúne dezenas de instituições brasileiras de pesquisa, ensino e extensão estrategicamente localizadas nas principais regiões produtoras do País. Seu modelo de gestão incentiva a interação entre as instituições e a união de recursos humanos, físicos, financeiros e materiais, que permitem elaborar projetos inovadores. A evolução da cafeicultura brasileira, ao longo dos últimos anos, comprova a importância dos trabalhos de pesquisa.


Esse arranjo institucional atua em todos os segmentos da cadeia produtiva, tendo por base a sustentabilidade, a qualidade, a produtividade, a preservação ambiental, o desenvolvimento e o incentivo a pequenos e grandes produtores. Hoje reúne mais de 700 pesquisadores de cerca de 40 instituições, envolvidos em 74 projetos dos quais fazem parte 355 Planos de ação.


Foi criado por iniciativa de dez instituições ligadas à pesquisa e ao café: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Epamig, Instituto Agronômico – IAC, Instituto Agronômico do Paraná – Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural -Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro – Pesagro-Rio, Universidade Federal de Lavras – Ufla e Universidade Federal de Viçosa – UFV.


As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com o apoio e o financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.

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